O calor , chegou o calor!
Queda-se nos campos
o feno cortado
estendido ao sol
como outrora
nas eiras do Douro
o milho dourado ...
e o meu avô calejado
encostado ao mangual
rastreava com os olhos
as terras calmas
em socalcos
a correr para o rio...
e do outro lado
Resende
"-dizem que viva Resende
não sei que graça lhe achais
terra do milho miúdo
alimento dos pardais-"
cantavam ao desafio
em despique
nas noites da desfolhada
com beijos de mel
em horas de milho-rei
pelo s. miguel
e a minha avó
entre as panelas de ferro
e as malgas cheias
de caldo a rescender
a ementas nunca mais
saboreadas
nem Jacinto
a subir para Tormes
e a provar a canja
e o célebre arroz de favas
se lhes compara
e as pequenas acaloradas
os pés descalços
a chapinhar
pelas levadas fora ...
e as uvas gordas
a inchar pelas tardes
e as meninas a seguir
o avô em passos
de sombra
que ele tem um segredo:
na ramada do Rosso
preso nos bagos maduros
de Fernão Pires
vivia o sol!
4 comments:
Belo texto Renda, até me pareceu que estava a assistir a tudo aquilo tal a veracidade da descrição.
É de recordações destas também que se vive..."panelas de ferro e as malgas cheias de caldo...".
Bjs
Outros tempos...
Agora as comidas imitam as das cidades e o roncar dos tractores substituiu as pachorrentas mulas no arar dos campos. E, embora algumas tradições se mantenham, a aldeia é cada vez mais cidade.
Bom domingo!
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Carminda e Bell
Assisti mesmo ... em tempos que já lá vão e Tormes ficava mesmo ali à lonjura de um passeio a pé pela tardinha...
Olá! Muito bonito, e se mergulharmos profundamente no poema conseguimos até sentir e cheirar todas as suas descrições.
Beijinhos
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