Saturday, June 02, 2007

(A)casos


Etelvina ia pela rua a cantarolar dentro da sua cabeça . A Etelvina que eu conheço não tem nada , mesmo nadinha a ver com a do Sérgio Godinho, aquela que, “com seis meses já se tinha de pé…” , embora ela até saiba a letra de cor. Então, ia ela com uma canção a repetir-se dentro da cabeça e, por acaso até nem era aquela atrás referida… Seguia descontraída e despreocupada e olhava num relance para as montras das lojas sem lhes prestar grande atenção. No entanto, chegou à porta da florista e abrandou o passo. Inclinou a cabeça e admirou através do vidro da enorme janela as flores expostas, as cores, os feitios … e , nisto, alguém de dentro da loja , numa alegria transbordante acenava-lhe risos e sinais de mãos… os olhos brilharam-lhe da surpresa, entrou e beijou a amiga numa efusão de saudades e de gargalhadas. Arrastaram-se uma à outra para um café próximo a atropelar as palavras, as vidas vividas, enquanto separadas, entremeadas sempre de espantos e risadas e abraços. Estiveram nisto metade da tarde: a trocar risos e detalhes da vida.

A certa altura, começaram a cruzar os dados do percurso de vida de cada uma e chegaram à conclusão de que nunca n(est)a vida tinha havido a mínima probabilidade de se terem encontrado antes. Separaram-se ainda alegres , mas cheias de interrogações. Nunca mais se voltaram a encontrar depois deste episódio.
A Etelvina jura ainda hoje, anos volvidos, que ambas tinham a certeza absoluta de que se conheciam…

8 comments:

Alda Serras said...

Extraordinário!! Amei!! Que (a)caso!!

CHEVALIER DE PAS said...

tenho uma história destas com uma ex-colega, certa vez, comentei com ela que tinha a sensação de já a conhecer, ela também tinha a sensação de me conhecer, nunca chegámos a conclusão nenhuma!
Ficámos as duas espantadas porque não conseguimos uma explicação para isso ser possível!
E eu sou céptica em relação à reencarnação e a vidas passadas.

mixtu said...

texto muito bem conseguido...
já passei por isso, não dos textos conseguidos, yayaya, mas pela experiência descrita
abrazo e mais fotos,

Osc@r Luiz said...

Clap! Clap! Clap! Clap!
Aplausos à minha amiga!
Será que coisas como essas não acontecem realmente, e se perdem por falta de quem as registre?
Hummmmm... Quem sabe...
Beijão!
P.S. Senhor "Chevalier de Pas": esteve no meu blog, foi gentil em se colocar no meu mapa e dizer palavras gentis e não consegui nenhuma maneira de agradecê-lo por isso. Assim, o faço por aqui, com a licença da Renda. Se houver outra maneira, por favor me informe.
Obrigado e um grande abraço!

rendadebilros said...

Chevalier de pas
Queria eu agradecer-lhe a sua visita , visitando também a sua "casa" e não encontrei a porta!!!
Como podemos ir até lá? Diga coisas!

Kaotica said...

Isto teria dado um excelente conto para o Conto Livre. Aquele blog anda meio parado. Até já pensei começarmos a arranjar por aí pela net uns contos para lá ir pondo, com indicação do autor e do blog, claro. Entretanto podias ir escrevendo unzinho para lá...
Desejo-te uma boa semana

Um abraço

CHEVALIER DE PAS said...

Cara Renda:
não encontrou a porta porque eu não tenho casa!

Caro Óscar:
não sei de que maneira possa ser!
é que eu não existo!

rendadebilros said...

Chevalier de pas
Pois então anda algum fantasma com este nome a deixar comentários em blogues, incluindo no meu, como se pode verificar facilmente... Fantasma ou não, é bem-vindo, se vier em paz!!!