Saturday, June 30, 2007

Lua cheia

Cobre o céu uma fina película azul crespuscular. Esboça-se a redondez pálida da Lua e hipnotiza a luz intensa de um planeta com nome de estrela, ponto brilhante que me namora pela noite atraindo-me do negrume celestial . Parece fixo, imóvel, cintilando. Estiro-me no sofá e sigo a Lua vadiando ao lado, numa auréola que inunda a casa entrando pela porta-varanda sem cortinas.

Wednesday, June 27, 2007

O Voo das Aves

A Maria espreitava as andorinhas na elaborada construção do ninho no mesmo lugar de anos anteriores, debaixo do beiral na casa com varanda de madeira pintada de vermelho... Percebeu, depois, que os ovos pequeninos chocavam.
Um dia, sem mais nem menos, apareceram na borda do ninho umas cabecitas peladas, meias tontas, nuns gritos fininhos e aflitivos, de desesperada fome. Aguardavam os pais que se revezavam numa azáfama organizada transportando a comida no bico, com uma perícia impossível.
Maria espiava-os,, cada dia, horas e horas, sentada na penumbra, curiosa de ver o momento do pimeiro voo. Tardavam. Os pais, a certa altura, enfastiaram-se daquela preguiça dos filhos, sempre aos gritos de fome aloucada, escondendo-se, escandalosamente, no fundo do ninho, quando percebiam que os pais queriam empurrá-los para fora, para aquele vazio desconhecido.
O António cuidava dos pombos-correio, conversava com eles, admirava-os e passava tempos infindos à sua volta.
Maria esperava o primeiro voo dos passaritos... os pais enredavam-se num rodopio de exibições, em frente ao ninho, empoleiravam-se à beirinha e empurravam os filhotes para o céu. Andaram naqueles incentivos exemplificativos dias e dias...
Maria e António iam até ao correio enviar cartas aos amigos ( escreviam-se e enviam-se cartas naquela época!) pela sombra das casas, na modorra da tarde quente, que corriam dias de Verão e sentia-se o calor de estio. Percorriam, às vezes, o mercado, pela manhã, e deslizavam os olhos entre a variedade colorida dos frutos ( que ainda não estavam formatados, nomalizados e cheiravam mesmo a frutos...) e os legumes. O entardecer trazia uma ligeira brisa refrescante e, à noitinha, ouviam , nitidamente, os sons nocturnos no silêncio acalorado. Uma madrugada, do pátio, assistiram, incrédulos e emocionados, ao primeiro passo do Homem na Lua, numa televisão dentro de uma saleta com a porta aberta.
Uma manhã, Maria sentiu raiva: os pássaros novos, num equilíbrio espantoso, desafiavam as alturas, giravam no ar, em frente à varanda de madeira pintada de vermelho, subiam numa vertigem de ar, desapareciam por cima dos telhados, apareciam de novo, entravam e saíam do ninho, com facilidade impressionante. Marotos! Durante a manhãzinha... tinham voado durante a manhãzinha... - só podia ser! que ainda na tarde-noite anterior, os pais viam-se e desejavam para eles se empoleirarem na borda do ninho... Marotos! Então, sorriu: os pais voltejavam em voos largos como se vigiassem as diabruras dos filhos, agora perigosa e atrevidamente, a exibirem os seus dotes ...

A meio do Verão, Maria e António, despediram-se.

Pensavam não voltar a encontrar-se nunca mais... e foi o que aconteceu!

Apenas houve um dia, noutra cidade, numa rua: cada um seguia no passeio, em sentidos opostos, com o seu grupo de amigos, quando se viram. Afastaram-se dos amigos. Ele ria. Os seus olhos escuros brilhavam no rosto moreno-centeio e ela deu uma corridinha com as mãos abertas para acolher as dele, sorridente. Ninguém percebeu bem o que se passou: nos olhos de ambos reflectiam-se mensagens de pombos-correio e, das mãos, esvoaçavam andorinhas invisíveis num rasto de poesia mágica.

( Memórias despertadas pelas fotos das aves publicadas no blogue AVOZDAROMÃZEIRA)

Prémio BLOGUE COM GRELOS




"O Prémio "Blogue com grelos" premeia mulheres que, na sua escrita, para além de mostrarem uma preocupação pelo mundo à sua volta, ainda conseguem dar um pouco de si, dos seus sentires e com isso tornar mais leve a vida dos outros. Mulheres, mães, profissionais que espalham a palavra de uma forma emotiva e cativante. Que nos falam da guerra mas também do amor. A escrita no feminino, em toda a net lusófona tem que ser distinguida."

