Tuesday, April 24, 2012

Tempo

Já vi fazer uma cruz em cada dia de um calendário
para marcar a passagem do tempo
ou rasgar uma folha por cada dia
ou arrancar a página por cada mês
agora ela marca os dias que fogem
que faltam que se evaporam
em cada comprimido
arrancado à embalagem
todas as manhãs
quando atira a caixa para o lixo
ao fim de um mês termina um ciclo
começa tudo de novo
parece que começa tudo de novo
não começa é uma ilusão da linguagem
sente um arrepio como uma aragem
do tempo a escapulir-se em corrente de ar...

Thursday, April 19, 2012

Abraço

Já reparaste? Anoiteceu.
Quando te encontrar
vou correr para te abraçar.
Com saudades da memória
de um amor que não aconteceu.

Monday, April 16, 2012

No parque. Chuva.

Que saudades eu tinha
de caminhar à chuva
limpar a alma
seca do pó dos tempos
caminhar nesta calma
sentir cada gotinha
que a terra suga
e as flores sorvem
ficar assim parada
as andorinhas em acrobacias
rasantes sobre o lago cinzento
quedar-me assim deslumbrada
a sensação de fresca liberdade
das crianças de sempre
de outros tempos e lugares
a chapinhar em cada poça encharcada
chegar a casa molhada
e os pés às gargalhadas...




Monday, April 09, 2012

No Parque. O pardal.

O pardal
mal
me pressente
fica um momento
quieto no ramo ainda sem folhas nenhumas.
Voa
da árvore sem ainda folhas nenhumas
despida
para o ramo da árvore florida
cheiinha de folhas verdes.
Esconde-se.
Vou andando
muito lentamente.
O pardal rodeia o ramo da árvore florida.
Camuflado, queda-se entre a ramagem.
Uma miragem.
Espera.
Espera mais um bocadinho.
Vou andando.
O pardal
encolhe-se.
Joga às escondidas.
Como quem ri.
Voa.
Para longe.
Como quem ri à gargalhada.
Malandro, ainda te apanhei.
Na fotografia!