Thursday, December 13, 2012

Filosofando em dia de nevoeiro


o nevoeiro desce sobre todos
sobre tudo
não se vê nada, só vultos
a fugir sem pressa,
fantasmas a dobrar
as esquinas
de ruas assombradas.

nestas manhãs pardas
que mistérios nos esperam
no final da ponte
nas curvas da estrada
nas encruzilhadas?

o gato estendeu o corpo amarelado
no telhado
confundiu a luz cinza-esbranquiçada
da neblina e procurou o seu lugar
das manhãs de sol.

à socapa
o homem no supermercado
entretém-se a trocar os preços
dos produtos à venda.


Outono frio

caídas as folhas
uma a uma
o homem junta-as num montinho
arranhando o chão
em manobras lentas
de uma vassoura-ancinho.

o sol vai e vem atarantado
as nuvens arrastam o frio
talvez neve na serra.

Saturday, November 17, 2012

Vazio

ruas paradas
casas entaipadas
portas e janelas
escondidas por telas
brancas ou tijolos
casas em ruínas
as árvores a crescer
dentro delas
casas semi-construídas
os blocos à espera
na estrada
casas arruinadas
casas fechadas
por trás de panos pretos
ou papel costaneira
castanho-amarelado
casas esventradas
as ervas a engolir os buracos
das paredes pardas
desanimadas
janelas caladas
o gato sobre o telhado
arrenda-se
aluga-se
vende-se
aluga-se ou vende-se
o gato não sabe ler
vem sempre às horas do sol de Outono
aconchegar-se sobre as telhas de sempre
na casa abandonada.





Monday, October 22, 2012

O meu Pai.

O meu Pai tem oitenta e nove anos.
O meu Pai está velhinho.
Anda devagar com medo de cair.
Com medo.
Bem-humorado. A rir.
Histórias dentro da História da sua vida.
Sempre com mais um pormenor.
Com mais um matiz. Mais uma graça.
Mesmo nos momentos mais heróicos.
Ou menos. Ou mais tristes. Ou felizes.
Ou nem tanto.
Uma gargalhada não contida.
Anda ainda à procura da felicidade.
Agora diz que não sabe o que é.
Onde se procura. Quando. É feliz agora.
E depois? E ontem? Afinal é só um momento?
Ou uma fantasia? Ou um paradoxal tormento?
Está preso a si próprio. Escreve para escapar.
Comove-se.
O meu Pai continua todo janota.
Com gosto especial por gravatas. Azuis.
E com gosto por boa comida.
(Só bebe água quem apreciava o bom vinho.
Às vezes, permite-se uma cerveja sem álcool.)
E por boas companhias.
Pela nossa companhia.
E por palavras. O meu Pai gosta de palavras.
Um dia, as filhas escreveram-lhe um livro da sua vida.
Ficou emocionado, enterneceu-se.
Com a veleidade das raparigas
de quererem meter uma vida
tão cheia de grandeza numa meia dúzia de páginas.
O meu Pai transporta no seu corpo a geografia
da terra onde nasceu
das terras que percorreu
no seu sangue os mares e os rios que viveu
e na sua alma os sonhos por sonhar.





Sunday, October 21, 2012

Devaneios

Entrou a noite,
caminhou a noite por si dentro,
eu fico à tua espera.

Dou voltas nos corredores,
dou voltas na cama,
continuo à tua espera.

Espreito à janela,
vou à varanda,
apagou-se a luz dos candeeiros
(agora, à meia-noite em ponto
fica ainda mais noite)
a noite anoiteceu de tão escura.
Ainda estou à tua espera.

Ao amanhecer
voltará a luz
e com ela a lucidez:
espero uma quimera.

Friday, September 28, 2012

Outono

O Verão todo gastou-se em convulsões de sol,
já pressinto a garganta a atragantar
de cachecóis
os pés encafuados em meias
e sapatos bem fechados.