( Coloquei a explicação a azul por ser apenas a minha cor preferida , não tem outras conotações!... denotações muito menos!))

Este Prémio chegou-me por mãos da BELL no seu sítio com ligação aqui ao lado pelas razões costumadas...


As minhas nomeações vão para ( parece uma troca de galhardetes, mas também não tem importância nenhuma!):
BRAGANZÓNIA
KAOTICA
PAPOILA
RECALCITRANTE
VAREIRA





7 Maravilhas da Blogosfera

Pela 'Braganzónia', o 'Que Conversa' foi um dos 'Blogues' merecedor de ser considerado uma das 'Sete Maravilhas da Blogoesfera', no âmbito da iniciativa do 'Sentido das Coisas' (http://osentidodascoisas.blogspot.com/), onde está tudo explicadinho.

Como é hábito, ainda não aprendi a fazer aquelas ligações tão eficazes no próprio texto e, por isso, quem desejar espreitar a Braganzónia, terá a maçada de ir aí ao lado ...



Dizem que não é nem corrente nem posso ainda pendurar nenhum símbolo maravilhoso aqui ao lado ( também não sabia fazer isso, ando mesmo a precisar de umas lições!) , porque o relógio com bruxa e os outros prémios que aí saltitam são obra de um amigo-parente que é muito generoso e, mesmo sem tempo, tem sempre tempo para os amigos.



Agora e, mesmo sem ser corrente (!!!), vou nomear 7 ( sete) blogues dignos de figurar entre essas maravilhas... por ordem alfabética. Como sempre também ficam tantos de fora que até dói... ouçam o cantarolar dos foguetes e vejam a girândola do fogo de artifício no ar...


Kaotica
Nocturno com gatos
O Sino da Aldeia
Papoila
Recalcitrante
Save by Bell
Voz da Romãzeira


Adenda em 28/06/2007

Recordo que esta é uma: Iniciativa de http://osentidodascoisas.blogspot.com/
Regulamento
1. Podem participar na votação todos os bloggers que mantenham blogues activos há mais de um mês [os outros esperem por outra ideia brilhante que alguém irá ter].
2. Cada blogger deverá referenciar sete nomes de blogs. A cada menção corresponde um 1 voto. 3. Cada blogger só poderá votar uma vez, e deverá publicar as suas menções no seu blog [da forma que melhor lhe aprouver], enviando-as posteriormente para o seguinte e-mail: 7.maravilhas.blogoesfera@gmail.com . No e-mail, para além da escolha, deverão indicar o link para o post onde efectuaram as nomeações. A data limite para a publicação e envio das votações é dia: 01/07/2007. 4. De forma a reduzir alguns constrangimentos [e desplantes], e evitar algumas cortesias desnecessárias, também são considerados votos nulos:- Os votos dos blogger(s) em si próprio(s) ou no(s) blogue(s) em que participa(m);- Os votos no blog O Sentido das Coisas. No dia 7.7.2007 serão anunciados os vencedores e disponibilizadas todas as votações.

E acrescento que fui fazer a minha visita diária a O SiNO da AlDEIA e encontrei-me lá refastelada entre o Contrablog e o ZéPovinho com outra nomeação ... Isto são mimos de mais...

Monday, June 25, 2007

Instante


Os moinhos
vagueiam sozinhos
entre os chorões nas dunas…

o sol mergulha
azul-brilhante
nas águas do mar;
marulha
ao longe indecisa
cinza de nuvens…

as crianças
brincam já
com o balde e a pá
e um pequeno regador;
um barco
de seu nome Maria Leonor
aquieta-se encostado
varado na areia…

Sunday, June 24, 2007

S. João na Apúlia




Sol na praia da Apúlia, passeio tranquilo ao sabor do momento, apesar das obras tristemente inacabadas .

Sardinhas à discrição, com broa… assim recebe os forasteiros a Casa do Povo da Apúlia. E caldo verde e música. Vinho directamente do tonel.


Exibição dos pequenos Sargaceiros da Apúlia e das Concertinas…
O bailarico foi até às tantas…

Thursday, June 21, 2007

Paisagem

Casas em ruínas

esventradas

escancaradas

dentro

crescem árvores.

