Sunday, October 28, 2007

Sol da tarde

No ritual
de final
da tarde
ora antecipado
arrimado
à parede
da igreja
busca
as frouxas
réstias
de sol
um velho
acompanhado
de solidão.

Saturday, October 27, 2007

Pensando...


Será do tempo de Outono uma nostalgia que atravessa o sol e, como o friozinho fresco desta tarde, entra nas pessoas , entristece as palavras e deixa no ar as saudades? Nem se sabe de quê! E todas as filosofices são permitidas entre o olhar as paisagens fugazes em tempo mudado e o folhear alheado de um livro, um jornal, cada um rapidamente abandonado sobre uma mesa. Há instantes como pessoas. Cruzam-se connosco e envolvem-nos numa nuvem amarga, secam tudo à sua volta, em visão de terra queimada. Momentos há que seguem indiferentes sem deixar rasto. Outros, porém, são simples, instantâneos e fortes, e dessa simplicidade, brota uma energia, uma presença, uma luminosidade que marcam para sempre. De uma palavra, um gesto, um silêncio. De um nada. Que é luz. Ontem, aconteceu. ( Acontece e não damos conta). E agora voam pombas em bandos num baile mágico. Numa alegria desconcertante que as folhas amarelas e murchas não entendem e, por isso, caem desalmadas no pavimento. São estes equívocos que trazem, nestes dias, os corações desencontrados à procura de calma.

Friday, October 26, 2007

Sussurros outonais

Há um murmúrio de vozes e folhas amarelo-castanho-avermelhadas a viajar pelos ares. Num tranquilo desassossego de fim de manhã. O céu esbranquiçou-se de luz.

Thursday, October 25, 2007

O Outono chegou enfim?



Esta manhã, o sol apareceu falso ilusório baço. Zunia junto à face uma aragem agreste. Encolhiam-se as folhas caídas junto aos muros varridas em remoinhos. Nas árvores, as folhas que restam agarradas aos ramos ficaram amarelas de repente.




Para a semana, voltarei a "sair" e farei visitas. Algumas.
Obrigada pelas palavras amigas.

Wednesday, October 24, 2007

Veio o Outono

Veio o outono atrasado
com cheiro saudoso
a castanhas assadas
apetece um chá
bem perfumado
de flores silvestres
sobe no ar
vertical
tal lâmpada genial
um fumozinho
saboroso
uma palavra serena
em letra pequena
gostosa de poesia
e harmonia...
veio o outono
silencioso ...
e esperado!!!

Tuesday, October 23, 2007

Da alma


Fica-se doente. Da alma.
lê-se no olhar.
chega uma aranha e constrói uma teia.
com pezinhos de lã, estica os fios,
desarruma-os em palavras.
enreda-as. estende os desenhos,
envolve-os em fel.
cola-os. reforça-os.
basta
ficar à espera.
espera
e ataca
pela calada.
Nada
se pode deslindar
na teia armada
na cobardia.
Fica-se doente.
da alma enganada.



Intrigas

Intrigas lidas nas entrelinhas de palavras em dia susceptível. Ligadas a outras palavras a propósito de assuntos outros, juntas numa amálgama de preconcebidas confusões. Como se escutassem atrás das portas palavras soltas esfarrapadas. E , centro do universo, se achassem aludidos em cada qualquer palavra em outras sequências... como se não houvesse meio de esclarecer palavra por palavra, procura-se antes o confronto à revelia. Com amigos destes, quem precisa de inimigos?

Monday, October 22, 2007

olho o céu

olho o céu
azul riscado
de branco
o outono
em pranto
consome
a terra
de fome
e de sede...

...por falta de tempo...

A partir deste momento, por falta de tempo, visitarei os blogues ( amigos e outros) , sem deixar comentários.
Boa sorte a todos.
Estarei, no entanto, disponível e contactarei, por mail, cada um que assim o entender!

Saturday, October 20, 2007

Rimas sem jeito nenhum...

