Saturday, December 30, 2006

Tempo em mudanças




























O Sol nascia
Cada dia
A oriente
Como sempre
Atravessava
A transparência
Do ar azulado
E chegava
Na essência
Intacto
Sem sopro
De aragem…


Agora tenta
Sem graça
Furar a carapaça
Do nevoeiro
Reposteiro
Cinzento
E denso
Gotículas
Partículas
De água lenta
Um logro
Na paisagem…

Friday, December 29, 2006

Ponte pedonal


À esquerda desta ponte pedonal em construção, situa-se a C+S de S. Miguel ( Guarda) . Passaram-se anos, anos e anos, desde a construção da Escola. De repente, nestes últimos dias tem sido uma azáfama incontrolável para pôr de pé a dita ponte, enquanto o enorme placard de uma rotunda mais abaixo continua a marcar 80 segundos para o final das obras do Pólis , do Rio Diz, obras que parecem não ter fim!!! ...à vista! Afinal, ainda devia haver para aí uns trocos para obras!!! Desejo que haja peões a usar a ponte!!! É que a maioria dos alunos da Escola ou utiliza o autocarro ou chega de carro. Outros peões andam mais a pé no Verão, em caminhadas infindáveis, em rancho... Isto sou eu , sempre de pé atrás! Mas, enfim, algo es algo...

Tuesday, December 26, 2006

"Magusto da Velha", Aldeia Viçosa ( Guarda)







Tradição do século XVII, o "Magusto da Velha" em Aldeia Viçosa, concelho da Guarda, data de 1698. Uma Velha ( uma mulher abastada, de que ainda não se conhece o nome) deixou à freguesia uma herança de 24 escudos e 60 centavos. Esta herança permitia ( permite) ao povo, no dia 26 de Dezembro de cada ano, comer castanhas que, lançadas da Torre Sineira da Igreja Matriz para o adro, são assadas no fogo do Natal. Em troco, a Velha exigia que, um dia ao ano, o povo lhe rezasse um padre nosso.



As «cavaladas» tinham por objectivo impedir que uns apanhassem mais castanhas que os outros.
( Livro de Usos e Costumes da Igreja do lugar de Porco - Ano de 1698)

Entre o Natal e o Ano Novo

Anda tudo na ressaca. Da bebedeira de presentes, da festa, da comida e das bebidas, de vários gerações juntas, num emaranhado de conversas e cantigas e trocas e novidades e fotos... Da casa cheia, começa pouco a pouco a sentir-se uma vaga nostalgia, quando se preparam uns e outros para partir mais uma vez com malas e sacos. Sentam-se à lareira os que ainda vão ficando, numa modorra peganhenta, enrolam-se as palavras preguiçosas e os risos por tudo e por nada mais por nada que por tudo, de peripécias recentes às mais longínquas em historietas-passagens de vida...

No tempo em que o Menino Jesus punha as prendas no sapatinho

Era uma menina de cinco anos, magrinha, alta para a idade, esguia, de tranças bem desenhadas. Vivia numa casa caiada de branco, caixilhos das janelas e portas verde-garrafa, frente ao mar. E tinha uma irmã, mais pequenina, moreninha e linda.
No Verão, no pequeno jardim, as ervilhas-de-cheiro erguiam-se em vaidosas cores suaves e um perfume singular alongava-se até à praia. Sobre o muro arredondado, pendiam trepadeiras de campânulas azuis.
No Inverno, o mar batia insistentemente à porta e se , descuidado, alguém a abria, ele entrava sem cerimónias pelo corredor fora em passinhos molhados e escorria, depois, porta fora, devagarinho.

Para ler o conto completo, usar o link do CONTOLIVRE ( ao lado) , sítio onde foi publicado, em primeira mão e para o qual foi propositadamente escrito.

Thursday, December 21, 2006

Bom Natal

No Natal, eu apenas quero
A minha princesa junto de mim
O meu amor a querer-me assim
Perdidamente como no soneto…

Quero a minha Mãe embrulhada
Num xaile fofo e quentinho
O meu pai lê o seu jornalinho
Antes da conversa animada.

A tia mais nova toda elegante
Abraça os queridos sobrinhos
A madrinha enche-os de mimos
Com ternura exuberante…

Se traz a viola , alegre, canta
O tio sempre muito bem falante
Passa pelas brasas um instante
E o cão enrosca-se na sua manta.

Chega a hora das refeições
Verte-se muita conversa fiada
E, no meio de grande algazarra,
As prendas abrem-se em canções…

Só quero uma coisa fantástica
Na nossa casa, neste Natal,
Que estejam todos, tudo igual,
Não quero mais nada de especial!!!


BOM NATAL...
Para todos os que me visitam (quase) todos os dias,
que sentem a minha falta e de quem sinto falta,
para os que me visitam só às vezes,
para os que me visitam só de passagem,
para os que nunca me visitam...

Wednesday, December 20, 2006

Abaixo de zero


Rasga os sentidos
Um ar de cortar à faca
Na corrente
de vento brutal
Junto à Catedral…

Os passos perdem-se
No granito gelado
Os ombros encolhidos
Escondidos
No meio do frio…

Os lábios gretados
Fechados
Da aragem campestre

agreste!

As luzes de cores
Espalham
Estranhas flores
Pela cidade …

Sob o sol frouxo
Brincam pardalitos
Pequenitos
Saltitantes …

Seca
a pele dorida
Estremecida
Um ar constante
Cortante
Pelas ruelas
E vielas.
Por cima um céu
Branco escorrido
Sem alarido…

Tuesday, December 19, 2006

Prenda de Natal














Eu quero adormecer nesta preguiça,
Cobrir-me dos fiapos da neblina.
E quente, no aconchego dos meus sonhos,
Acordar com as lágrimas dos campos,
As primeiras vertidas num novo dia.

uma prenda de Natal que me foi deixada um dia destes por JPG de OSINODAALDEIA .

Saturday, December 16, 2006

Quarto com janela

Enquanto acendo a lareira, estás tu sentada num parque a apanhar uns raios de sol outonais a um dia de distância e a pensar no rumo da nova fase da tua vida. A tua voz soa alegre, descontraída, tranquila. Até já dormiste as últimas noites, muito cansada, mas calma. Até aqui, andavas com um aperto à entrada do estômago e o estômago num punho. Subia-te até à garganta um nó indizível. Cortaram-nos há muito tempo um cordão que nos unia, mas continua a ligar-nos uma força misteriosa e eu sabia dessa angústia que a minha impotência não afastava de ti a não ser por palavras. Encolhiam-se-me as paredes do estômago e apertava-se-me a garganta, escapulia-se até aos olhos um ligeiro ardor de lágrimas. Mas sabia, porque me ensinaste a serenidade e eu te espicacei a lutar pelo teu querer e pelos teus sonhos, que afastarias as sombras, respirarias fundo, levantarias a cabeça e sairias à procura. Doíam-te as pernas e a coluna de tanto calcorrear as ruas de uma cidade que te atrai, de entrar e sair das estações do metro, de falar com gente-cidadã do mundo, de procurar, procurar, procurar. Sozinha. Fechava-se o círculo e escapava-se o tempo. À noitinha, tinhas novidades felizes na voz, não te cansavas de enumerar as qualidades da tua nova casa, o quarto com janela, o pátio… sobretudo o quarto com janela (parece ser agora um luxo em certos lugares) …Tinhas um quarto com janela numa casa bonita bem situada, a dois passos de um cinema e de três linhas de metro e eras dona do mundo inteiro. Era noite e estavas longe, mas falavas como se nos pudéssemos abraçar e estavas feliz, porque tinhas encontrado, depois de tantos passos, tantas horas, tanto desencanto, um quarto com janela…e querias partilhar essa janela que te fazia tão feliz… Chegou então a hora do descanso, pudeste dormir, sem horas marcadas, com o coração leve e, de manhã, sair para a rua, apenas a passear na cidade que vai passar a ser a tua cidade no novo ano. Já com convites para sair “de copas” e para jantar com amigos recentes…
Não tarda nada, regressas de avião, para tratar de alguns assuntos ainda pendentes e para as festas de Natal connosco, com os avós e tias e tios e primo, desta vez cão incluído na lista…
Eu, depois de ter palmilhado, a teu lado, invisível, as ruas que desconheço numa cidade nova, fico, como sempre, à tua espera, que quero saber pormenores da tua janela do quarto…
Até logo, minha Princesa!

Friday, December 15, 2006

Frio


A claridade transparente e nua do crepúsculo cola-se estática e crua ao azul desbotado
da tarde gélida.

O horizonte rosado do lusco-fusco contorna o nevoeiro algodoado que se escapa entre montanhas.

Entrada a noite, os abetos recolhem nas suas folhas as gotículas geladas da neblina que desce das serras. Adormecidos, permanecem vidrados até ao nascer do sol.

Sunday, December 10, 2006

Reflexos


A noite
gelada
a geada
cobre
de branco
o campo
os montes
o sol
lança
os braços
em abraços
preguiçosos
ansiosos
pelos vales
lacrimejantes
das chuvas
pelas encostas
rochosas
chorosas
de ventos
o sol
afoga-se
em reflexos
nas barragens
nos rios
nos tanques
perplexos.