O homem de camisola vermelha isolou-se,
sentou-se nas coçadas escadas
da casa em ruínas, sem portas sem janelas,
sem telhado,
no meio do descampado tristonho,
pôs-se a ler um livro.

Os namorados agarradinhos aos beijos
o rapaz sentado no muro
a rapariga encostada a ele,
corre o Outono pela rua fora
e eles quedam-se em espantos mútuos
ignorando o céu cinzento.



Thursday, July 05, 2012

Namorados

o vento entrança enlaça os pensamentos
cabelos desalinhados
subimos a calçada nova
para o ponto mais alto
granítico

baixamos os olhos sobre a cidade
as mulheres sentadas
nos degraus gastos de séculos
à sombra
a entretecer vidas em rendas
com pequenas agulhas de croché

escolheram o banco mais cimeiro
os dois jovens
reis da cidade
a cidade a seus pés
o par de namorados
sentados
de costas voltadas à urbe
olhos vidrados no castelo
o vento enrolando
desenrolando os cabelos

as borboletas às voltas
entre as pétalas das flores silvestres
que sobem nas encostas
os séculos emaranhados
nas pedras de outrora
caminhos de outros tempos
o vento de agora

os enamorados
sentam-se
trocam segredos
no banco
no ponto mais alto
o vento enlaça enrola enrodilha
os cabelos.





Monday, June 11, 2012

Na cidade. A chuva.

na cidade
ruas desertas molhadas sombrias
correm fogem as pessoas nestes dias
penumbras dentro-portas de repente


o gato
sobre o telhado velho e ferrugento
sai a tomar ar e sol até vento
a aragem forte corre na rua em frente.



Saturday, May 19, 2012

Céu de Verão

céu de Verão
ruas quietas casas caladas
o gato no telhado à sombra
pela porta entreaberta
a novela
salta para a viela
as pombas
encostadas
às paredes
a picotear migalhas
sementes miúdas
não fogem
não voam
ficam por ali de bicos no chão.


Friday, May 04, 2012

Hoje chove

hoje chove
não já aquela chuva arrependida
mas chuva assim bem caída
directa direita à terra sedenta

na ponte
havia uns escritos uns sarrabiscos
umas palavras mal escritas uns riscos
um redundante amo-te amante






Tuesday, April 24, 2012

Tempo

Já vi fazer uma cruz em cada dia de um calendário
para marcar a passagem do tempo
ou rasgar uma folha por cada dia
ou arrancar a página por cada mês
agora ela marca os dias que fogem
que faltam que se evaporam
em cada comprimido
arrancado à embalagem
todas as manhãs
quando atira a caixa para o lixo
ao fim de um mês termina um ciclo
começa tudo de novo
parece que começa tudo de novo
não começa é uma ilusão da linguagem
sente um arrepio como uma aragem
do tempo a escapulir-se em corrente de ar...

Thursday, April 19, 2012

Abraço

Já reparaste? Anoiteceu.
Quando te encontrar
vou correr para te abraçar.
Com saudades da memória
de um amor que não aconteceu.

Monday, April 16, 2012

No parque. Chuva.

Que saudades eu tinha
de caminhar à chuva
limpar a alma
seca do pó dos tempos
caminhar nesta calma
sentir cada gotinha
que a terra suga
e as flores sorvem
ficar assim parada
as andorinhas em acrobacias
rasantes sobre o lago cinzento
quedar-me assim deslumbrada
a sensação de fresca liberdade
das crianças de sempre
de outros tempos e lugares
a chapinhar em cada poça encharcada
chegar a casa molhada
e os pés às gargalhadas...




Monday, April 09, 2012

No Parque. O pardal.