Rimas sem jeito nenhum nem sei a propósito de quê…

Em reunião cheia de alegria
Abraçavam-se uns senhores
Impantes radiantes
cheios de salamaleques
a “assinar” um belo tratado
muito bem cozinhado

e lançaram tantos foguetes ao ar
que até parecia que o dito
não vai ter que ser ratificado
por isso se calhar
os foguetes eram de lágrimas
embora coloridos…
o Zé povinho a gritar
(eram aos milhares)
não teve direito a notícia
com grande perícia
os “grandes” jornalistas
tal conseguiram evitar

Acabada a festa
Da minha aldeia
Voltarão cada um
Para sua colmeia …
Veremos se algum
Leva na ideia
A realização de um referendo
Ou se a democracia dá jeito
Apenas quando convém…
Ou se o povo se deixa
Ficar a adormecer em sono lento
Ou se este contentamento
Explode na mão de alguém…

São assim as festas na minha terra
A ressaca depois da música dos bombos dos foguetes
Do vinho a correr nas gargantas alegretes
Custa sempre muito a curar…
...

Friday, October 19, 2007

No alto



A Torre


no alto do Castelo

na foto parece inclinada

tem graça

nunca tinha reparado

a Escola

ao lado

bem lá no alto

não admira nada

que a cabeça pareça

desanuviada

mas ande atarantada

com tanta papelada

valem as janelas altas

abertas para a lonjura

que entra pelas salas

dentro mesmo sem ser

convidada.

Monday, October 15, 2007

Cheiro a tílias e a terra




Choveu.
Ao longo do horizonte, uma linha de luz.
E, descendo as escadas quotidianas, anda no ar o perfume das tílias
e o cheiro fresco da terra.


Singelamente, para todos, em especial, para a Carminda...

Saturday, October 13, 2007

São estas as tílias


Que me importa o inútil

Se mexem as folhas

E me abraçam as tílias

Em negaças ao sol

Que me importa o papel

Se ao vento me dou

E é ele quem transporta

A minha canção.


Autor: J.G. O Sineiro

Friday, October 12, 2007

As tílias

Devia ter trazido a máquina fotográfica... as tílias perfilam-se este fim de manhã em frente ao portão da Escola , como vem acontecendo há dezenas e dezenas de anos, mas hoje excepcionalmente felizes. A manhã veio muito cedinho fresquinha fresquinha a chamar os casaquinhos mais quentinhos e fofos. Depois, cresceu céu longe e trouxe um soberbo calor de Outono a cheirar a marmelos e diospiros e romãs em cambiantes de cores calorosas e doces, em despique com as tonalidades do verde ao amarelo das folhas incansaveis a cair no chão ( trabalho de Sísifo o dos varredores das nossas ruas por estes entretantos) e a garotada enche de vida esta paisagem sob o sol clarinho e suave, com Torre de menagem em fundo com ar de postal ilustrado. E as lições... que damos e recebemos, hoje estou a ganhar, que recebi mais que dei. O J. S. contagia com o seu entusiasmo e ensina e sabe tudo de sites e blogues e versões disto e daquilo, vai a cem à hora, que só tinha meia hora para me esclarecer, e eu, a correr, a correr, a cabeça cheiinha de pressa para apreender tudo e ele, naquela tranquilidade sábia de onze anos, a dizer que tudo é muito fácil, não preciso de me preocupar, é melhor tomar nota disto e daquilo e do outro e eu, regalada, a dizer a toda a gente que estava a ter uma aula de informática e ele com aquela serenidade impressionante como se isso fosse a coisa mais natural deste mundo, a verdade é que é, devia ser se não é... e as tílias têm um aspecto cada vez mais bonito e o sol brilha divino sobre a cidade e a garotada brinca no recreio, senta-se nas escadas, conversa sem saber de quê, que importância tem isso... ouve-se a aula de Educação Física e os gritos de "goooolo!" e parece tudo tão certo, tão certo que me ponho a escrever ao correr das teclas, se calhar ficam aí umas palavras com as letras trocadas, mas tenho que dizer isto, desta sensação que pode não se repetir logo à tarde, daqui a bocado já não se vive a mesma cena da mesma maneira, já as tílias podem ter abanado os ramos, podem ter caído mais umas folhas e é por isso, já nada é mais a mesma coisa, já a criançada desata numa correria ao toque da campainha, já se perdeu a magia, já se perdeu a consciência da beleza desta milésima de segundo, o J.S. a tirar-me as dúvidas, a surpresa de todos, tudo invertido, pode haver um grito mais alto, mais desajustado e o sol pode assim ficar desafinado , e as tílias brilharem menos... por isso, dedilho aqui estas teclas escuras com as letras brancas a toda a pressa que o tempo urge, ruge silenciosamente a passar e o relógio saltita em bicos de ponteiros e as tílias... ali, em gfrente ao portão, mesmo ao fundo das escadas... e o sol suave , suave e é tudo tão simples e tão bonito...