Saturday, December 09, 2006

Ventania


Desceu da serra, pelas encostas, numa correria endoidecida, o vento gélido. Silvou pelos desfiladeiros, com perfume de neve. Arrastou nuvens cinzentas e brancas, carregadas de granizo e chuva, despejadas sem cerimónia.
Num caprichoso movimento, afastou as pedrinhas redondas e brancas como camarinhas e resgatou o sol para o esconder atrás de uma cortina de nuvens…
A noite caiu com estrondo negro sobre as casas. À janela, brilham estrelas cintilantes. O frio enrosca-se à lareira.

Tuesday, December 05, 2006

Mar


A noite apoderou-se da tarde , sorrateira , ali, num momento, junto às ondas do mar a quebrarem naturalmente na areia da praia.
Quedámo-nos sentidamente na varanda dos pensamentos em recolhimento, numa oração inabitual em honra dos deuses que conceberam estes instantes. Só para mim. Mesmo que apenas tenha restado desse tempo, no início da noite, sobre o tabuleiro, um artístico ramo de rosas. Inventado para mim.

O mar quebra e requebra em ondas, som e espuma. Os grãos de areia, indiferentes, desprende-se da sola dos sapatos.

Uma televisão continua a falucar uma linguagem monótona, incompreensível e desatenta, marcando um sono passado pelas brasas. Um telemóvel choca a calma semi-silenciosa com palavras de longe.

E o mar quebra e requebra, enfeitiçado, em espuma sobre a areia da praia.

Monday, December 04, 2006

1º de Dezembro


Serviu-se um pequeno almoço-surpresa numa mesa redonda. Em frente, o mar. Ponto de encontro inesperado.

Passeio de botas enfiadas na areia deixado o rasto do salto fino e o encruzilhado dos ténis marcados sem data numa brincadeira de adultas-crianças de ontem e de amanhã: os sentimentos, os olhares e os risos permanecerão entre gerações.

Caldeirada alegre a meio-sal condimentada de espantos, de ondas do mar, de sol e calor quanto baste, regada a Monte velho branco fresquinho juntou à mesa do almoço corações unidos pelo sangue, pela estrada e pelo destino.

Assinaladas as sombras no passeio e as pistas nas areias da praia, as palavras entrecortaram-se de risadas desconexas ao som das velas acesas. A Mãe , de poucas palavras, declarou-se feliz. O Pai, felicíssimo, fez um brinde. Corriam junto com o champanhe mil e uma recordações de mais de meio século e a tranquilidade e a sabedoria do tempo inevitavelmente fugidio. Transporto os episódios de que todos se lembram e os outros que quase ninguém recorda como se tivéssemos vivido ao lado uns dos outros em universos, às vezes, apenas paralelos, o que provoca espantos variados de impossibilidade.

Tarde


Alguém pintou um quadro de fogo ao entardecer.

Tuesday, November 28, 2006

Virtual

Meto-me aqui no cantinho do computador, bem acomodada e entro no mundo virtual. Abro a caixa do correio ( as caixas do correio) e irrito-me quando a encontro cheia de publicidade e fico contente com muitas mensagens, tal e qual como quando abro a caixa de correio normal verde antes de subir as escadas. Sigo para a Biblioteca, para o Arquivo ou passo pelo quiosque dos jornais para ler, pelo menos, os títulos da primeira página. Visito as palavras e as músicas deixadas por umas tantas pessoas nos seus blogues. Assim como quem entra no café a fazer uma saudação, sem sair de casa. Vejo as montras e vou às compras. Mas do que eu gosto mesmo muito é de estar aqui neste sossego e ver chegar pelo canto do olho um quadradinho que sobe pelo ecrã do computador , aqui mesmo do meu lado direito, um quadradinho com uma figurinha que pode ser um cão, um grito ( o do Munch) , um vaso de girassóis, uma mãozinha cheiinha de pulseiras, uma foto… Por vezes, entra-me em casa uma pessoa feliz por me encontrar, outras vezes, chamam-me aos berros para eu as ver, outras vezes, chegam de mansinho, pé ante pé para me pregarem um susto… e pomos a conversa em dia, fácil e rapidamente. Rimos e enervamo-nos e protestamos, escrevemos e , sobretudo, rimos muito. Espantamos as pessoas ao nosso lado, no sofá, a ver televisão que, antes de perceber os motivos das gargalhadas, achavam que estávamos mesmo a endoidar. O caso não era para menos, com tantas novidades de pôr os cabelos em pé, em particular na nossa vida profissional. Mas agora já esclarecidas, sabem que nos entrou pela casa dentro alguém que não está visível. Presente e invisível. Quem haveria de dizer?!!!
Claro que nada disto substitui as viagens reais aos lugares verdadeiros com pessoas de carne e osso. Mas aconchega o coração.

Monday, November 27, 2006

807º aniversário ...




807º aniversário da atribuição do Foral à cidade da Guarda... por D. Sancho I.

Eu prefiro lembrar o Rei Poeta:


Ay eu coitada! – Como vivo,

en gran cuidado por meu amigo

que ei alongado. Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!


Ay eu coitada! Como vivo

En gran desejo por meu amigo

que tarda, e non vejo! – Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!

Tuesday, November 21, 2006

Fantasmas

Foto: Ciudad Rodrigo ( Espanha) , domingo, 19/11/2006, Plaza Mayor, onde acontece Teatro Medieval todos os sábados e domingos.


Acabrunhada sob uma carapaça de nevoeiro passa a manhã, de lado para lado, sem poiso nem destino.

Descendo, subindo escadas, entrando, saindo portas, conversas destoam, repetidas, massacrantes, entediantes.

Numa feira de gentes insatisfeitas, mas acomodadas, obedientes, fechadas atrás de fachadas, quietas, olhos encolhem-se, atrás de cortinas imaginárias, opacas, medrosas.

Vozes rasteirinhas, melífluas, envenenam o ar fumarento empurrado pelo vento frio.

Branco-sombra, o nevoeiro entranha-se nos ossos das pessoas pequeninas, minúsculas, envoltas num halo de fantasmas.

Marca o tempo uma canção velha, dentro da cabeça, para cá e para lá, a (des)compasso sem ritmo nem letra, numa cadeira de baloiço despropositada.

Janelas de bocas abertas, escancaradas, portas desgarradas, sem trancas, abrem-se no caminho dos céus, numa vertigem de vidas antigas, engolidas na voragem passageira dos séculos.

Arrastam-se os pés no lajedo escorregadio, acorrentados aos passos.

As luzes, embaciadas de chuvinha lacrimosa, afastam-se até ao invisível.

Na varanda-marquise, cora de vergonha uma flor despudorada de uma sardinheira.

Sunday, November 19, 2006

Às voltas nas voltas da vida




Fazia-se uma viagem de comboio para fins de semana familiares e levava-se uma amiga. Desta vez, a Isabel H. Passeámos por Ciudad Rodrigo de máquina fotográfica em punho e, com o folheto turístico na mão, tardámos em compreender, depois de cirandarmos à volta da Catedral voltas sem conta, que uma porta importante a observar se encontrava pelo lado de dentro de uma entrada. Por essa altura, já o cansaço e a sede se tinha apoderado de nós. Nenhuma se lembra já do pórtico, mas eu não esqueci essa tarde de Verão, as gargalhadas fáceis e a camaradagem.

"Cortaram o Outono aos pedaços"


Eram jovens, tinham sonhos.
Estavam apaixonados e o coração expandia-se em ilusões, solidariedades várias.
Eram jovens e estavam apaixonados. Por seus amores, pelos amigos, pelas ideias, pelo sol e pelo céu. Era possível alcançar a Lua. Marte e Vénus planetas atingíveis.
Tinham sonhos. Todos possíveis. Urgentes.
Estavam apaixonados. Por risos, pela juventude, pelas crianças, pelos velhos.
Era Coimbra dos amores de Pedro e Inês.
O André, também apaixonado, escreveu um dia: “ Esta tarde cortaram o Outono aos pedaços”.

Saturday, November 18, 2006

Ainda "o monstro" leia-se TLBES leia-se Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário leia-se terminologia de uma experiência linguística

Ler com atenção:

1. " Ainda o monstro" , da autoria de Helena Matos in " Público" de 18/11/2006

2. http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDMateriaisDidacticos/trabalhos/90_Lusiadas_3C.ppt

- ver para crer -

indicação esta que me chegou via a minha amiga Soledade http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/ , este blogue digno de se ler pela sensibilidade e alma de poetisa ( eu uso o feminino de poeta sem lhe retirar competência) e pelo belo poema e música do post de 15/11/2006, LELIADOURA. (Parafraseando um outro poema cantado "onde andarão os poetas galegos e portugueses de agora"?)

Nota: esta pista - poema e música - poderá servir de inspiração a um músico professor português ( e de Português) que fala espanhol e francês , homem sem fronteiras e sábio como poucos ...

e a uma "vareira" musical de Espinho, de nome "é do nosso mar " sita em http://vareira.blogspot.com/ com cheirinho a maresia, a poemas e música...

... e ainda à mana do meio , se ainda puder dar nas suas aulas um sopro da poesia trovadoresca, com o dinamismo e o sentimento que lhe conheço. .. a não ser que tenha que se (des)gastar com a TLEBS!!!

