Saturday, April 09, 2016

Saudade



A lua inundou o céu, vermelha, majestosa, cheia de contos fantásticos e lendas.
O homem acordou o gato, embrulhou-se na manta quente e macia.
Instalou-se na varanda, sozinho e quieto, afagando, sem cessar,  a cabeça do gato
Que se quedou ronronando, aconchegado ao peito do dono solitário.
Adormeceram ambos, ao luar de Setembro, como se fosse noite em Janeiro.
O homem sonhou o corpo da mulher, descansado, desejado,  ali ao lado,
Envolveu-a num abraço, apertou-a contra si, fortemente,
Estremeceu, adivinhando que podia um dia perdê-la para sempre.
Ainda hoje acorda todas as manhãs e espera encontrá-la junto a si.
No café, o dono vê-o a olhar fixamente a primeira página do jornal diário
Sem nunca passar dali: aguarda que a mulher passe as folhas devagar,
 Não acontecerá nunca mais, mas o homem vive ainda essa fantasia.
Coloca dois pratos na mesa, escolhe a toalha que ela preferia,
 E chora,  dolorosamente, quando se dá conta da ausência prolongada.
O homem despertou manhã já entrada, os pés frios, a alma gelada.
O gato escapuliu-se-lhe do colo e entrou casa dentro sorrateiramente.


in 
Somos Instantes, Colectânea  
Papel d'Arroz Editora




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