Saturday, December 30, 2006

Tempo em mudanças




























O Sol nascia
Cada dia
A oriente
Como sempre
Atravessava
A transparência
Do ar azulado
E chegava
Na essência
Intacto
Sem sopro
De aragem…


Agora tenta
Sem graça
Furar a carapaça
Do nevoeiro
Reposteiro
Cinzento
E denso
Gotículas
Partículas
De água lenta
Um logro
Na paisagem…

Friday, December 29, 2006

Ponte pedonal


À esquerda desta ponte pedonal em construção, situa-se a C+S de S. Miguel ( Guarda) . Passaram-se anos, anos e anos, desde a construção da Escola. De repente, nestes últimos dias tem sido uma azáfama incontrolável para pôr de pé a dita ponte, enquanto o enorme placard de uma rotunda mais abaixo continua a marcar 80 segundos para o final das obras do Pólis , do Rio Diz, obras que parecem não ter fim!!! ...à vista! Afinal, ainda devia haver para aí uns trocos para obras!!! Desejo que haja peões a usar a ponte!!! É que a maioria dos alunos da Escola ou utiliza o autocarro ou chega de carro. Outros peões andam mais a pé no Verão, em caminhadas infindáveis, em rancho... Isto sou eu , sempre de pé atrás! Mas, enfim, algo es algo...

Tuesday, December 26, 2006

"Magusto da Velha", Aldeia Viçosa ( Guarda)







Tradição do século XVII, o "Magusto da Velha" em Aldeia Viçosa, concelho da Guarda, data de 1698. Uma Velha ( uma mulher abastada, de que ainda não se conhece o nome) deixou à freguesia uma herança de 24 escudos e 60 centavos. Esta herança permitia ( permite) ao povo, no dia 26 de Dezembro de cada ano, comer castanhas que, lançadas da Torre Sineira da Igreja Matriz para o adro, são assadas no fogo do Natal. Em troco, a Velha exigia que, um dia ao ano, o povo lhe rezasse um padre nosso.



As «cavaladas» tinham por objectivo impedir que uns apanhassem mais castanhas que os outros.
( Livro de Usos e Costumes da Igreja do lugar de Porco - Ano de 1698)

Entre o Natal e o Ano Novo

Anda tudo na ressaca. Da bebedeira de presentes, da festa, da comida e das bebidas, de vários gerações juntas, num emaranhado de conversas e cantigas e trocas e novidades e fotos... Da casa cheia, começa pouco a pouco a sentir-se uma vaga nostalgia, quando se preparam uns e outros para partir mais uma vez com malas e sacos. Sentam-se à lareira os que ainda vão ficando, numa modorra peganhenta, enrolam-se as palavras preguiçosas e os risos por tudo e por nada mais por nada que por tudo, de peripécias recentes às mais longínquas em historietas-passagens de vida...

No tempo em que o Menino Jesus punha as prendas no sapatinho

Era uma menina de cinco anos, magrinha, alta para a idade, esguia, de tranças bem desenhadas. Vivia numa casa caiada de branco, caixilhos das janelas e portas verde-garrafa, frente ao mar. E tinha uma irmã, mais pequenina, moreninha e linda.
No Verão, no pequeno jardim, as ervilhas-de-cheiro erguiam-se em vaidosas cores suaves e um perfume singular alongava-se até à praia. Sobre o muro arredondado, pendiam trepadeiras de campânulas azuis.
No Inverno, o mar batia insistentemente à porta e se , descuidado, alguém a abria, ele entrava sem cerimónias pelo corredor fora em passinhos molhados e escorria, depois, porta fora, devagarinho.

Para ler o conto completo, usar o link do CONTOLIVRE ( ao lado) , sítio onde foi publicado, em primeira mão e para o qual foi propositadamente escrito.

Thursday, December 21, 2006

Bom Natal

No Natal, eu apenas quero
A minha princesa junto de mim
O meu amor a querer-me assim
Perdidamente como no soneto…

Quero a minha Mãe embrulhada
Num xaile fofo e quentinho
O meu pai lê o seu jornalinho
Antes da conversa animada.