Thursday, November 16, 2006

Manias


Tinha uma mania . Sempre tive esta mania. Agora menos, mas, de vez em quando , descuido-me e trás! ponho-a em prática. Quase nunca dá bom resultado. Mas que eu fico bem comigo mesma, isso fico. Tinha uma mania: dizia tudo o que me vinha à cabeça. Com o coração ao pé da boca. Era um aborrecimento. Não para mim, para quem ouvia, ninguém gostava, acho que ainda ninguém gosta de ouvir as opiniões francas e abertas. Quanto mais à vontade me sentia, mais sinceridades me saíam, muitas vezes, em forma de ironia, que ninguém percebia. E o que podia ser uma amena cavaqueira transformava-se num digladiar de argumentos que me esgotava, porque nem sequer davam às minhas palavras o sentido que eu lhes atribuía, inventavam segundos, terceiros, quartos, quintos e sextos sentidos que eu até ficava siderada. pensava eu, com uma ingenuidade impressionante que, se explicasse tudo tim-tim por tim-tim muito bem explicadinho ( deformação profissional) , tanto malentendido se esclarecia. Puro engano. Arranjava um sarilho ainda maior. Então, com o tempo passante, fui-me vigiando, fui vigiando as palavras, escondendo opiniões, remetendo-me ao silêncio, no meu canto, observando, pensando mil vezes antes de falar. Puxava-me a minha filha o braço, como se faz às crianças pequenas ou dá uma entoação à voz de doce raspanete, a dizer-me que não ganho juízo. Às vezes, baixo a guarda e, antes de contar até mil, lá pela octingentésima septuagésima quinta vez, falo. Rápida. Contundente. Rotunda. Detestam-me, mas calo logo as pessoas. Da surpresa. Depois , rio-me comigo própria. Por não ter juízo nenhum, meto-me nisto como uma brincadeira de crianças. Remeto-me outra vez ao silêncio. Durante muito tempo. Exercito as minhas piadas com a minha filha, com a minha irmã do meio... com algumas pessoas perspicazes. Muito de vez em quando, volto à carga, esqueço-me. Falo. Rotunda ( palavra que, além de significar, por exemplo, sendo substantivo feminino, construção de forma circular, também significa decisivo, categórico, empregado como adjectivo... explico, por via das dúvidas... não sei é se o nome " rotunda" é animado ou não animado...porque os carros à sua volta circulam sem cessar que é uma animação pegada, sobretudo em horas de ponta!!!). Irónica. Mas acrescento a correr, ao ver as caras de espanto: "estou a brincar" e sorrio , um sorriso pateta, por ter que explicar uma frase irónica , tão evidente para mim. E dou comigo a pensar que afinal , ultimamente, tenho repetido vezes sem conta que "estou a brincar". Ando a repetir-me muitas vezes. Não sei se me cale de vez, se me deixe de ironias. Mas a ironia é estética e usada por pessoas inteligentes. Então, talvez, digo talvez, continue a falar. Devagarinho. Baixinho. De vez em quando. Com ironia. E , se ninguém entender, falo para as pedras. O outro não falava para os peixinhos?

Saturday, November 11, 2006

Assim vão as obras do "Pólis" (Rio Diz - S. Miguel, Guarda)







Este é o painel/relógio famoso e estético , a marcar 80 segundos para o final da obra. ( Já nem se pode viver sem ele.)
Estas são algumas das obras que vão demorar 80 segundos a terminar... desde há não sei quantos meses, mais de um ano seguramente.
Este é o arco-suporte muito elegante e fantástico de uma ponte pedonal que há-de ficar encarrapitada sobre aquele. Não se sabe quando . Logo que acabem as obras, eu aviso.
Atenção: os adjectivos a qualificar o relógio e o arco são ironia pura... Esclareço, não vá alguém menos avisado achar que eu estava a usá-los no seu sentido literal. É que há gente para tudo!!!

Não fui eu que disse... "o monstro chama-se TLEBS." Mas tenho pena de não me ter lembrado disso.

« O monstro chama-se TLEBS. Para memória futura convém defini-lo desde já como o maior contributo dado por Portugal para a iliteracia das gerações futuras.»
Helena Matos, in "Público" de 11 /11/2006

Friday, November 10, 2006

A Primavera está a chegar???


Outono com cara de primavera.
Céu azul com nuvens esfarrapadas e formas bizarras.
Nem o cheirinho apetitoso das castanhas,
nem uma aragenzinha fresca no rosto,
só greves a desgosto...

Thursday, November 09, 2006

Wednesday, November 08, 2006

Telepatia

Fomos numa viagem-relâmpago ao Porto ver a Mãe. No caminho, disponível de espírito e do olhar, entremeadas as conversas e os pensamentos, pensei enviar uma mensagem. Nos segundos seguintes, toca o telemóvel. O nome no visor surgiu telepático e intermitente. Atendi , ouvi a voz e fiquei tão pasmada que a minha própria voz saía arrastada de incredulidade. Já me aconteceu, várias vezes, um pensamento assim, que se concretiza a seguir, sem que eu faça nada... mas reajo sempre da mesma maneira. Pasmada. Já nos encontramos no "messenger" em vez de trocarmos telefonemas, cartas ou irmos até ao café, mas estas experiências, embora me tragam quase sempre alegrias, mexem comigo, e ainda estremeço de certas coincidências escritas sabe-se lá em que patamar das nossas vidas. Ainda por cima, sem bateria, ficámos a meio da gargalhada e da ocorrência do dia, do reconhecimento de que a internet é mesmo uma grande estrada, é imparável e é incontrolável. Para o bem e para o mal, como todo e qualquer invento, funciona.
A Mãe lá estava, débil e queixosa, no cantinho do seu sofá, estremeceu-lhe a voz, quando nos viu. Animou-se e conversou. Destes dias. Doutros dias. De dias de há muito. O Pai enlaça as peripécias da sua vida construindo redes de estórias e episódios infindáveis, como se nunca tivéssemos saído de junto dele, na mesma cadência entusiasmada com que as viveu. Agora pensa que precisava de ter dinheiro para contratar uma secretária e conseguir escrever tanta vida.
Rumo à auto-estrada, erguia-se lá para os lados de Espinho, para as bandas do mar, um sol vermelho-cereja, enorme sol-poente redondo impressionante riscado de umas nuvens cinza-escuras. Sem hipótese de o fotografar, abandonei-me ao deslumbramento do fim de tarde naquele quadro impressionante, afastando-me na velocidade dos 120. A noite ainda nos apanhou no caminho.

Tuesday, November 07, 2006

Portugal


Portugal
à luz da TLEBS ( "nova"??? Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário)
nome próprio
não animado
não humano


Eis a verdade na Gramática!!!

Saturday, November 04, 2006

A Minha Mãe


Penso muitas vezes na minha Mãe, em particular, quando ela está doente. Não penso nela velhinha, sentada no seu sofá ao cantinho da sala ou à porta à espreita de quem parte e de quem chega. Penso na mulher de vinte anos da foto, provavelmente a primeira foto que ela tirou. Vinte anos de uma beleza entre serena e altiva, como uma princesa, rosto de uma beleza sã e escorreita. Apenas lavado com água da fonte. Cabelo penteado para trás, com umas ondinhas e apanhado, na nuca, com uma rede. E uns brincos-lágrima nas orelhas.
Penso na mulher da foto. Saiu da casa na aldeia perdida no Douro e andou por terras que ela nem imaginaria que existiam. Nasci eu e assim ficámos ligadas para toda a vida.
Penso na mulher da foto. Na severidade e distância que a separavam de nós. Fruto da responsabilidade. Vejo agora que esse rigor derivava da juventude e da educação. Às vezes, andava bem disposta, outras vezes pesava-lhe, com certeza, o aborrecimento e a solidão. As tarefas repetidas todos e cada dia. As refeições, a roupa, a casa. Andar de terra em terra. Fazia amigos hoje e amanhã tinha que se despedir deles… E a casa, a roupa , as refeições. O marido e as filhas, a partir de certa altura, iam e vinham ao sabor dos horários do trabalho e da Escola para almoçar e para se meterem nos quartos a estudar e a ter conversas de meninas, risadas de jovens e para voltarem a sentar-se à mesa à hora do jantar. Quando a queriam meter nas conversas, já ela se tinha ensimesmado, farta de cumprir os horários dos outros. Estava sempre ali. A qualquer hora, quando saíamos e quando entrávamos em casa. Ria , às vezes, outras vezes, receava o eco das gargalhadas. Proibia a felicidade, sem mais nem menos. Se calhar, quando as circunstâncias afastaram o marido de casa, culpou-nos por não ter consigo o seu companheiro. Outras vezes, esses afastamentos temporários, davam-lhe outro ânimo, outro poder de decisão e tudo corria às mil maravilhas.
Penso na mulher da foto. Eu nunca quis aprender com ela a costura, os bordados e o croché. Escapava-me sempre, porque não me sentia com grande habilidade e não queria zangar-me com ela, sempre a corrigir qualquer veleidade em qualquer andança. A minha mana do meio sentava-se com ela no quartinho de costura e passavam horas naquilo de coser e fazer roupa e ainda hoje esta mantém essas inclinações manuais, que executa, se se dispuser a isso.
Penso na mulher da foto. Era aquela a vida que ela quis viver? Que mistérios guardarão os seus pensamentos? As suas memórias? Que pensará de nós? Guardará alguma boa lembrança? Ou continua a julgar-nos com rigor e altivez? Saberá que me lembro daquele dia de rigoroso Inverno em Lagoaça? Tinha eu nove anos, fui levar o almoço ao meu pai, que andava com uns amigos a cortar um castanheiro para lenha. A neve cobria os caminhos. Já a ida me custara imenso, parecera-me longe, muito longe. À vinda , o frio atrofiara-me o pensamento. Só queria chegar a casa. O caminho alongava-se, interminável. Já não sentia as mãos. Os pés moviam-se maquinalmente. Apetecia-me chorar. A porta de casa não se aproximava nem por nada. Quando a minha Mãe me abriu a porta, chorei que nem uma desalmada. A minha mãe levou-me para junto da lareira. Pegou numa fralda da minha irmã pequenina, aqueceu-a e colocou-a sobre as minhas mãos, repetidamente até que o sangue começou a afluir de novo àqueles dedos pequeninos. Isso aconteceu porque ela estava sempre lá.
Muitos anos mais tarde, era Verão e eu acabara de saber o resultado do último exame da Faculdade. Estávamos as duas com a minha irmã mais nova, à porta do Liceu Infanta D. Maria. A minha irmã chegou radiante do último exame do Liceu. Guardei esse momento de sol e comunhão. Será que ela o viveu como eu? Mas vivemo-lo juntas porque ela estava sempre lá.
Penso na mulher da foto. Olho para as mãos da minha Mãe, com os ossos todos torcidos. E lembro-me dela agarrada àquele tanque a lavar a roupa. De Verão e de Inverno.
Assalta-me uma sensação estranha, quando penso que ela bem nos poderia ter dito que gostava de nós. As pessoas precisam de ouvir as palavras. Se calhar , a ela também nunca ninguém lhe tinha falado dessa necessidade. Pensaria que só era importante ter a comida na mesa, a casa limpa e a roupa lavada.
Se calhar, bastou-nos que ela estivesse sempre lá, como ainda hoje, quando chegamos a casa. Se calhar…
Um dia , houve o acidente de comboio. Quebrou-se-lhe o brilho e a postura de princesa. Nunca mais foi a mesma. Mas essa época , já a vivi de longe, escapou-se-me entre as pregas da vida.
Tocamos à campainha e ela está sempre lá.
Penso na mulher da foto. Parece mentira, mas é a minha Mãe.
Que pensará de mim a minha filha , se eu chegar a ser velhinha?