Monday, June 18, 2007

MEME... literatura


E, das mãos de Carminda Pinho de http://forum-cidadania.blogspot.com/, a quem agradeço a distinção, foi-me proposto um MEME sobre leituras e literatura, penso eu ter compreendido bem.
Faço um parêntesis: para quem não faz a mínima ideia do que é , recordo :

MEME ( Richard DAWKINS – zoólogo, etólogo, evolucionista, popular escritor de divulgação científica britânico) - ideias

- artes de ideias

- línguas

- sons

- desenhos

– capacidades

- valores estéticos e morais

- ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida em unidade autónoma.

(Memética – estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação)


Podia muito bem , fazer aquele links muito bonitinhos que toda a gente sabe fazer menos eu, e não precisaria de sobrecarregar o post com tanto texto, mas ainda não cheguei a essa parte da matéria…



José Gomes Ferreira ( brevíssimo apontamento)
1900, Porto-1985

Escritor, poeta, ficcionista.
Social e politicamente empenhado, revolta-se contra as injustiças do mundo.
Escreveu poesia e crónicas.

Conheço “Aventuras de João Sem Medo” e “POESIA I, II, III”. Muitos dos poemas desta obra têm como tema a morte e, no meu entender, são arrepiantes. No entanto, entre outros, curtos e de uma beleza indescritível, este é um dos que me sensibiliza profundamente.


Café

Quem foi o arquitecto

que fez este café

tão longe da natureza

e tantos homens de pé?



Criado: põe esta gente na rua!

E abre um buraco no tecto

que eu quero ver a lua.


José Gomes Ferreira






E acrescento que devia indicar cinco blogues para seguir as regras e dirijo este desafio apenas a três, se estiverem para me seguir a corrente…

Assim e, se estiverem pelos ajustes, se tiverem tempo e paciência, fica o desafio a:

Nocturnocomgatos

Recalcitrante (meg)

Vareira
( Foto: escultura de Igor Mitoraj, exposta na Rambla de Catalunha)

Sunday, June 17, 2007

Cupido, fonte de Amor

Correntes… que nos prendem ou nos apertam…ou nos obrigam a movimento.
Correntes… criadas para se seguirem… para se quebrarem…

Correntes … duas, logo duas quase ao mesmo tempo…

Uma chegou-me das mãos da PAPOILA e eu não podia recusar este prémio “Cupido, fonte de Amor!!!”


Mas ter que premiar DEZ… DEZ blogues… amigos dos amores? Fiquei sem fôlego e, para não cansar nenhum dos meus amigos… dou uma reviravolta às regras e premeio apenas três… três é um número muito mais bonito e cheio de mistérios… aqui o mistério creio que não tem que se justificar nada, mas eu explico em duas palavrinhas e pronto!!!
Ah e , como sempre - não me cansarei de repetir - seguir a corrente não é obrigatório... quem achar bem, pode mesmo, parti-la em pequenos elos e atirá-los à corrente...

O Breviário de Nuno Resende,
pelo amor à sua terra , terra dos seus antepassados e de alguns dos meus;

MIXTU, por terras de Burkina Faso,
Pelo amor-sonho-verdade que nos encanta nas suas palavras em português e espanhol;

By Osc@r Luís,
Pelo amor cheio de humor que o liga a Portugal do lado de lá do Atlântico.


Notinha relativamente importante: os links estão todos ao lado , não há nada que enganar!

Minidiálogo sem pés nem cabeça.

- ... para me candidatar a titular!
- O quê? Mas agora também jogas futebol?

