Monday, February 22, 2010

Passados

o velho arrastou os pés

com uma mão no peito

através

do caminho estreito

afastando as silvas

tropeçando

nos arbustos invasores

até à casa dos bisavós,

a casa em ruínas

as paredes ainda de pé

abrigavam árvores novas,

o sobreiro antigo engrossou

a figueira velha medrou

a videira apoiada ao choupo

mirrou

de tristeza entre devoradores

trágicos dos miasmas

de antepassados fantasmas;



o velho encostou o corpo

à parede

estendeu as mãos, quis rodear

todas as vidas passadas,

o tempo escorreu-lhe

entre os braços,

as vidas passam

tão depressa,

ainda ontem saí desta casa

cheia de gente

à procura do mundo,

agora regressei

e já não encontrei

ninguém...



o telhado há muito caiu

ruiu

a chaminé, na pedra do lar

na cozinha de terra batida

nem as marcas das cinzas

vingaram...



o velho lançou um olhar

ao sobreiro que restou,

à figueira, ao choupo preso à videira,

retrocedeu mais encurvado

pelo caminho estreito

a mão no peito,

a reter as lágrimas na garganta,

o tempo corre danado

como torrente

indomável ...



a mão no peito

pelo caminho estreito

arrimado

às lembranças,

as lágrimas

presas na voz,

a mão no peito

pelo caminho estreito...

1 comment:

gaivota said...

e de mão no peito, lá segue o velho
pelo caminho estreito...
tão bonito
num fim de semana ventosooooooooo e chuvosoooooooooo
beijinhos