Wednesday, November 01, 2006

150 anos dos Caminhos de Ferro






















Os 150 anos dos Caminhos de Ferro em Portugal trouxeram-me à memória as minhas viagens de comboio. A automotora vermelha e branca de S. Martinho do Porto, as deslocações das férias grandes de qualquer sítio onde nos encontrávamos até Aregos ou Mirão ou Ermida, e regresso, com o ritual da contagem dos volumes todos não sei quantas vezes pelos meus pais. As viagens de um lado para o outro, traçado no nosso itinerário de vida. Os volumes eram as seiras, as cestas, as malas e as crianças, nós próprias, primeiro duas e , depois, três. Os volumes tinham vida própria , além de serem contados e recontados como soldados nas estações e , posteriormente, já dentro das carruagens. A minha mãe entrava primeiro com as crianças e o meu pai, do cais, passava-lhe pela janela grande, larga, escancarada os volumes todos um a um. Agora não se podia ter feito isso, que são todas superfechadas. Só depois , entrava ele, numa confusão de vozes, gestos e gritos no meio da Estação, espectáculo digno de ser visto. E a viagem começava, continuava até ao destino envolta em mil e uma peripécias.

As crianças cresceram e andaram em outras viagens.
Onde estavam elas há cinco anos?

Tuesday, October 31, 2006

Verão solto aos pensamentos...

O S. Pedro endoidou, trocou as datas, as estações do ano, não há quem o entenda. Antecipou-se ao S. Martinho, atirou-se de cabeça e tratou de colocar o Verão , mais Verão do que se fosse S. Martinho, pelos Santos. Para contentar os Santos todos.
Anda tudo a retirar as mangas curtas dos armários para onde tinham sido exiladas até à próxima que chegou mais depressa do que se contava...
Não vai durar, com toda a certeza, mas dá bem a ideia de que a confusão não passa só pela ordem não estabelecida cá da parvónia... tudo muda, tudo gira, e se põe em causa... embora haja gente, muita gente que acha que tudo é eterno e mutável apenas ao sabor dos seus desejos e arrogâncias...
Alarmados andam os cientistas todos com as mudanças climáticas, mas ninguém, nenhum deles prescinde das suas comodidadezinhas comezinhas pequeninas como qualquer um.
Em Espanha, querem penalizar as pessoas e famílias que gastem mais de 60 litros/pessoa, pelo menos tentam fazer algo de concreto. Aqui, por exemplo, em Coimbra, em vez de exigirem que os cidadãos utilizem os autocarros que pretendiam retirar do meio da cidade tanto trânsito, como andam vazios, não se encontrou outra solução senão acabar com eles. Assim , vamos longe, muito longe...
Não vi os Prós e Contras desta semana, passei por lá num zapping rápido e vi, dum lado, uma senhora com belo penteado e rico vestido às bolas com os seus congéneres. Do outro lado, não havia ninguém com vestido às bolinhas, o que não deve querer dizer nada. Ainda não percebi porque tanta gente se sente habilitada a dar lições de moral ou de vida a outra tanta, de um lado e de outro.
E os homens porque querem eles decidir num assunto de mulheres, se , normalmente, não querem decidir sobre (quase) nada que lhes diga respeito? Aliás, que decisões têm eles tomado ao longo dos tempos?
Num anúncio da televisão sobre uma marca de detergente que pretende aconselhar a poupança da água ( e isto não tem nada a ver com as bolinhas nem com lições de moral, mas podia ter) , a voz da criança anuncia um conselho " para a ajudar a poupar água" ... Para a ajudar? Para A ajudar??? A marca de detergente e os publicitários ignoram que já há imensos homens, pessoas do sexo masculino de várias idades, que já colocam roupa na máquina de lavar, que já sabem escolher o programa adequado e que a retiram da máquina e a põem na máquina de secar ou que a estendem num estendal? Nem é difícil, basta seguir as instruções... ( alguns homens que eu conheço que me desculpem, mas há outros que ainda... enfim...) .
Por estas e por outras é que ... cada um que decida , em foro íntimo, problemas muito delicados, muito mais que poupar água.
É bonito de ver as altamente colocadas reuniões de decisores do futuro da Humanidade... Sempre, quase sempre em primeira fila ( e segunda e terceira e quarta e por aí adiante) só fatos negros e azuis escuros e cinzentos... Ainda não há direito a primeiras filas coloridas?


São pensamentos soltos , ia dizer ao vento, mas a aragem do feriado de hoje nem sequer os leva para longe...
Esta manhã, a luz do sol coada pelo nevoeiro, brilha baça na beira serra...

poema que não é da minha autoria

poema ...que me chegou via net- "messenger" ;
acrescento que qualquer semelhança com a realidade é pura , mas pura coincidência...

Baixa, de olhos ruins, amarelenta,
Usando só de raiva e de impostura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Um mar de fel, malvada e quezilenta;

Arzinho confrangido que atormenta,
Sempre infeliz e de má catadura,
Mui perto de perder a compostura,
É cruel, mentirosa e rabugenta.

Rosto fechado, o gesto de fuinha,
Voz de lamento e ar de coitadinha,
Com pinta de raposa assustadinha,
É só veneno, a ditadorazinha.

Se não sabes quem é, dou-te uma pista:
Prepotente, mui gélida e sinistra,
Amarga, matreira e intriguista,
Abusa do poder... e é ministra.

Sunday, October 29, 2006

NO COMMENT




in " Público" de 29/10/2006, título de 1ª página:

ME diz que pausas lectivas não vão acabar e sindicatos falam em recuo

Quem anda a brincar com quem?

Afinal...
que credibilidade tem o ME ( a sigla significa Ministério de Educação) ?
que pretende este jornal com títulos destes ( apalpar o pulso aos Professores ou...)?


Uma borboleta em tons amarelos e castanhas a esvoaçar à volta de uma parede encandeada pelo brilho do sol.


Numa democracia ocidental, em díspares vertentes da cidadania ( futebol e política), só um candidato, ganhadores com noventa e muitos por cento dos votos... (que cheiro a esturro!)
Lembro-me logo de outros tempos e outras paragens...

Saturday, October 28, 2006

TLEBS


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DEMAGOGIA

Acordei com um humor fantástico na presença de um grandioso sol outonal.

Passei pelo quiosque dos jornais.
Como uma martelada, em primeira página do “Público”, as letras vermelhas do primeiro título deixaram-me logo aturdida.

MINISTÉRIO QUER PROFESSORES SEM PAUSAS NO NATAL; CARNAVAL E PÁSCOA

Trabalhei todos os dias não sei quantas horas, desgastei-me, preocupei-me, na Escola e em casa. Sabia que, este sábado, muitas horas iam ser mais uma vez dedicadas à Escola. Para quê? Quem se importa com isso? Ninguém. Muito menos o Ministério que devia ser o primeiro a exigir para o meu trabalho respeito e consideração. Dignidade. Mas não. Todos os dias, nos amarfanham um pouco mais. Ficamos pequenos, encolhidos, insignificantes, quase que a pedir desculpa por existirmos.

Ministra, Secretários, Sub e todos os outros não fazem ideia do que é dar uma aula, não sabem, não conhecem. Que Professor de V. Exas odeiam tanto?