Saturday, June 16, 2007

Desafio sobre ... leituras

Céu cinza. Cai uma chuva bem chovida, vinda das nuvens, chega em linha recta e abundante . Fundo musical suave. Bom momento para folhear livros. Para responder ao desafio proposto por BELL.
É um risco. Eu nem sequer releio livros por completo. Revisito-os, nunca para os ler de novo inteirinhos. Aliás, acho que nunca os leio inteirinhos. Salto linhas e páginas, tenho a certeza, porque, quando leio mais tarde algumas dessas páginas , nem sempre me recordo delas. Ou então sonho, muitas vezes sonho o que não está lá escrito. Outras vezes, invento filmes na minha cabeça, por isso , é raro gostar dos filmes que aparecem supostamente baseados em tal ou tal obra. Podem até ser muito ricos e espectaculares, mas não têm as cores que lhes dei, quando os li aos quinze anos ou à beira-mar ou na época em que um livro acompanhava a minha sombra para todo o lado, até enquanto comia ou em qualquer outro momento. Nem as personagens surgem iguais às minhas imagens. Quase sempre são uma desilusão.
Portanto, não releio livros. Acontece que há uns tantos que me perseguem, que me seguem, mantêm-se sempre debaixo de olho, à mão de semear, por razões variadíssimas. Nem sempre são os melhores livros daqueles autores, nem sempre são os melhores de ninguém, mas ficam-se por ali, a pairar , a jeito de se abrirem facilmente.
Agora, lendo melhor o que a BELL escreveu no seu desafio, eu devo indicar os 5 livros lidos ultimamente, não têm que ser os relidos… que eu vou indicar a seguir … sem mais, assim tudo misturado, com natas brancas bem batidas, os que foram lidos em último lugar, os que vão sendo relidos, os que andam por aqui… e não garanto que a ordem foi esta:

AS PEQUENAS MEMÓRIAS, de José Saramago
Porque eu também me ponho a recordar tempos de antes …

A CATEDRAL DO MAR, de Ildefonso Falcones
Porque, ao visitar pela primeira vez Barcelona, considerei uma boa opção.

INÊS DA MINHA ALMA, de Isabel Allende
Porque já lera outros da mesma autora e fiquei curiosa e quis saber como abordaria um tema histórico …

À PROCURA DE SANA, de Richard Zimmler
Porque li tudo o que ele tem escrito, comecei a “segui-lo” desde “O Último Cabalista de Lisboa”.

D. PEDRO I , de Cristina Pimenta
Porque a lenda de eternos amores deliciam-me…

… e dos que andam sempre debaixo de olho, podia dizer Miguel Torga, Eça de Queirós ( não tenho culpa nenhuma que este senhor tenha resolvido um dia descer do comboio e ir até Tormes, Santa Cruz do Douro, terra natal do meu avô materno e dos avós dos seus avós…), Fernando Pessoa ( sei que é muito corriqueiro, mas que hei-de fazer?) , Jacques Prevert, Albert Camus e ainda “ O Homem que se tornou Deus” de Gerard Messadié, “O Testamento de Noé”…





O complicado destes desafios, nem é sequer aceitá-los , é a obrigação relativa de indicar cinco pessoas a quem passar a palavra e , se estas correntes, que se estão a expandir, vão continuar e aumentar , vamos deixar de ter paciência para isto… portanto, e, apesar de…, passo o desafio a:

Vozdaromãzeira
O Sino da Aldeia
Bragazónia
Kaótica
Papoila

Claro que ninguém tem de me seguir . Cada um pode ir perfeitamente e, por esta ordem, ir de preferência, deleitar-se a ver crescer a romãzeira, mandar-me ir perceber se o sino toca lá na aldeia, enviar-me a passear pelo Parque de Montesinho, dedicar-se a divulgar a sua luta pela Escola Pública ou escrever poemas deliciosos…


Thursday, June 14, 2007

Alerta

A ventania
instalou
toda a noite
uma euforia
diabólica
rondando telhados
e árvores,
arrastou
consigo a chuva
de nervos alterados,
escorreu
as tristezas
rua abaixo
imparável,
amanheceu
água...

Wednesday, June 13, 2007

Las Sardanas




Las Sardanas - dança tradicional da Catalunha ; as pessoas de todas as idades dançam à noite nas praças...

Jogo de água


L' ou com balla
(o ovo que baila)
Jogo de água:
Tradição na Catalunha ( Corpus Christi) ; não se conhece a origem, embora haja várias interpretações, entre elas, a representação da Eucaristia ou o ressurgimento da vida na Primavera, sendo o ovo a simbologia da fecundidade e da vida que renasce.

Tuesday, June 12, 2007

Portal del Angel

Ao Portal del Angel uma princesa

à espera;

no apartamento

um copo a fingir de vaso

sobre a mesa

e dentro uma rosa ...


Em frente, uma festa de flores

na varanda;

no rés-do-chão a música

saía em borbotões

para a rua

dançando.

Monday, June 11, 2007

Aeroporto

Aeroporto – estudo para Alcochete… o que é uma grande novidade…

Chegada esta manhã ao aeroporto de Lisboa, esperavam-se as malas numa “passadeira” que foi alterada, as malas fora da “segunda”, caídas ao monte , depois de uma hora de espera…
Para o táxi quase outra hora… Tínhamos chegado: cheirava a Portugal.