A tia mais nova toda elegante
Abraça os queridos sobrinhos
A madrinha enche-os de mimos
Com ternura exuberante…

Se traz a viola , alegre, canta
O tio sempre muito bem falante
Passa pelas brasas um instante
E o cão enrosca-se na sua manta.

Chega a hora das refeições
Verte-se muita conversa fiada
E, no meio de grande algazarra,
As prendas abrem-se em canções…

Só quero uma coisa fantástica
Na nossa casa, neste Natal,
Que estejam todos, tudo igual,
Não quero mais nada de especial!!!


BOM NATAL...
Para todos os que me visitam (quase) todos os dias,
que sentem a minha falta e de quem sinto falta,
para os que me visitam só às vezes,
para os que me visitam só de passagem,
para os que nunca me visitam...

Wednesday, December 20, 2006

Abaixo de zero


Rasga os sentidos
Um ar de cortar à faca
Na corrente
de vento brutal
Junto à Catedral…

Os passos perdem-se
No granito gelado
Os ombros encolhidos
Escondidos
No meio do frio…

Os lábios gretados
Fechados
Da aragem campestre

agreste!

As luzes de cores
Espalham
Estranhas flores
Pela cidade …

Sob o sol frouxo
Brincam pardalitos
Pequenitos
Saltitantes …

Seca
a pele dorida
Estremecida
Um ar constante
Cortante
Pelas ruelas
E vielas.
Por cima um céu
Branco escorrido
Sem alarido…

Tuesday, December 19, 2006

Prenda de Natal














Eu quero adormecer nesta preguiça,
Cobrir-me dos fiapos da neblina.
E quente, no aconchego dos meus sonhos,
Acordar com as lágrimas dos campos,
As primeiras vertidas num novo dia.

uma prenda de Natal que me foi deixada um dia destes por JPG de OSINODAALDEIA .

Saturday, December 16, 2006

Quarto com janela

Enquanto acendo a lareira, estás tu sentada num parque a apanhar uns raios de sol outonais a um dia de distância e a pensar no rumo da nova fase da tua vida. A tua voz soa alegre, descontraída, tranquila. Até já dormiste as últimas noites, muito cansada, mas calma. Até aqui, andavas com um aperto à entrada do estômago e o estômago num punho. Subia-te até à garganta um nó indizível. Cortaram-nos há muito tempo um cordão que nos unia, mas continua a ligar-nos uma força misteriosa e eu sabia dessa angústia que a minha impotência não afastava de ti a não ser por palavras. Encolhiam-se-me as paredes do estômago e apertava-se-me a garganta, escapulia-se até aos olhos um ligeiro ardor de lágrimas. Mas sabia, porque me ensinaste a serenidade e eu te espicacei a lutar pelo teu querer e pelos teus sonhos, que afastarias as sombras, respirarias fundo, levantarias a cabeça e sairias à procura. Doíam-te as pernas e a coluna de tanto calcorrear as ruas de uma cidade que te atrai, de entrar e sair das estações do metro, de falar com gente-cidadã do mundo, de procurar, procurar, procurar. Sozinha. Fechava-se o círculo e escapava-se o tempo. À noitinha, tinhas novidades felizes na voz, não te cansavas de enumerar as qualidades da tua nova casa, o quarto com janela, o pátio… sobretudo o quarto com janela (parece ser agora um luxo em certos lugares) …Tinhas um quarto com janela numa casa bonita bem situada, a dois passos de um cinema e de três linhas de metro e eras dona do mundo inteiro. Era noite e estavas longe, mas falavas como se nos pudéssemos abraçar e estavas feliz, porque tinhas encontrado, depois de tantos passos, tantas horas, tanto desencanto, um quarto com janela…e querias partilhar essa janela que te fazia tão feliz… Chegou então a hora do descanso, pudeste dormir, sem horas marcadas, com o coração leve e, de manhã, sair para a rua, apenas a passear na cidade que vai passar a ser a tua cidade no novo ano. Já com convites para sair “de copas” e para jantar com amigos recentes…
Não tarda nada, regressas de avião, para tratar de alguns assuntos ainda pendentes e para as festas de Natal connosco, com os avós e tias e tios e primo, desta vez cão incluído na lista…
Eu, depois de ter palmilhado, a teu lado, invisível, as ruas que desconheço numa cidade nova, fico, como sempre, à tua espera, que quero saber pormenores da tua janela do quarto…
Até logo, minha Princesa!