Pensava eu que o meu tema hoje seria a “ Nova Terminologia Linguística”, as famosas TLEBS ( Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário) , porque li o artigo da “Visão” de 28 de Outubro de 2006, da autoria de Maria Alzira Seixo e porque recebi um convite para um Seminário sobre o assunto. E queria eu perguntar a quem saiba, que interesse tem esta mudança na terminologia , na gramática sobre a qual muito boa diz que ninguém se entende…
Queria eu saber e transcrevo do artigo referido acima que interesse tem «uma criança decorar “advérbio disjunto restritivo da verdade da asserção”»? Alguém no seu juízo perfeito sabe o que isto significa?

Qual o benefício desta mudança tão total para:
a aprendizagem da língua ( ou talvez agora uma criança comece a prender gramática antes de falar!!!?)
a descoberta das letras , das palavras, do seu sentido
a aprendizagem da leitura e da escrita, ( ou primeiro aprende que é um substantivo ou lá como lhe começarão a chamar e só depois lê ou escreve?!!!)
a interpretação,
o sabor das palavras…


Será que o José Saramago , o Lobo Antunes , a Agustina Bessa-Luís terão que apagar os livros todos da memória das pessoas ( da deles primeiro) para se submeterem às novas leis de uma gramática de uma meia dúzia, encimada por uma tal senhora Inês Duarte??? Por Decreto? Sem conhecimento de ninguém? Para se ensinar aquilo de que ninguém está seguro?

Anda tudo numa azáfama para apagar todas as gramáticas desde 1540.

Depois de ler este título no jornal, lembro apenas a quem manda neste Ministério que:
Os Professores ainda recebem subsídios de Natal e Férias;
Depois de eliminarem as pausas ( até parece que não sabem por que razão elas existem!!!!!!), ainda sobram os feriados e os dias santos;
Depois de oito horas de aulas na Escola , ainda faltam , para completar o dia, dezasseis horas e, para esse período de tempo, sugiro que se vão acompanhar os alunos a casa, fazer os deveres, dar-lhes de comer e deitá-los para descanso dos seus queridos papás, enquanto a nossa família nos espera;
Podemos ir directamente para a Escola, sem descansar, após preparação das aulas, aliás, sem preparação, porque isso é uma coisa do século passado e um Professor está sempre inspirado, motivado, bem disposto e sorridente…mesmo sem preparação!
A família dos Professores que se dane…

Portanto, tenha santa paciência, senhora dona fulana e seus sequazes, a vida de qualquer profissional não se limita à sua profissão, há muito mais vida para além dela. Mas, agora, desculpem, se não sabem isso, que não devem saber, também não é agora que vão aprender, nem aprender nem descobrir…

Resumindo:
ao Seminário sobre as TLEBS que vá quem quiser, eu vou ter muito tempo para aprender tal aberração, tenho muito tempo. Deixo esse assunto para a próxima pausa que acharem por bem retirar-me…

Friday, October 27, 2006

Escrever...

Caía a chuva bem caiidinha sem cessar, através da carapaça do nevoeiro e descia a temperatura.
A propósito do post “Os nossos livros”, a meio da manhã, no início da semana, ouvi umas palavras especialmente generosas. Até corei.

Pelo dia fora, pus-me a pensar onde é que esta mania de escrevinhar por tudo e por nada terá começado. E lá tive que voltar a S. Martinho do Porto. Não sei como isto acontece, mas parece que todas as nossas vidas tiveram aí, junto à baía, início, o que não é verdade. A minha vida tinha começado quase meia dúzia de anos antes. Como já disse algures , uma pessoa muito importante nasceu por essa terra, mas eu já era à data uma menina crescidinha com duas tranças ou rabo de cavalo e entrei, depois, para a Escola. E foi nessa Escola que esta aventura da escrita, normalmente para mim própria, deu os primeiros traços. Umas letras muito bonitas bem desenhadas num caderninho aprumado de duas linhas. Letras minúsculas, maiúsculas, cheias de rabiosques e barriguinhas. Do caderninho de duas linhas juntinhas, o caderno de linhas normais para a caligrafia e as letras surgiam todas repimpadas de tamanho pequeno, tamanho grande, tamanho muito grande. Estou a lembrar-me de língua de fora a aperfeiçoar os desenhos do alfabeto completo. Não como agora, em que as crianças passam horas a escrever sempre a mesma letra até enjoarem, depois de terem andado no infantário anos a exercitar a mão para a escrita com uma série de técnicas surrealistas. As crianças destes tempos não são menos inteligentes, eu acho que os adultos é que complicam as coisas . Então estávamos nós a escrever as letras e as frases e os textos em belas letras de tamanhos vários. Tudo com uma naturalidade que hoje me espanta. A única preocupação que me afligia era a tinta, que não calculasse bem a tinta a ficar no aparo saído do tinteiro branquinho encafuado no respectivo buraco da carteira. Aí , o caldo ficava todo entornado. Quer dizer, caía um borrão na página, entre as linhas, sobre as letras, uma desgraça. Ficava maculada aquela perfeição de escrita e era uma tragédia, porque tinha que se escrever tudo outra vez, depois de tanto esforço, e a professora não era para graças, podia rapar da “ menina dos cinco olhos” e então ainda tinha menos graça. Essa tragédia acontecia quando menos seria de desejar. Os aparos eram muito enervantes nesses e noutros casos, como por exemplo, quando arrastavam com eles um pêlo qualquer ou arranhavam o papel. Voltei a entrar em pânico de novo mais tarde , quando tinha que passar o desenho geométrico a tinta da china com aquele bendito tira-linhas. Não tenho ouvido falar desse trauma , o que significa que esse tormento já terminou.
Passaram-se muitos anos até que alguém desse pela minha escrita. Até aí, tudo normal. Eu também preferia viver no anonimato. Já era suficiente exposição andar de lado para lado, de terra em terra e de Escola em Escola. Por isso , acho que a minha “carreira” na escrita ficava-se mais por casa. A letra era muito bonita. ( Tinha que ser . Um dia, o meu pai apanhou-me a ensaiar um “a” minúsculo com um traço a meio, em vez de me contentar com o “a” normalzinho, escorreito e com um espacinho em branco dentro dos seus limites e foi o bom e o bonito. Ficaram-se por aí as minhas invenções de um alfabeto com arabescos.) A minha irmã, que escreve muito melhor que eu, achava bonito o que eu escrevia. E a minha prima também. Então, durante o tempo que a minha Mãe nos obrigava a permanecer no quarto a estudar (?), eu punha-me a escrever. Escrevia sobre tudo o que me lembrava. Escrevia até à minha irmã e à minha prima cartas de namorados que elas não tinham, para elas se gabarem às colegas daqueles amores soberbos que nunca existem. Essa correspondência depois terminava de forma trágica, porque tinha que acabar, que nós fartávamo-nos do romance epistolar. E, como esses amores especiais e espectaculares não podiam acabar simplesmente acabando, a ruptura tinha que se dever a alguma força exterior, contundente, fatal e sem remissão (precisamente por ainda não termos vivido nenhum desses amores, pensávamos neles com uma aura de amores para sempre, poéticos e doces) e elas ensaiavam durante uns três dias um ar melancólico e pesaroso, que depois esqueciam, porque os amores como os desgostos passam em vertigem, nos alvores dos treze anos. Enfim , escrevia. Quando não escrevia, lia. Lia muito, lia tudo. Antes de ser obrigatório ler as obras integrais, devorava Eça de Queirós, Júlio Dinis, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo branco, entre outros. Acho que dei volta aos livros da Biblioteca da “meu” Liceu ( o defunto e enterrado Rainha Santa Isabel, ali à rua do Heroísmo, na cidade do Porto , inaugurado por essas alturas, deixando nós de frequentar as aulas no palacete do princípio da rua) e da Biblioteca Municipal, junto ao Jardim de S. Lázaro. Portanto, tempo para estudar não me sobrava muito. E lia ( metia os livros debaixo de um monte de dicionários de Inglês ou Francês, posteriormente de Latim e Grego, para que, numa inopinada entrada da minha mãe para verificar se eu estudava, aquilo estar tudo controlado – hoje conto isso à minha Mãe e ela não acredita numa palavra) e escrevia. No quarto ou quinto ano ( antigo, antiquíssimo) , a minha Professora de Português, chamada Berta, leu na aula uma das minhas redacções, escrita num teste. Aquilo foi emocionante. A voz da Professora arranhada de lágrimas ( será que já usei esta imagem alguma vez?) leu o texto até ao fim, um texto cheio de viagens e de saudades e separações e tudo ficou quieto e silencioso a imaginar aquelas fantásticas vidas. Tudo inventado. Mas assim, lido daquele modo com voz verdadeira até parecia um grande romance. Acho que, se fosse hoje, ainda me mandavam para alguma psicóloga, achando que eu passava uma vida estranha e dolorosa, quando, afinal, a mocinha apenas tinha uma imaginação exacerbada, fabricada ao som da leitura dos romances de outras épocas. Tive outra Professora de Português que seria a minha Professora de Latim a quem chamávamos a “Formosíssima Maria” , não por ela ser formosa, mas porque – está bem de ver – tinha uma paixão obsessiva pelo episódio de “Os Lusíadas” que lhe deu o nome. Mas essa não se deixava levar pela emoção tão facilmente. Foi também a única vez naqueles anos todos que tive honras de divulgação desse género de um texto meu. Desatei , no entanto, a escrever pequenos contos. Nuns caderninhos todos maneirinhos. Ou em folhas soltas de argolas que juntava com um laçarote e oferecia. A todos, em especial aos meus amigos “do comboio”, que partilhavam aquelas viagens diárias entre Espinho/Valadares/Devesas –Porto(Campanhã), viagens cheias de aventuras, pelo menos, nas nossas cabeças. E, em particular , oferecia os contos a duas irmãs de Espinho, a Nany e a Camy, a primeira morena , cheia de sardas, a outra, de pele branquinha, branquinha, loira, muito loira. Elas liam aqueles eventuais contos e davam-nos ao avô a ler. O avô delas, que nunca cheguei a conhecer, era o meu fã número um e quase único. A vida separou-nos com mais uma volta. E as minhas aventuras pela escrita ficaram reduzidíssimas a um ou outro poema num jornalinho ou revista e a uns textos de trazer por casa.
Uma tarde de Verão, na piscina de Espinho, sem mais nem menos , quem é que encontro? A Nany. Continuava morena, com sardas, alegre e extrovertida. Conversámos, como se o tempo e a distância nunca nos tivessem separado. A certa altura , com um brilho jovem e cúmplice nos olhos, confidenciou-me que ainda guardavam os meus contos, que os liam , de vez em quando, e que continuavam a achá-
- los muito bonitos.