O pardal
mal
me pressente
fica um momento
quieto no ramo ainda sem folhas nenhumas.
Voa
da árvore sem ainda folhas nenhumas
despida
para o ramo da árvore florida
cheiinha de folhas verdes.
Esconde-se.
Vou andando
muito lentamente.
O pardal rodeia o ramo da árvore florida.
Camuflado, queda-se entre a ramagem.
Uma miragem.
Espera.
Espera mais um bocadinho.
Vou andando.
O pardal
encolhe-se.
Joga às escondidas.
Como quem ri.
Voa.
Para longe.
Como quem ri à gargalhada.
Malandro, ainda te apanhei.
Na fotografia!


Thursday, March 29, 2012

Tantas casas depois

a casa
a vida o amor
os sonhos
a simplicidade
apostaste a tua vida naquela casa
as desilusões
os pesadelos
os vizinhos
a vida de aldeia
as festas
os casamentos os baptizados
funerais nascimentos
no quintal houve a certa altura
a mó antiga
de um moinho ainda mais antigo
a servir de mesa
noutro ano nasceram os amores-perfeitos
mais perfeitos que jamais viras
nunca mais nasceram outros iguais
naquela casa entrou a certa altura
a tua filha, a tua força,
a luz da tua vida, a bússola no teu caminho
quando viste que não ia ser a casa para sempre
agarraste no que te sobrava de ilusão
e foste embora sozinha.


a casa dos teus Pais
era a casa dos Verões dos garotos
sabe sempre bem
porque os teus Pais estão ainda ali


a casa
a essa casa chegaste com uma trouxa feita de nada
a casa tinha uma varanda para o campo
e largas janelas altas na cozinha
gostavas daquela largueza
plantaste umas flores junto à janela
e acreditavas.
a casa não tinha culpa
chegaste sem nada
apenas tu
cada lanço de escadas era uma vitória
foram dias de espera
de desespero de mudanças
de inquietações de sobressaltos
de lágrimas e risos confusos
os Invernos foram frios e tristes
encontramos pessoas que nos entorpecem o caminho
o nosso purgatório
tempos de desesperança
de lágrimas de hipocrisias
criaste uma carapaça
tiveste insónias
foram tempos maus
e ainda muito piores
houve tempos de sorrisos
remendaste o coração
e aprendeste tudo de novo.



foram tantas as casas
as vidas
agora deixa estar essas paredes
esses móveis essas louças
não apagues essas memórias
são as memórias que construíste
nesses armários de vinte anos
onde guardas pratos desirmanados
os tachos de ferro fundido
talheres quanto bastem
nos móveis cada peça que guardas
tem uma história marcada
a porta do armário
da cozinha não fecha,
fica encostada
abre devagarinho
como se andasse um fantasma perdulário
por aí sozinho
não há fantasmas antigos
os fantasmas de agora
brincalhões, amigos
guardam-te a casa, esperam-te à entrada
quando sais uma temporada
mais prolongada
deixa ficar a lareira acesa
no Natal, nas noites frias
aconchega-te no teu canto do sofá
partilha a alegria
dessa vida que escolheste
sorve cada segundo
a um canto da estante
vive um despertador
entre as fotos nas molduras
e uns jarrões transparentes
as sardinheiras todos os dias
floridas evocam-te sorrisos
um cabaz de flores silvestres
debaixo da mesa do telefone
os galos cantam
a qualquer hora
ao longe
e ao longe tocam os sinos
as horas certas
deixa entrar o sol
enquanto despertas
segue os rituais
na rua lá em baixo
os inquietos pardais
procuram migalhas
na varanda desabrochou uma flor.
Esta é A casa.

Thursday, March 22, 2012

Ainda outra casa

a casa do andar de cima
numa travessa quase sem saída
tinha um sótão
e um quintal com um tanque
a tua Mãe gastou-se naquele tanque
também tinha um galinheiro ao fundo
havia sempre um quintal e um galinheiro
nas casas onde viveste
o quintal dava para um caminho estreito
era aí que havia as nespereiras
de um lado e outro
o caminho ia ter à rua dos combatentes
por ele ias ver a saída do futebol
e os jogadores da académica
o zé carvalho foi depois campeão
dos 400 m barreiras
morava lá perto
muitas vezes
estava à janela
o teu pai partiu
voltou
as paredes velhas
choraram a ausência
o chão encerado
a arca de folha ao cimo das escadas
o terramoto, uma vez houve um terramoto.