Friday, December 15, 2006

Frio


A claridade transparente e nua do crepúsculo cola-se estática e crua ao azul desbotado
da tarde gélida.

O horizonte rosado do lusco-fusco contorna o nevoeiro algodoado que se escapa entre montanhas.

Entrada a noite, os abetos recolhem nas suas folhas as gotículas geladas da neblina que desce das serras. Adormecidos, permanecem vidrados até ao nascer do sol.

Sunday, December 10, 2006

Reflexos


A noite
gelada
a geada
cobre
de branco
o campo
os montes
o sol
lança
os braços
em abraços
preguiçosos
ansiosos
pelos vales
lacrimejantes
das chuvas
pelas encostas
rochosas
chorosas
de ventos
o sol
afoga-se
em reflexos
nas barragens
nos rios
nos tanques
perplexos.


Saturday, December 09, 2006

Ventania


Desceu da serra, pelas encostas, numa correria endoidecida, o vento gélido. Silvou pelos desfiladeiros, com perfume de neve. Arrastou nuvens cinzentas e brancas, carregadas de granizo e chuva, despejadas sem cerimónia.
Num caprichoso movimento, afastou as pedrinhas redondas e brancas como camarinhas e resgatou o sol para o esconder atrás de uma cortina de nuvens…
A noite caiu com estrondo negro sobre as casas. À janela, brilham estrelas cintilantes. O frio enrosca-se à lareira.

Tuesday, December 05, 2006

Mar


A noite apoderou-se da tarde , sorrateira , ali, num momento, junto às ondas do mar a quebrarem naturalmente na areia da praia.
Quedámo-nos sentidamente na varanda dos pensamentos em recolhimento, numa oração inabitual em honra dos deuses que conceberam estes instantes. Só para mim. Mesmo que apenas tenha restado desse tempo, no início da noite, sobre o tabuleiro, um artístico ramo de rosas. Inventado para mim.

O mar quebra e requebra em ondas, som e espuma. Os grãos de areia, indiferentes, desprende-se da sola dos sapatos.

Uma televisão continua a falucar uma linguagem monótona, incompreensível e desatenta, marcando um sono passado pelas brasas. Um telemóvel choca a calma semi-silenciosa com palavras de longe.

E o mar quebra e requebra, enfeitiçado, em espuma sobre a areia da praia.

Monday, December 04, 2006

1º de Dezembro


Serviu-se um pequeno almoço-surpresa numa mesa redonda. Em frente, o mar. Ponto de encontro inesperado.

Passeio de botas enfiadas na areia deixado o rasto do salto fino e o encruzilhado dos ténis marcados sem data numa brincadeira de adultas-crianças de ontem e de amanhã: os sentimentos, os olhares e os risos permanecerão entre gerações.

Caldeirada alegre a meio-sal condimentada de espantos, de ondas do mar, de sol e calor quanto baste, regada a Monte velho branco fresquinho juntou à mesa do almoço corações unidos pelo sangue, pela estrada e pelo destino.

Assinaladas as sombras no passeio e as pistas nas areias da praia, as palavras entrecortaram-se de risadas desconexas ao som das velas acesas. A Mãe , de poucas palavras, declarou-se feliz. O Pai, felicíssimo, fez um brinde. Corriam junto com o champanhe mil e uma recordações de mais de meio século e a tranquilidade e a sabedoria do tempo inevitavelmente fugidio. Transporto os episódios de que todos se lembram e os outros que quase ninguém recorda como se tivéssemos vivido ao lado uns dos outros em universos, às vezes, apenas paralelos, o que provoca espantos variados de impossibilidade.

Tarde


Alguém pintou um quadro de fogo ao entardecer.