Wednesday, October 25, 2006

Armada em repórter

















Rio Mondego, Aldeia Viçosa ( Guarda)

Sunday, October 22, 2006

Pela cidade



Calcorreei as ruas, quase desertas. Em passo ligeiro, cautelosamente, sobre o tapete escorregadio das folhas sobre a calçada. O vento arrefeceu-me a cara nos seus doze graus. Enegreceu o céu. Caiu em força a água da chuva. Encharcada, regressei a casa.

A chuva alagava a rua . O vento levantava em chapa a água e projectava-a no ar.

Foto: Sé da Guarda/Praça Velha

Saturday, October 21, 2006

Os nossos livros


Deu-me para isto! Há quem faça jardinagem, quem vá à piscina, quem vá ao cinema, quem faça tricô, quem faça croché, quem passeie nos centros comerciais, quem vá à caça, quem vá à pesca, quem leia os jornais todos, quem escreva, quem veja televisão, quem jogue a sueca, ou pingue-pongue, quem faça mil e uma coisas ou quem não faça absolutamente nada. Pois a mim , nesta fase , deu-me para isto: agarrar nos livros, um a um e inventariá-los. Podia dar-me para pior, mas ando nesta faina. Agarro nos livros, tiro-os do lugar, insiro os dados na base ( de dados) , olho-os com mais atenção, com menos, mudo-os de sítio, folheio um ou outro, vejo as datas e os comentários e os sublinhados e as notas à margem ou vejo-os vazios de todo, sem humanidade nenhuma, deixo-os em cima da mesa um bocado, arrumo-os noutro sítio, alguns não merecem o lugar que tinham, outros acabam por ficar agora junto dos títulos do mesmo autor. Às vezes, passam-se horas sem descobrir surpresa alguma. Outras vezes, demoro horas para conseguir aumentar a lista: as datas que me trazem recordações, ou os autores, ou então estou no "messenger" a falar com a mana do meio, espreito dois ou três blogues, volto à base de dados, miro as estantes, os lugares onde estavam os livros, troco-os por outros, é uma empresa para durar. E não me pus com a ideia peregrina que me sopraram ao telemóvel esta tarde: que também podia acrescentar comentários aos livros! Era o que mais me faltava. Isto leva o seu tempo e tem fases. Agora estou nesta fase. Só quero os livros "metidos" na base de dados e metidos nas estantes de novo. Depois logo se vê. Esta ideia veio de um saco. A filha trouxe um saco. Cheio de livros. Muitos livros, eram para aí uns quarenta. Que fazer com tanto livro? Ora aí está um belo entretimento. Como se eu não tivesse mais que fazer! Começava por esses livros, arranjei assessoria para umas dicas disto das bases de dados , que uma pessoa parece muito moderna, muito moderna, mas não se aprende tudo de uma vez, tem que se ter o seu tempo e não há nada como a prática... e pus-me ao computador... Aí há uns oito dias. E já lá vão 211 títulos , olha que bonito número para pôr aqui neste "escrito"... ficou mesmo bem... Descobrem-se livros que, afinal, não são nossos, alguma colega dos tempos de estudante ( LÉtranger de Albert Camus) ou que temos sete títulos de Isabel Allende, de José Saramago aparecem em todo o lado, o que é muito bonito, que um Prémio Nobel ( diga-se como palavra aguda que é como o "nosso" Nobel pronuncia para mostrar que estamos sempre a actualizar-nos) fica sempre bem em qualquer biblioteca, de Miguel Torga a mesma cena, já nem me lembrava que tinha uma obra de Francisco José Viegas, ou um livrinho muito fininho de poesia "A Casa e o Cheiro dos Livros". Saiu-me ao caminho uma obra de Pepetela, mas não fui eu que comprei, foi a A.. Sem mais nem menos , surge-me do meio das páginas do livro de poemas de Ruy Belo um marcador com umas franjinhas a dizer : " concilio labore" town hall cathedral city of manchester. Do "Siddartha" de Hermann Hesse ( tenho uma dificuldade com este nome , lembro-me logo de um qualquer nazi e põe-me de pé atrás e não tem nada a ver com isso) , saltou-me um postal - enviado de Amsterdam, diz o carimbo que em 6/6/2002; doutro livro, solta-se um pedaço de papel qualquer a marcar uma página ou um poema; Um extracto de conta também serviu de marcador. Encontro títulos quase impossíveis “Que faço eu aqui”… Às vezes, quero trazê-los em braçado e caem-me todos ao chão, acho que não querem fazer parte de lista alguma e reagem assim. Alguns foram comprados nas férias, numa livraria-quiosque de S. Martinho do Porto, que bem quisemos comprar nas Caldas da Rainha, mas a dona da Livraria não deixava mexer nos livros (!!!) .
Há livros que foram presentes de Natal com nome e data.
Encontrei algumas primeiras edições.
Antes de 1998, são raros os livros que vieram comigo. Ficaram prisioneiros noutra casa para proveito de ninguém.
O primeiro nome da minha/nossa lista, por agora, é Peter AcKroid. O último é Richard Zimler. Com prazer. Com as palavras, que me escreveu em correio electrónico, aquando da leitura da sua mais recente obra "À procura de Sana".
Livros em inglês que não podiam ter sido comprados por mim... está bem de ver... também uma obra de Miguel Esteves Cardoso com um bilhete de embarque porto-zurique entre as suas páginas.
Autógrafos: Carlos Pinhão, António Torrado, Ana Maria Magalhães, José Fanha, Judite de Sousa, Matilde Rosa Araújo, mas esse é outro departamento.
Ficam maravilhosos, todos certinhos em ordem alfabética ( os autores) , até dá gosto olhar!!! Uns não estão a achar graça , ao serem relegados para os confins das estantes. Outros ganharam novo brilho ao serem trazidos para um local nobre.
Deu-me p'ra isto! Que se há-de fazer?

Afinal...

A tarifa da electricidade vai subir 15, 7%.

Afinal, a tarifa da electricidade sobe apenas 8%.

Afinal, a tarifa da electricidade sobe só 6%.

Grande palavra, a palavra AFINAL…

Parece que é suposto ficarmos todos muito contentinhos…

Friday, October 20, 2006

Adivinha

Quem foi o Secretário de Estado que exemplificou o trabalho dos Professores e faltas, apelando à originalíssima comparação com um vendedor ( vá-se lá saber de quê!!! - sem desprestígio para os vendedores!) ?


Quem foi o Secretário de Estado que chantageou os Professores como se estes fossem criancinhas pequenas, à espera de um bombom que só ganharão ( as criancinhas) , se não fizerem mais birras?

Thursday, October 19, 2006

Pensamentos

Quando era miúda , sempre via que os Pais e Avós davam o lado resguardado do passeio, do lado direito dos “maiores” , junto aos muros e paredes, aos mais pequenos, ficando os adultos junto ao lancíolo, mais próximo dos automóveis. Suponho que evitavam que a criança fosse “apanhada” pelo carro, pelo próprio movimento do veículo, prevenindo algum descuido dos garotos. Agora, e já reparo nisso há algum tempo, verifico que acontece precisamente o contrário: as crianças vão do lado dos automóveis. Ninguém explicou a estes Pais o perigo? Os Pais não se apercebem?



Logo de manhã, uma senhora em roupão, passeava o cão.

Wednesday, October 18, 2006

Recortes

Vacina da gripe para grupos de risco é gratuita! EM ESPANHA!


Aumentos do preço da electricidade. Culpa dos consumidores.


Portagens em SCUTS do Norte e Centro( Litoral).

Há quem diga ... sobre a educação em Portugal

O Presidente da empresa operacional da Netjets na Europa , William Kelly, em entrevista à Visão ( 12/10/2006):
« Dizem que o ensino funciona mal em Portugal , mas aqui ( empresa) vejo o contrário. Estou impressionado com as qualificações dos nossos trabalhadores».

Jornal "Público" de 18 de Outubro , segundo dia de greve dos Professores Portugueses

É a maior greve de professores de sempre durante dois dias e o "Público " ( 18/10/2006) puxa para a primeira página , a medo , o título " Adesão à greve dos professores divide sindicatos e Governo" , o que é uma grande novidade e, portanto , isso é que é notícia ( estou a ironizar!!!) . Na página 18, dão a opinião da Plataforma dos Sindicatos e a opinião do Governo sobre os números da greve. Os jornalistas não sabem, não viram, não ouviram mais nada. Não vou ensinar o Padre Nosso ao Vigário, mas penso que podiam ter feito o trabalhinho de casa e ter perguntado às Escolas os números...



