Wednesday, November 08, 2006

Telepatia

Fomos numa viagem-relâmpago ao Porto ver a Mãe. No caminho, disponível de espírito e do olhar, entremeadas as conversas e os pensamentos, pensei enviar uma mensagem. Nos segundos seguintes, toca o telemóvel. O nome no visor surgiu telepático e intermitente. Atendi , ouvi a voz e fiquei tão pasmada que a minha própria voz saía arrastada de incredulidade. Já me aconteceu, várias vezes, um pensamento assim, que se concretiza a seguir, sem que eu faça nada... mas reajo sempre da mesma maneira. Pasmada. Já nos encontramos no "messenger" em vez de trocarmos telefonemas, cartas ou irmos até ao café, mas estas experiências, embora me tragam quase sempre alegrias, mexem comigo, e ainda estremeço de certas coincidências escritas sabe-se lá em que patamar das nossas vidas. Ainda por cima, sem bateria, ficámos a meio da gargalhada e da ocorrência do dia, do reconhecimento de que a internet é mesmo uma grande estrada, é imparável e é incontrolável. Para o bem e para o mal, como todo e qualquer invento, funciona.
A Mãe lá estava, débil e queixosa, no cantinho do seu sofá, estremeceu-lhe a voz, quando nos viu. Animou-se e conversou. Destes dias. Doutros dias. De dias de há muito. O Pai enlaça as peripécias da sua vida construindo redes de estórias e episódios infindáveis, como se nunca tivéssemos saído de junto dele, na mesma cadência entusiasmada com que as viveu. Agora pensa que precisava de ter dinheiro para contratar uma secretária e conseguir escrever tanta vida.
Rumo à auto-estrada, erguia-se lá para os lados de Espinho, para as bandas do mar, um sol vermelho-cereja, enorme sol-poente redondo impressionante riscado de umas nuvens cinza-escuras. Sem hipótese de o fotografar, abandonei-me ao deslumbramento do fim de tarde naquele quadro impressionante, afastando-me na velocidade dos 120. A noite ainda nos apanhou no caminho.

1 comment:

vareira said...

Que bom andares por perto de mim...