Wednesday, May 04, 2016

Não te conheci quando te vi a primeira vez



Não te conheci quando te vi a primeira vez:
O destino desatinado lançava os dados
e jogava  descaradamente à cabra-cega.
Sempre que te via não me apercebia
Dos fios do novelo, trocados, enredados
 Em cada dia como uma cegarrega.
O tempo seguia marcado nos ponteiros
De um relógio desatinado numa altivez
Desconcertante, os nossos encontros adiados.
Aquela noite, abraçámo-nos, numa dança inesperada,
A música louca enchia o espaço, mas não se ouvia
Nem se via o mundo, só sabia de ti, sem saber nada.
Não podia deixar-te, não respirava sem a tua presença,
Sem os teus abraços, afogava-me em mim.
Escrevias bilhetinhos com as flores e os beijos feiticeiros
Murmuravas cenários de utopia e crescia a crença
De um abismo salvador, a minha boca na tua enfim
A tua pele na minha pele sem fundo sem fim
Uma procura que terminava ali começava ali
As voltas, reviravoltas, espero por ti, vou fugir,
Tu vens, tu partes, voltas e não sabes, não sei se ir
Se ficar, sem mim, nada sabes, não sei nada, sem ti.
Tentámos os demónios, caímos em tentações,
Aliciámos os anjos, pecámos, unimos os corações
Tardámos séculos até encontrar o momento certo
Perdemos tempo, chegámos a tempo, tão perto.
Ainda dói a espera; apodera-se de mim, ao acordar,
 Junto a ti, um sereno sobressalto: deixa essa música tocar!

 in
PERDIDAMENTE
Antologia Poetas Lusófonos Contemporâneos
Colectânea de vários autores
Editora Pastelaria Studios

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