Eu sinto um orgulho impante por pertencer ao corpo docente da minha Escola... Enfim unidos! Mais vale tarde do que nunca!

Parabéns

Hoje volto a Lagoaça em pensamento e ao passado e a uma madrugada expectante, entre sussurros e pressas. Duas manas, quietas no escuro e na espera, ansiavam conhecer uma terceira que, mal nasceu, se meteu , por mãos do pai, na cama delas, de onde , só com um ralhete, conseguiu sair… A manhã chegou diferente de novidade, balanceando uma vida nas nossas vidas.

Tuesday, October 17, 2006

Greve...

... sem sentido - consegue articular a Ministra da Educação perante uma adesão nunca imaginada a uma GREVE de PROFESSORES... nomeadamente em Escolas cujo corpo docente é dos mais estáveis... depois de uma manifestação, a maior desde o 25 de Abril... Sem sentido? Tenha dó , Senhora Ministra!
E, como estou de greve, não escrevo mais hoje.

Monday, October 16, 2006

Plano de Leitura


Chega às Escolas com obrigatoriedade ignorante o Plano de Leitura. Ignorante, porque ignora. Ignora o que andaram, desde sempre, a fazer os Professores de Língua Portuguesa. Ignora, porque passa como uma rasoira sobre tudo quanto se tem realizado nas Escolas, a esse nível. Ignora, porque não pergunta nada, não quer saber, apenas impõe. Parte do zero. Um zero enorme de vazio. Que terão andado os Professores de Língua Portuguesa durante anos , anos e anos? Vinte, trinta, quantos? Chegam os ilumindaos dos Gabinetes. Elaboram papéis sobre papéis. Onde andavam? Onde andavam , quando os Escritores eram convidados a ir às Escolas, depois de ser lida e analisada a respectiva obra? E quando os alunos liam , sempre leram, e registavam as suas leituras nas fichas elaboradas para o efeito, pouco a pouco pelos próprios alunos ? Onde estavam, quando sempre se leram obras nas aulas e obras em casa? Ninguém descobriu a pólvora. Tornou-se obrigatória uma actividade normal. Ou agora descobriram que, lá porque se tornou obrigatória , os alunos passam a ler mais? (Santa ilusão!) a ler mais do que quando?


O vento não assobia pelas frestas nestas casas modernas. Entra o ar em turbilhão pelos respiradouros e ecoa fantasmagórico à procura da saída. Nas ruas , arrastou com ele a chuva.

Sunday, October 15, 2006

Grandes Portugueses


As árvores andam para ali a bambolear-se ao som da música do vento. Voa um gaio de ramo em ramo. Acinzenta-se o dia.

Grandes Portugueses? Lembram-se de cada coisa os senhores da RTP! Ainda pensei votar no D.Pedro IV. O Homem tinha mesmo visão. Tinha que ser mesmo inteligente para ter soltado o grito do Ipiranga, como eu faria , se tivesse vinte anos. O Imperador ainda veio cá espreitar , dar umas quantas bordoadas e foi embora... Esperto! Viu logo que santos de casa não fazem milagres... Mas - espanto dos espantos! - o rei-imperador lá está na lista... Um grito sempre é um grito!!! E, se for gritado nas margens do Ipiranga, melhor! Houve outros que constam da mesma lista que também se piraram , mais recentemente, mas não gritaram nem nada , escapuliram-se de mansinho ...

Saturday, October 14, 2006

Sr. Dom Guilho

Os cozinheiros de alguns restaurantes portugueses enfronharam-se de tal maneira no aperfeiçoamento dos seus pratos e nos estudos da gastronomia que acabaram por descobrir nos seus canhenhos o sr. Guilho. De tal modo deve ter contribuído tal personagem para as ementas portuguesas que é um mimo ler-se “Gambas « a la Guilho»”.

Para quem não percebe nada de culinária , informo que o sr. Guilho não existe.
Foi uma invenção dos fazedores de ementas que, não entendendo também nada de castelhano ( mais grave ser na Guarda , a poucos quilómetros da fronteira com Espanha), e , ouvindo a expressão “al ajillo “ que significa “com alho” , transformaram um prato confeccionado com simplicidade numa especialidade da casa … graças ao sr. Guilho… E Viva Espanha!

Folhas soltas



As folhas caem das árvores e tocam o chão sob a batuta de um vento ligeiro. Desprendem-se dos ramos em indiferença outonal. Apesar do temperatura primaveril, meteram nas nervuras esta ideia de queda fatal. Nem me devia admirar. Já vi, em pleno estio caloroso de Grenoble, por tempos do século passado, há mais de vinte anos, as folhas descerem sem cerimónia das árvores sequiosas e atapetarem o chão de estalinhos debaixo dos nossos pés!

Thursday, October 12, 2006

Notas avulsas

Uma Professora recebeu uma mensagem de um Pai: este exigia à Professora que se limitasse a ensinar o filho, não tinha que o educar.


Esta manhã o sol enganador escondeu a aragem fresquinha, a rondar o limiar do frio ( oito graus), a convidar a casaquinhos mais quentinhos. Eu devia ter nascido e vivido noutro país de roupas leves. Na próxima encarnação, a ver se não esqueço este pormenores!



Ontem à noite, homenageámos profissionais que , ao longo de uma vida, trabalharam ao nosso lado. O Ministério da Educação não enviou no final destes anos todos nem uma palavra. Não há consideração por ninguém... Já falei deste desamor há um ano.

Tuesday, October 10, 2006

Apontamentos



















Fotos: Centro da cidade da Guarda, domingo 8/10/2006, 10h 30m ; à tarde, o cenário, repetiu-se.


Notícia da SIC, domingo, 8/10/2006
Tema:
Crianças e jovens impõem compras aos pais – brinquedos que, mal obtêm com o sacrifício do orçamento familiar, põem de lado, roupa e calçado só de certas marcas, telemóveis sempre os mais recentes da última geração. Porque querem. Porque os pais têm que dar. Porque os colegas também têm e eles também têm que ter para não ficarem traumatizadas – é uma geração de gente traumatizada – e têm que ter, porque sim. Ponto.

As mães cumprem as exigências (os meninos e meninas destes tempos não fazem a mais pequena ideia das dificuldades que os Pais atravessam; nem fazem nem querem saber, porque pedem, “a mãe diz que não pode, mas depois acaba sempre por dar” e dizem isto com uma desfaçatez como reis e rainhas não só da casa deles mas do mundo inteiro) como se não houvesse outra solução. As mães, que os Pais desapareceram das entrevistas: devem andar a ganhar mais e mais dinheiro para manter os caprichos dos filhinhos.

A jornalista compõe a peça:
na Escola, os educadores ( eu entendi , Professores) deviam criar nestas crianças espírito crítico …blá blá blá blá blá blá …
Eu, que já estava de orelhinhas afiladas para ver quando chegavam a este ponto, achei refinado, um requinte esta solução… E ri-me. Às gargalhadas. Sinto-me o bonequinho que uso no “Messenger”para simbolizar gargalhadas. O bonequinho aperta a barriga e deita-se no chão com as pernas no ar e rebola-se de riso…
Os Pais não sabem ( ou não querem ou não estão para se chatear – não ponho entre aspas porque esta palavra já entrou na linguagem corrente -) impor regras ou deixam que os filhos tomem as rédeas e decidam por eles … e os Professores , nas aulas , é que …têm que lhes ensinar… a não pedir o que os Pais não lhes podem comprar?!!! ai que risota !!! ai o bonequinho que se ri dentro de mim…

