Thursday, September 15, 2005

quando os boatos são monstros reais

Ainda há um calorzinho simpático... que ajuda a esta modorra... de tanta gente a ver um governo a fazer tábua rasa de direitos mais que adquiridos - agora chamam-lhes expectativas por exemplo - e tudo calado, amorfo, anestesiado, ingenuamente à espera que isto não vai acontecer, não está a acontecer, já acontecendo, entranhando-se devagar , devagarinho, primeiro vem como um boato pequenino e ,como todos os boatos vai engordando engordando engordando mas ninguém acredita . Ninguém acredita, mas quem sabe das coisas percebe que a ideia é essa - o boato ajuda a mentalização e, quando já tudo está iminente, vem a pancada tão forte , fica tudo tão atordoado que se aceita tudo com o pânico a engasgar-se de angústia no estômago , com o medo maior imposto pelas ordens sem discussão, com o pavor da obediência que tem que ser cega , com o cachaço bem colocado no cepo para a pancada não falhar... dada por um papão que , nestes tempos , tem o nome de crise e défice da qual, todos são culpados , excepto os ministros , o prime minister e outros tantos, mas mais culpados mais mais mais mais são os funcionários públicos, esse bicho estranho com nome tão pavoroso e, depois em particular, os juízes, esses mandriões cheios de férias e os militares, esses que não aparecem quando é preciso , se aparecem estão sujeitos a levar um tiro e se dão um tiro são uns assassinos...os médicos nem tanto, têm força, a força da união...porque os mais culpados de toda a crise são os professores, os malvados, os calaceiros , os malandros que não têm feito nada estes trinta anos , pelo menos. Já tinham ao longo dos anos coleccionado culpas: falava-se dos incêndios, era a escola que ...ou que não...falava-se dos acidentes na estrada , era , é a escola que mais que sim e que não, falava-se dos maus tratos e lá vinha a lengalenga e , por cada problema que se discutia e discute , eu fico logo à espreita, ai! que desta vez, não vão falar da escola , ai que não vão e não vão , mas , no último segundo, para concluir, ah! que alívio para todos , foi falta da escola ... que suspiro de alívio, de todos , porque lá está um bode expiatório, e eu porque não se esqueceram do bode!!! Mas desta vez , foi lindo!!! Tanto que não tinham feito , tantas faltas, tantas culpas, nem andando o resto da vida a fazer penitência , apagariam essa culpa , a do défice , crise crise crise crise , e creio, neste momento que os próprios já se convenceram disso, pois não dizem palavra, baixaram a cabeça, amordaçaram as palavras e estão muito bem comportadinhos, como sempre a aceitar a aceitar a aceitar... o que acho sinceramente é que os nossos ministros e seu chefe devem ter ficado muito traumatizados na escola, nenhum professor lhes ensinou nada pois ninguém era capaz de lhes ensinar tanta arrogância tanto desrespeito tanta falsidade tanta ... lata!!! ninguém que tivesse vivido numa ditadura lhes ditava tais comportamentos ... o que eu acho é que foram infelizes porque nunca brincaram num "feriado" quem é que quereria brincar com gente tão cinzenta? e agora castigam as outras crianças impedindo-as de saborear o momento mais doce na escola porque eles não sabem o que é isso , e impingem-lhes um horário igual ao de um adulto : não aprendem , então vão aprender à força numa camisa de forças, ficam aí na escola todos formatadinhos como as maçãs e as pêras ... só que desde que as maçãs e as pêras e os Pêssegos e outros são formatados perderam o sabor... Ainda continuam a saber a maçã , a pêra , a pêssego os frutos não formatados , são os únicos que ainda - por pouco tempo mantêm o sabor quase genuíno... meteram-nos na cabeça que temos que ter o tempo todo ocupado e de preferência temos que andar sempre a correr de contrário somos uns animais raros... não queria ser criança nestes tempos...porque a escola com todo o mérito que possa ter e sempre tem muitos, não ensina tudo, não ensina os passeios com os amigos, as brincadeiras em liberdade, os gritos de euforia, as lágrimas de um desgosto, os abraços, os beijos, andar de bicicleta ao acaso pela tardes fora, uns joelhos esfolados, umas corridas sem tino, no meio dos campos de centeio, um cansaço bom de estar bem com a vida...pobres crianças que tanto têm e que não podem perceber que pouco têm... todos conspiram contra elas...