Friday, October 12, 2007

As tílias

Devia ter trazido a máquina fotográfica... as tílias perfilam-se este fim de manhã em frente ao portão da Escola , como vem acontecendo há dezenas e dezenas de anos, mas hoje excepcionalmente felizes. A manhã veio muito cedinho fresquinha fresquinha a chamar os casaquinhos mais quentinhos e fofos. Depois, cresceu céu longe e trouxe um soberbo calor de Outono a cheirar a marmelos e diospiros e romãs em cambiantes de cores calorosas e doces, em despique com as tonalidades do verde ao amarelo das folhas incansaveis a cair no chão ( trabalho de Sísifo o dos varredores das nossas ruas por estes entretantos) e a garotada enche de vida esta paisagem sob o sol clarinho e suave, com Torre de menagem em fundo com ar de postal ilustrado. E as lições... que damos e recebemos, hoje estou a ganhar, que recebi mais que dei. O J. S. contagia com o seu entusiasmo e ensina e sabe tudo de sites e blogues e versões disto e daquilo, vai a cem à hora, que só tinha meia hora para me esclarecer, e eu, a correr, a correr, a cabeça cheiinha de pressa para apreender tudo e ele, naquela tranquilidade sábia de onze anos, a dizer que tudo é muito fácil, não preciso de me preocupar, é melhor tomar nota disto e daquilo e do outro e eu, regalada, a dizer a toda a gente que estava a ter uma aula de informática e ele com aquela serenidade impressionante como se isso fosse a coisa mais natural deste mundo, a verdade é que é, devia ser se não é... e as tílias têm um aspecto cada vez mais bonito e o sol brilha divino sobre a cidade e a garotada brinca no recreio, senta-se nas escadas, conversa sem saber de quê, que importância tem isso... ouve-se a aula de Educação Física e os gritos de "goooolo!" e parece tudo tão certo, tão certo que me ponho a escrever ao correr das teclas, se calhar ficam aí umas palavras com as letras trocadas, mas tenho que dizer isto, desta sensação que pode não se repetir logo à tarde, daqui a bocado já não se vive a mesma cena da mesma maneira, já as tílias podem ter abanado os ramos, podem ter caído mais umas folhas e é por isso, já nada é mais a mesma coisa, já a criançada desata numa correria ao toque da campainha, já se perdeu a magia, já se perdeu a consciência da beleza desta milésima de segundo, o J.S. a tirar-me as dúvidas, a surpresa de todos, tudo invertido, pode haver um grito mais alto, mais desajustado e o sol pode assim ficar desafinado , e as tílias brilharem menos... por isso, dedilho aqui estas teclas escuras com as letras brancas a toda a pressa que o tempo urge, ruge silenciosamente a passar e o relógio saltita em bicos de ponteiros e as tílias... ali, em gfrente ao portão, mesmo ao fundo das escadas... e o sol suave , suave e é tudo tão simples e tão bonito...

7 comments:

zef said...

E não é que, de repente, me apeteceu regressar?
Renda, sejam muitos os dias assim.
Um abraço

Anonymous said...

Bom fim-de-semana ;)

Catarina de Bragança

Meg said...

Renda, mas quanta inspiração.
Rendo-me à tua prosa, tão exuberante de sentimentos. Que bom sentir-te assim.
O que fazem as tílias!
Bom fim de semana.
Beijinhos

Carminda Pinho said...

Que bom que as tílias servem para acalmar (em chá) e, também te serviram a ti para te inspirar daí, este belo post.
Fica bem, beijinhos com tílias.:)

Anonymous said...

Tenho duas tílias na memória da minha infância...hoje ameaçam-nas os adultos com as suas ambições pelo (enbrute)cimento...Coisas.
Abraço!

Anonymous said...

Belo retrato! Sabe bem imaginá-lo...

Quem precisa de imagens?!

Um Xi da Porca

Kaotica said...

Olá Renda

Tenho falhado as visitas mas ainda bem que hoje aqui vi respirar o odor das tílias. Pensei até em plantar esta tília lá no nosso Conto Livre, posso?

Desculpa-me se agora não vier tantas vezes. Mesmo o Pafúncio vai ter que ficar um bocado depenado!

Um abraço