Wednesday, October 10, 2007

Inutilidades

Das grandes janelas

luminosas e antigas

apetecia o sol

e a tarde majestosa
que corria calma;

sobre as mesas amarelas

papéis fastidiosos

amarfanham a alma
e toldam o entendimento
esgotam a energia
e a alegria da hora
que avança
e os ramos entrelaçados
das tílias lá fora
sussurram segredos
suavemente encantados...

Sunday, October 07, 2007

Sete à mesa

Cada um de seu lugar
marcaram
um ponto
e aí se encontraram
entre o sol
os inícios
e os caminhos
andados
entre a dúvida
e a (pouca) certeza...
atropeladas
as palavras
pela emoção
no canto da garganta
e nos abraços
apertados
e umas lágrimas
enroladas
no coração:
sete à mesa...

Friday, October 05, 2007

pensamentos em passeio




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ténis velhos nos pés
mp3 nos ouvidos
capa da chuva - a manhã dançou radiosa de sol, mas a tarde preferiu o cinzento das nuvens
chaves no bolso direito
máquina fotográfica do outro lado
óculos de sol - não há sol, mas andam sempre poeiras no ar, diz o oftalmologista, protegem os olhos e os meus com carácter de urgência
marca a música o ritmo do caminho
a ponte pedonal - obra iniciada no natal de dois mil e seis parece pronta-
não foi ainda inaugurada
atravessemos a estrada
automóveis para cá e para lá
pessoas quase não há
segue a música cat-cha... pum...
ca...tch...pum a compasso
o parque infantil - o maior da Península Ibérica!-
vem dos primórdios do Pólis
pomposas palavras
equipado a preceito
cada equipamento que deixa os olhos abertos de espanto
mas não há crianças nos baloiços modernos nem no canto
do mini-anfiteatro nem em lado nenhum
os passeios aprimorados
os espaços ajardinados
mas ainda não inaugurados
e a música ... "no vento do norte...
... fogo de outra sorte...
... sigo para o Sul...
sete mares.... "
corre a meio a ribeira do Rio Diz que tresanda de maus cheiros
uma dificuldade
sem resolução à vista
alcandorada no alto
a cidade ...
uma bandeira
hasteada
ondula pregada
no céu!

Tuesday, October 02, 2007

Outono


A chuva caía , macia, ao anoitecer e luzia a água nas poças em círculos minúsculos.

Escuridão dentro, engrossou e desatou a correr campos e estradas fora até ser dia.

As árvores tresloucadas, despenteadas pela ventania soltam folhas repentinamente amarelecidas.

À esquina, um homem, sob as gotas acocorou-se e escreveu, na areia cinzenta da borda escaqueirada do passeio, umas palavras aparentemente incompreensíveis.

Dizem que, numa estrada da Galiza, um poeta anónimo espalha os seus versos em maiúsculas ao longo do alcatrão, como se registasse os seus pensamentos num antigo quadro negro da Escola.

Ou os lançasse ao vento em mensagens globais.