Fim de semana...


Fins de semana assim para matar saudades e sair da casca correm depressa … entre “charlas” nas praças da cidade, passeios, “pintxos” animação e ”copas”.

Alojamento em Carrer Montsió quase em frente da Casa 4 Cats, ali à mão de semear do Bairro Gótico a dois passinhos da Praça Catalunha e outros dois da Catedral de Barcelona ainda em obras, a jeito de passear pelo Born e deixar andar os passos guiados pelas conversas.

E a calma dos passeios, ao sabor da fantasia, a dança das Sardanas a animar a Praça da Catedral e as Ramblas e a gente, e nós …

Viagem-relâmpago


Trago comigo uma imensa sensação

de liberdade

ao andar na cidade

pela tua mão.

Thursday, June 07, 2007

Vou ... mas volto segunda!


Vou dar um saltinho
ali ao lado.
Volto...
Num instantinho!

Gouveia - "Sabores Serranos"

















Anuncia-se Semana dos Sabores Serranos - Festival Gastronómico da Serra da Estrela... e, como o dia se anunciava ele próprio bonito e caloroso, vamos lá ver o que se passa por lá. Depois de escolher umas sandálias para andar com os pés fresquitos ( isto de escolher calçado para os meus delicados pés tem que se lhe diga, ainda para mais , no momento de abandonar as botifarras de Inverno, botifarras de preferência velhotas , já domadas ao gosto dos pés para bem andar, não muito altas nem totalmente rasas que os meus pés são como a dona ela mesma , cheios de manias incompreensíveis e aborrecidas para outros; arrumadas as botifarras- dizia eu, cumpre voltar às sandalitas que, nos primeiros tempos, deixam marcas horrorosas em todo o lado, enquanto não ficam domesticadas e, quando se pensa que se acertou no par ideal para caminhar à vontade, eis que surgem problemas antigos, vindos lá de quando se é criança e se torceu um pé , mas não se ligou nenhuma importância e nem por terem um belíssimo salto tamanho mínimo se resolve o problema e passo a vida a trazer sandálias suplentes num saco... ) , tomar o cafezito, dar uma vista de olhos muito rápida às notícias que já nem são novidade nem nada, metemos o programa e toca a andar ( de carro) para Gouveia. Cheios de expectativas que os cartazes eram um primor. No Turismo, uma senhora toda atenciosa deu-nos um "passaporte" com os nomes dos restaurantes que aderiram à "coisa" e respectiva ementa. Saltam-me os olhos para um cabrito à Moda da Minha Mãe assado em fogão de lenha no Restaurante " A Concha" e lá fomos. Ainda estava tudo na Misssa com gente até cá fora à rua. E as ruas limpíssimas. E as esplanadas dos cafés cheias de gente. Mas, na "Concha", nem havia o cabrito assado nem nenhum dos outros pratos previstos. N'"O Júlio", estava a porta fechada , tinha que se tocar à campainha e a maneira como isso foi explicado a um senhor que chegou antes de nós por alguém que, entretanto, abriu a porta, desagradou-nos e já não entrámos. Em "O Túnel", havia cabrito assado, mas , como não parecia terem investido muito para o Festival, deu-nos aqueles nervos de nos sentirmos enganados e voltámos a S. Paio e onde comemos mediozinho , pelo menos, têm um bom estacionamento, serviram rapidamente e são simpáticos...


O Festival decorre até Domingo ( 10/06) e pode ser que alguém tenha mais sorte que eu e encontre tudo a gosto.

Sunday, June 03, 2007

JARMELO




Hoje todos os caminhos ( da região!!! ) vão dar ao JARMELO - XXIV Feira-Concurso no Castro do Jarmelo…

A incansável energia e iniciativas várias ( entre elas , esta Feira anual) do meu caro colega Agostinho da Silva , Presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro do Jarmelo continua a colocar no mapa da região ( e não só!) esta terra.

Faz parte com S. Miguel do Jarmelo da antiga vila de Jarmelo ( em 1855 perdeu este estatuto).
Como pólos de atracção turística, são de referir: - Casas rurais típicas e - Património histórico e cultural rico ( a Igreja Matriz, as Capelas, as Fontes romanas, a Casa da Câmara, o marco geodésico, as muralhas romanas, um cruzeiro, um miradouro, a arquitectura tradicional diversa espalhada pela freguesia, um campanário e algumas sepulturas antropomórficas).