Monday, March 19, 2012

Mais uma casa

a casa um andar
no primeiro andar
hoje chamar-se-ia T3
tinha um quintal
um quintal que também era um jardim
e havia galinhas num galinheiro ao canto
para lá do quintal-jardim
era um descampado
o Salvador saltava os muros
e vinha conversar connosco
a tua irmã mais nova foi para a escola
pela primeira vez
esqueceu-se do porta-lápis
ainda a tua Mãe não chegara a casa
já ela estava lá à porta
à espera
a casa era nas Devesas
perto da estação do caminho de ferro
andámos de comboio todos os dias
para o liceu
era o rainha agora já não existe
o comboio atravessava a ponte devagarinho
fizeste muitos amigos no comboio
um dia o nome da tua irmã desapareceu
da pauta do exame
como tinhas anunciado
zangada
ficaste apavorada
pela premonição
nunca mais quiseste fazer isso
era muita responsabilidade
quem sabe hoje serias a maya
ficaste muito assustada
com medo dos pensamentos
na casa do lado morava a norinha
era diminutivo de Leonor
a tua prima também morava naquela casa
no andar do outro lado morava a D. Luísa
e no andar de cima já nem me lembro,
mas era aí que íamos (raramente)
ver televisão
(não havia televisões em todas as casas)
foi aí que Portugal ganhou à Coreia 5-3
e que a Madalena Iglésias foi à eurovisão,
aqueles anos passaram depressa
na ilusão de que aquela casa
seria casa para sempre, não foi.



Wednesday, March 14, 2012

Outras casas

a casa detrás dos montes

fria e vazia
do pão escuro e ázimo
sem luz nem calor
a casa que ficou para trás

a casa do largo
junto ao fontenário
cheia de janelas e sol
as portas vermelhas
(hoje pintadas de verde)
de vizinhos e lareira acesa
de neves, de gelos,
de escola e companheiros
de Verões, cereais, laranjas
e cantigas feitas de tabuadas
a casa do nascimento
da segunda e última irmã
a cruzinha, o Douro

a casa dos avós
de férias abençoadas e longas
quentes de milho cortado
de milho nas eiras
de uvas maduras

a casa longe
na fronteira
no fim do mundo
lá onde não há mais caminhos
só becos sem saída
de voltar atrás
de sombras húmidas

a casa grande
ao cimo das escadas
a porta vermelha
o quintal o jardinzinho
a tua irmã rachou a cabeça o queixo
a bola saltou para o telhado
a irmã do meio escondeu-se no armário do sótão
"saltou" um ano na escola
os pintos pavoneiam-se no galinheiro
com os patinhos amarelos
a imensidão o aconchego da lareira
as frieiras as mezinhas o pó de Maio
o susto o médico o remédio o alívio
a espreguiçadeira o armário antigo dos pratos
o frio, os nevões autênticos, a lenha a crepitar
o jogo do ringue os joelhos esfolados
a fonte o jardim o terço rezado
no mês de Maio à tardinha
nos Carnavais andam à solta os Diabos
deixaste esta casa numa madrugada de Janeiro:
nevava, céus, como nevava!!!



