A lua inundou o céu, vermelha, majestosa, cheia de contos
fantásticos e lendas.
O homem acordou o gato, embrulhou-se na manta quente e
macia.
Instalou-se na varanda, sozinho e quieto, afagando, sem
cessar, a cabeça do gato
Que se quedou ronronando, aconchegado ao peito do dono
solitário.
Adormeceram ambos, ao luar de Setembro, como se fosse noite
em Janeiro.
O homem sonhou o corpo da mulher, descansado, desejado, ali ao lado,
Envolveu-a num abraço, apertou-a contra si, fortemente,
Estremeceu, adivinhando que podia um dia perdê-la para
sempre.
Ainda hoje acorda todas as manhãs e espera encontrá-la junto
a si.
No café, o dono vê-o a olhar fixamente a primeira página do
jornal diário
Sem nunca passar dali: aguarda que a mulher passe as folhas
devagar,
Não acontecerá nunca
mais, mas o homem vive ainda essa fantasia.
Coloca dois pratos na mesa, escolhe a toalha que ela
preferia,
E chora, dolorosamente, quando se dá conta da ausência
prolongada.
O homem despertou manhã já entrada, os pés frios, a alma gelada.
O gato escapuliu-se-lhe do colo e entrou casa dentro
sorrateiramente.
in
Somos Instantes, Colectânea
Papel d'Arroz Editora
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