Esta antiga Vila surge ligada aos amores de Pedro e Inês ( Pêro Coelho seria daqui natural) e « reza a história que, por causa dos amores e dissabores do infante D. Pedro com Inês de Castro, esta vila sofreu na pele toda uma atrocidade e brutalidade que ainda hoje, passados sete séculos, estão bem patentes e visíveis nas terras e almas dessa bendita/amaldiçoada serra (que não fique pedra sobre pedra...)» . Teria sido mandada salgar e arrasar por D. Pedro para que nela não crescesse mais nada.



A propósito desses amores, existe agora, junto a um edifício brasonado que terá sido sede municipal, um conjunto de esculturas em ferro, da autoria de Rui Miragaia, símbolo desses amores, baseado no quadro de Columbano “ Súplica de Inês de Inês de Castro”.



«É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
Mesmo quando as suas voltas me levam para londe de ti;
E se outras voltas me fazem ver nos teus
Os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
Porque esse breve olhar nos fez imaginar que
Só nós é que o fazemos andar.”
Nuno Júdice

O Concurso não tem nada a ver com poemas nem histórias de amor romântico.
Destina-se a premiar os criadores de vacas jarmeleiras, jarmelistas ou jarmelenses , (vacas amarelas , de trabalho), de gado ovino e caprino.

Saturday, June 02, 2007

(A)casos


Etelvina ia pela rua a cantarolar dentro da sua cabeça . A Etelvina que eu conheço não tem nada , mesmo nadinha a ver com a do Sérgio Godinho, aquela que, “com seis meses já se tinha de pé…” , embora ela até saiba a letra de cor. Então, ia ela com uma canção a repetir-se dentro da cabeça e, por acaso até nem era aquela atrás referida… Seguia descontraída e despreocupada e olhava num relance para as montras das lojas sem lhes prestar grande atenção. No entanto, chegou à porta da florista e abrandou o passo. Inclinou a cabeça e admirou através do vidro da enorme janela as flores expostas, as cores, os feitios … e , nisto, alguém de dentro da loja , numa alegria transbordante acenava-lhe risos e sinais de mãos… os olhos brilharam-lhe da surpresa, entrou e beijou a amiga numa efusão de saudades e de gargalhadas. Arrastaram-se uma à outra para um café próximo a atropelar as palavras, as vidas vividas, enquanto separadas, entremeadas sempre de espantos e risadas e abraços. Estiveram nisto metade da tarde: a trocar risos e detalhes da vida.

A certa altura, começaram a cruzar os dados do percurso de vida de cada uma e chegaram à conclusão de que nunca n(est)a vida tinha havido a mínima probabilidade de se terem encontrado antes. Separaram-se ainda alegres , mas cheias de interrogações. Nunca mais se voltaram a encontrar depois deste episódio.
A Etelvina jura ainda hoje, anos volvidos, que ambas tinham a certeza absoluta de que se conheciam…

Friday, June 01, 2007

Post-it

Não esquecer:
passar pelo CONTO LIVRE
e ler "Quem tem Medo de Lagarta Verde?"
by Kaotica.

Histórias de crianças

Era uma criança
e tinha um namorado
sentavam-se na carteira
lado a lado
chegava a primavera
muito enfeitada
e corriam de mão dada
pelas largas searas
e sorviam as sementes
verdes já gradas
dos trigueirais;
em dias de calor,
estudavam juntos
perto da água fresca
do tanque debaixo
do caramanchão em flor.
Rodou a volta da vida
que não quis saber
de nada
e, de repente, as fugas
entre o trigo crescente
quedaram somente
na memória...
tão bem guardadas
que, nesses cruzamentos
impossíveis do tempo,
tardios e inesperados,
encontraram nas palavras,
apesar da distância,
a teia delicada
intacta de outrora;
e atraía a má inveja
e doentios ciúmes
a cumplicidade
a amizade
e a doçura
que a aventura
da infância,
num só olhar ,
lhes trazia
e os envolvia
sem nada perguntar...
até um dia...
que a vida de novo
os separou
como sempre
sem data nem pré-aviso.
Mas ainda hoje resta
como uma festa
o trigo a crescer
em campos sem fim,
um tanque de água fresca
e um caramanchão em flor...