Saturday, March 03, 2012

Casas

a casa
a casa onde nasceste
no meio de quintais
ao lado do poço
a casa de passagem
na rua da nesga do mar
a casa da tua infância
a infância foi ali
(depois perdeu-se
não sei em que momento do caminho
encruzilhada
viagem
portal
casa
janela
lágrima
riso)
diante da baía
a baía vive também nos livros
a baía do Verão
da praia das barracas coloridas
às riscas
dos banhos no mar
dos polvos arrancados às pedras
das corolas azuis sobre os muros
das ervilhas-de-cheiro
a casa do nascimento
da tua primeira irmã
a casa do Inverno
o mar a entrar corredor dentro
o pai a lançar-se às ondas de Fevereiro
os pass(e)antes a vê-lo a nadar
encolhidos de frio
a praia de todos
a praia só nossa
as pequenas fugas
os pequenos desgostos
as tranças
o livro minúsculo do José do Egipto
(existe até hoje milhões de anos passados)
a irmã em convalescença
o Catitinhas as barbas brancas
a criançada
sentada na areia
a ver os robertos
a estação a automotora
que te levou do paraíso...


Tuesday, February 28, 2012

O gato

o gato escondido
felino
camaleónico
entre os tufos de erva
verde esturricada
da geada

pressente-nos

encolhe-se
enterra-se
os olhos espertos
estica-se
distende-se todo
sobre as patas traseiras

desviamos o olhar
um segundo
um mísero segundo

vai o gato todo ufano
cabeça de lado
a olhar de viés
a desaparecer
junto à casa em ruínas

juro que vai a rir-se...

Thursday, February 23, 2012

Noite

vinho
sobre a mesa
copos
corpos
a lareira acesa
a noite estrelada
lua
ânsia desenfreada
chuva

Saturday, February 11, 2012

Alma

inquietam-se os corvos
num voo de lusco-fusco gélido
pérfido.
sob um céu azul-frio,
a alma desmantelada
junta os pedacinhos
num abraço.

Thursday, January 26, 2012

Chávena

junto de outras chávenas,
penduro a chávena branca com flores azuis:
fica a tinir música num riso muito fino.

o sol atravessa a vidraça,
as sardinheiras vermelhas florescem,
os pássaros andam estouvados em círculos.

Thursday, January 12, 2012

Tempo

tantos sóis passados
as luas em mil crescentes e decrescentes
novas e cheias
a água a passar por debaixo das pontes
as ribeiras secaram nos leitos cansados
pontes caíram esgotadas e frágeis
ajoelharam nas lajes das igrejas os crentes
em orações mágicas, fantásticas panaceias
eclipsaram-se umas atrás das outras as primaveras
as neves acumularam-se no alto das serras
escorreram pelas encostas em delírio,
deram de beber às nascentes
vieram e partiram outonos de folhas caídas
e os verões ganharam-se e perderam-se
como areia escapulindo-se por entre os dedos
vivemos vidas mais que as que esperávamos
entre paredes vazias caiadas de medos
e esperanças arrancadas a ruas de alegria
caímos umas tantas vezes mas sobrevivemos
andámos à procura da harmonia dos deuses
ainda andamos à procura andaremos sempre,
na balança, as impossibilidades e as ilusões
desequilibradas as forças, os ganhos, as perdas,
cruzaram-se e descruzaram-se os caminhos
em mil e uma voltas até ao fim do labirinto,
já não somos os mesmos, não estás à minha espera
na praça onde os pássaros se perfilam nos fios,
nem eu te escrevo poemas inconsequentes,
continuamos a ouvir canções à beira dos rios,
a sonhar chuvas e sóis em românticos poentes,
a desconstruir estradas nos céus desconhecidos,
ninguém colheu as amoras à beira da estrada
no verão passado e agora mirraram da espera,
sob a neblina, o musgo verde cobre as pedras,
ainda suspiramos perante o arco-íris completo,
bate forte o coração ao sentir na boca
o sabor antigo de pêssegos verdadeiros
e, junto ao mar, a alma baloiça entre loucas
tempestades e a bonança (in)esperada,
somos capazes de tudo, outras vezes de nada,
queima-nos o sol, tolhe-nos o frio,
sacudimos fantasmas, viramos páginas,
sofregamente, bebemos as noites, os dias...
agora, cai a tarde, nasce a ternura...