Friday, September 21, 2007

A casa dos avós





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A casa.
A casa que foi dos meus avós.
A casa com aquelas janelas da sala.
A sala enorme com uma mesa comprida e pesada.
A mesa dos almoços fartos e longos de domingo.
Abríamos a janela e colhíamos cachos de uvas negras “mouriscas”.
Os cachos de bagos redondos e gordos.
Trincávamos entre os dentes os bagos rijos.
Os bagos desfaziam-se dulcíssimos na boca.
No andar de baixo, havia uma porta.
A porta dava para a adega e para o lagar.
Do lagar subia em tempos vindimos o aroma do mosto.
Junto ao grande portão de madeira, desciam meia dúzia de escadinhas de pedra.
No Verão, corria pelos degraus, vinda de longe, uma levada de água abundante e fresca.
A água corria das poças, encaminhava-se pelos regos cuidados até aos campos de milho.
À tardinha, ainda o calor ardia nas pedras, três garotas riam.
As garotas chapinhavam, exuberantes, na cascata particular à porta da casa.
A casa dos avós.
A casa.

15 comments:

Alda Serras said...

É linda a casa dos teus avós. Lindas as recordações que guardas dela.

Anonymous said...

Amiga
Não recebi, envie, por favor para nuno.rezendearrobagmail.com

Odele Souza said...

Renda,
Lindas as fotos e uma doçura este seu poema, relembrado a casa de seu avós. Essas lembranças são jóias de nossa memória e devem ser preservadas, e como o fazes em forma de versos, é uma homenagem das mais bonitas.

Voltei a olhar sua foto, aquela que me encanta. Quantos anos você tinha na época? Menos que 10 talvez, pois parece que é a fase da troca dos dentes, ou me engano?
E aquela flor na mão? E o laço na cabeça? Uma graça...
Um beijo.

zef said...

Poema em ritmo de bocados das lembranças. Espontâneo e leve, a dar tempo para ler e olhar a casa, sobretudo a janela de vidros miudinhos(as janelas interessam-me sempre...); tempo até para depenicar bagos de uvas e para adivinhar o cheiro do vinho doce a subir pelas tábuas do soalho(a casa dos meus avós - dava-lhes outro nome - também tinha uma janela onde roçavam uvas malvasia).
Gosto destas casas: a de pedra e ramada e a que fala dela.
Um abraço e bom descanso

Andreia said...

Também me fizeste lembrar a caa dos meus avós!

Meg said...

Renda,
Porque que será que as casas dos nossos avós tem muito mais encantos que a dos nossos pais?
Eu sofro do mesmo mal, Renda. É como se fosse o reino da nossa fantasia! E este post deu-me saudades. E se te disser que quando fui avó, ainda era vivo um dos meus avós!!!
Beijinhos

Papoila said...

Querida Renda:
A casa dos avós é sempre um mundo mágico das lembranças de quando somos donos do Mundo...
Doce este poema Lindo! Linda a casa!
Enquanto te lia recordava a casa dos meus avós e meus primos... as brincadeiras...
Beijos

Carminda Pinho said...

Ai renda, que me fizeste chorar.
Ao ler o teu post, fiz uma viagem à minha infância e à casa da avó Laura lá em Mogofores. O que eu gostava lá estar, brincar. Lá o pátio era enorme, a casa era de pedra e madeira, via-se o sol através das telhas, o chão rangia quando no andar de cima caminhava, e as chávenas penduradas no guarda loiça tilintavam. Era pobre a minha avó, pobre de haveres mas rica em sentimento, em amor e honestidade.
Nesta altura do ano, ia com ela vindimar, para os "senhores", eram os donos das terras.
Foi bom recordar a casa da avó Laura.
Obrigada amiga por mo teres proporcionado.

Se tivesse aqui uma barrica de ovos moles, acho que a comia toda agora, pelas saudades...
Beijinhos

Jorge P. Guedes said...

Olha que giro, é muito parecida com uma casa de família no Douro. Por baixo havia duas portas para adega e em algumas das janelas davam para uma laranjeira de onde logo pela manhã colhíamos as primeiras laranjas.

Muito interessante.

Um abraço.

Kaotica said...

Que boas memórias conservas dessa casa maravilhosa. E como sempre gostei tanto da forma como as conservaste neste poema.
Desejo-te um bom Domingo.

Abraço

Osc@r Luiz said...

Muito bacana essa coisa do resgate das raízes.
Enche a gente de lembranças...
Aproveito as belas paisagens para desejar que essa querida amiga tenha um excelente outono!
Hoje começa a primavera aqui e o outono aí.
Um beijo!

Anonymous said...

Vim acolher-me à casa dos teus avós, a esse sentimento de pertença que nos completa e conforta. Linda evocação, Renda!
Beijo

A Professorinha said...

Fizeste-me recordar os belos tempos da minha infância a correr pelo quintal dos meus avós, as vindimas, as castanhas... tudo... Era tão feliz e não sabia :)

Beijos

Anonymous said...

Lindo texto, Renda ! É consolador, não é, evocar assim tempos que nos fizeram felizes ? Porque será que nos reconhecemos nos pormenores ? Como gostava que os meus netos se lembrassem assim da minha casa ? Mas acidade não tem essa beleza nem cheiros, nem ...
Renda, guarde sempre, bem quentes, as memórias e as palavras lindas com que as evoca. Beijo.

jorge esteves said...

...e vou apostar numa fotografia bem recente e num lugar fresco do Minho, ou coisa que se aproxime...
(aquele termo das 'mouriscas'...)
abraço.