Sunday, October 08, 2006

O "Público", Vasco Pulido Valente e a Educação

Estou a ficar cansada, mesmo muito cansada de me explicar, de explicar a toda a gente que o trabalho de um Professor não é igual a nenhum outro. Estou a ficar cansada, mesmo muito cansada de explicar aos alunos que um Professor não chega à sala e, por artes mágicas plim! e inspiração do momento, tudo parece encaixar-se minuto a minuto nos noventa minutos de aula. Muitos acabam por perceber. Estou cansada de explicar, mesmo muito cansada de explicar a alguns Pais que exijo muito trabalho aos filhos, porque eu também trabalho muito, porque eu também trabalho imenso. Estou cansada de explicar a toda a gente que não trabalho das nove às cinco apenas. Este trabalho nunca nos sai da cabeça, porque há um problema para resolver e dá-se voltas e mais voltas até achar uma solução, há material a procurar, a elaborar, fichas informativas, textos , fichas formativas, fichas de avaliação, mais uma ficha, que a aluna x ainda se baralha toda com a pronúncia de uma série de letras no 2º ciclo, fichas de leitura, mais a correcção das fichas, outra ficha para o y que tem dúvidas nos graus dos adjectivos e mais umas tantas fichas para as aulas de apoio ... E isto para um universo de 28 alunos sem necessidades educativas especiais, porque, se a turma for de 20 alunos , a acrescer a isto tudo ainda há fichas individuais para alunos com problemas de aprendizagem. Ainda vou ter que me encher de paciência no início de cada aula, a chamar a atenção de um que repete a graça de entrar com boné na sala, habituado que está a impor pelo cansaço dos Pais e outros a sua vontade ( isto é verdade, porque já alguns alunos ao longo dos tempos mo confessaram) , exigir silêncio e tranquilidade para o tempo, que é precioso, ser bem aproveitado em prol de todos e por aí fora… Mas isto (e tudo o mais que fica no tinteiro por explanar, porque realmente eu estou muito , muito cansada de explicar tudo outra vez tim-tim por tim-tim!!!) para a maior parte dos cidadãos portugueses é coisa de somenos importância, porque importante , verdadeiramente importante, é que os filhos de todos ficam na Escola das tantas às tantas e os Professores que se amanhem que é para isso que lhes pagam e ainda por cima são os mais bem pagos da Europa ( o que a RTP e “Público” se apressam a divulgar !!!!! sem verificar a veracidade das afirmações, basta alguém do Governo ou outros por ele afirmarem tais absurdos) e não fazem nada!!! Sobre este assunto escreveu no “Público” de hoje ( 08/10/2006) na secção Cartas ao Director, Maria Porto sob o título “Sobreviver”. Logo a seguir, insurge-se Joaquim Santos, na mesma secção , contra as “queixinhas e lamentos” ( título da sua carta ) dos Professores. Nesta carta se fica a saber que apenas trabalham e produzem os trabalhadores do sector privado. Deve ser por isso que o País está como está, também se deve aos sector privado… Gostava de saber se o sr. Joaquim Santos andou a estudar , se o que aprendeu na Escola não lhe serviu para nada , se é um self made man, se tem filhos , se agarrou nos filhos e os mandou estudar para a Finlândia , já que o ensino em Portugal está tão mal e os Professores são todos tão maus… Também gostava de saber se o seu patrão passa a vida a chamar-lhe incompetente e se ele fica contente com essa atitude… O seu patrão desconta-lhe a pausa para o café, as idas à casa de banho… o tempo em que vai à reprografia, ou requisitar qualquer material de que precisa? É que nós procedemos a essas diligências nos intervalos em que nós estamos na Escola e não conta como tempo de permanência na Escola. Até os benditos 5 minutos que foram retirados a cada 50 minutos de duração de uma aula , agora são todos juntinhos para aulas de apoio. Como se tivéssemos culpa de, em vez dos 50+ 50 m , ter alguém resolvido que , afinal deviam ser 45 m.
Estou cansada, como dizia , muito cansada de me explicar, de não sentir o respeito que creio merecer; estou cansada , muito cansada de me aperceber que o meu patrão tem pouca consideração por mim, de me usar para virar todos contra mim, em nome de um défice ou de um programa ou … nem sei de quê, porque não compreendo esta campanha, este ataque contínuo, esta arrogância.
Porque não se pergunta ( ler com atenção o artigo de Rui Tavares “ Não façam só alguma coisa, fiquem parados” in “ Público”, de 07/10/2006) se realmente está tudo mal, os Professores fizeram tudo mal, nenhum fez nada bem em trinta e tal anos, nada se aproveita, se há bons trabalhadores no sector privado ( e nem só, atrevo-me eu a dizer!!!) , andaram em que escolas, com que professores, nada se aproveita, nada???

E estava eu a ler o “Público” e já a pensar que vou deixar comprar este jornal: está como a RTP…quando chego à última página e fiquei estupefacta!

Diz Vasco Pulido Valente e transcrevo : « Vinte mil professores com o apoio de 14 organizações sindicais fizeram quinta-feira a maior manifestação de sempre contra um ministro de educação, neste caso, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, que não há muito passava por uma das luzes do Governo e que de repente se transformou em “ditadora”, “autista” e “mentirosa”.

Apenas pergunto:
Uma manifestação, a maior manifestação de sempre, e só ocorre a este senhor expor as suas críticas aos Professores? Nem uma reflexão? Estamos assim tão longe do 25 de Abril? Por bem menos , caem ministros e governos, mas isso só noutros países mais evoluídos, em que os governantes dão conta dos seus actos aos governados.
Uma manifestação, a maior de sempre, tem alguma importância?

Quando é que este senhor viu os Professores considerarem esta Sra. Ministra uma das luzes do Governo? Viu essa luz nas palavras do próprio Governo? O senhor deve estar muito confuso!


Acrescenta Vasco Pulido Valente:
“Motivo? A reforma da carreira docente. De maneira geral, os professores não têm razão. Um exemplo: ao contrário do que eles pensam ou fingem que pensam, um curso superior não garante hoje ( se alguma vez garantiu) qualquer proficiência em matéria alguma. Uma avaliação posterior é mais do que justificada, como aliás se exige em Portugal e fora de Portugal em muitas profissões, como a dvocacia ou a medicina. Outro exemplo: o “ano à experiência”, uma espécie de estágio, mede uma capacidade específica, a de ensinar, que não coincide forçosa ou frequentemente com a competência académica. Não seria útil e sensato acabar com ele.” E o artigo segue.

Eu fico por aqui para dizer que uma pessoa, quando escreve sobre um determinado assunto, deve saber sobre o que escreve, nenhum curso superior lhe dá o direito de falar do que não conhece.

Reflexão:
Então não será melhor acabar com o ensino Superior, se não prepara para nada?
Eu faço uma Licenciatura em Filologia Românica e este douto senhor vem agora dizer-me que, nestes trinta e três anos de Professora de Português e Francês, esse curso não me garante nada relativo àquilo que tenho que ensinar?
Então o estágio de um ano ( neste caso – 2º ciclo- tive a meu cargo três turmas, uma de português , duas de francês sob supervisão de duas orientadoras) por vezes dois, e actualmente integrado nos cursos , com turmas distribuídas nos primeiros casos, com alunos, não serve para se confirmar (ou não) a competência para ensinar? Quem quer acabar com o estágio? Onde obteve o senhor informações sobre este assunto? O senhor pensa que os Professores são Professores sem mais nem menos, com um toque de varinha mágica? E as formações que têm feito ao longo da vida profissional? Também não serviram para nada? E a formação diária individual? E a avaliação a que estamos sujeitos todos os dias, por Alunos e Pais? Mas este tema dava pano para mangas e eu não me vou alongar mais. Muito fica por dizer.
Amanhã tenho que ir mais um dia para a Escola, pelo trigésimo quarto ano consecutivo, sabendo que, além de mostrar que sei do que estou a falar, quando ensino, tenho que criar uma corrente de empatia com os meus alunos para estarem motivados, ( que não se aprende em curso nenhum nem ninguém nos ensinou nunca*) , moderar o tom de voz para não a perder ( também nunca ninguém me ensinou a colocar a voz*) , tenho que lutar de cabeça bem levantada, com orgulho no que sou e faço , sem sentir vergonha de ser Professora, tenho que lutar contra toda uma sociedade que não valoriza os Professores do seu país, porque um Governo, uma Senhora Ministra e seus Secretários de Estado não valorizam os trabalhadores que tutelam…
E se estes Senhores não os valorizam…

* Não se aprende fazendo um exame, penso eu!

Saturday, October 07, 2006

Oitenta e três anos...






















Retoma as conversas dos meandros serpentinados dos retalhos da vida e arruma-as em cadeia desde a última visita. Salta imparável da Belga, Santa Marinha do Zêzere, onde nasceu para Vinhozinhos e, percorrendo os dias da memória lúcida, devora em palavras o tempo passado por vales e montes do Douro, na Escola até à quarta classe, depois na Escola da vida, entre a enxada e o negócio das castanhas. Da escravidão da terra, escapou-se por esse mundo até Angola ( onde não ficou por causa das malditas e portuguesíssimas saudades) , rumou a Portugal e, entre Alcoutim, Pampilhosa do Botão , Crastas, S. Pedro de Muel, Nazaré, S. Martinho do Porto , Lagoaça, Vinhais, Vila Nova de Gaia , Águeda, Coimbra, Guiné Bissau, Viseu, Vilar Formoso e Porto, teceu uma teia de verticalidade de que se orgulha em cada gesto e em cada lembrança. Os relatos incessantes não escolhem nem ordem nem tema, surgem sem ser esperados, encaixam uns nos outros, sempre os mesmos com a novidade de um pormenor que escapara antes. Conta tudo como se cada acontecimento tivesse acabado de suceder e junta-lhes o entusiasmo, o embargo da voz , a saudade, o susto, a incerteza, o sacrifício, o sucesso, a ironia de cada tempo.
Despede-se a meio de uma conversa que continuará …
A vida passa tão depressa! – não resiste a confessar. E a voz estrangula-se e emperra nas sílabas sentimentais…
Vai ficar a cabeça a magicar o resto do dia e, da próxima vez, a corrente segue o seu rumo e o seu ritmo por assuntos inesgotáveis. Alguém já se lembrou que poderia ser interessante escrever algumas páginas desta vida que seria igualmente a História de um país com assinatura de um passageiro desta “jangada de pedra”. Para tal seria preciso talento e fôlego e ninguém tem essa coragem.
Despede-se ainda a dizer das uvas, das vindimas desse chão, no Douro, onde sempre volta, da beleza dos vinhedos, das oliveiras carregadinhas …
Despede-se com um abraço: é o meu Pai.
A minha mãe, silenciosa, fica à porta a acenar…

Fotos: Praça da Batalha, Porto

Friday, October 06, 2006

Lugar ao fundo, sala 20...




Encontrei o Fabiano já há algum tempo. Educado e sereno no seu corpo esguio e rosto moreno de raízes ciganas, contou-me que andava a estudar à noite. Felicitei-o por essa decisão. Foi a última vez que o vi. Não vamos voltar a cruzar-nos . Não sei porquê, talvez ninguém venha a saber, virou costas à vida e foi-se.