Thursday, April 24, 2008

Com sabor a chuva

Pus-me a contar os riscos da chuva
a bater nos vidros da janela
até formar uma corrente
descendente…

olhei para lá do verde e do longe
e dei comigo na terra da infância
qual proust a provar a madalena
recupero o sabor desafiante
do pão centeio com travo escuro
numa terra de arribas de um belo horrível
onde nas escarpas ainda vivem águias
e onde no remanso do rio cresciam laranjeiras
e as laranjas sabiam a mel e a sossego
e fazia frio um frio tão nítido
que ainda hoje se instala em mim
a cada Inverno que passa
numa terra em que o frio era tão branco
que nunca mais vi um branco igual
à brancura daquela neve intacta…


e quando o sol voltar a terra vai mudar
e chega-me um mar de recordações
com cheiro a maresia que entra na barra
e percorre a baía –concha
e sobe dos canteiros o perfume
a ervilhas de cheiro coloridas
e eu tenho tranças…

Parou de chover!

15 comments:

Ana said...

Quando voltamos à infância , pára sempre de chover.

Fiquei apenas com o sabor a chuva e a vontade de te ler mais.
Um beijo.

Carminda Pinho said...

Sabor a chuva... num dia de sol e de inspiração plenos.

Voltaste às tranças amiga?
Eu de vez em quando volto não às tranças mas aos caracóis:)
Hoje voltei sómente 34 anos atrás e vi-me, primeiro cheia de medo, mas depois à medida que ia ouvindo rádio e vendo a televisão em casa, que a minha mãe não me deixou sair, depois de voltar da rua onde viu a calçada da Ajuda cheia de tropas a mandarem toda a gente para casa.
Nessa calçada ficavam vários quartéis entre os quais Cavalaria 7 que foi o último a render-se aos capitães de Abril.
Agora ficava aqui a noite inteira a descrever o meu dia 25 de Abril de há 34 anos tinha eu 20 e, tinha tantos sonhos...

Beijos amiga.
Deixo-te um cravo de Abril e um xi-coração.

mixtu said...

parou de chover...
chuva que nos faz escrever poesia
um regreso a tierras ed infância
laranjas de mel
e o frio...

abrazo serrano, poeta amiga

Isamar said...

Ainda venho a tempo de te deixar um cravo de Abril com aroma de Liberdade.

Beijinhossss

p.s. Amanhã voltarei para comentar o teu poema. Deixou de chover e de fazer frio?

zef said...

Renda, a contagem dos riscos deu uma história bonita, por simples e bem contada (aquela "baía-concha"!), ó menina dos laçarotes e das tranças também!

Andreia said...

O sol já voltou!

andorinha said...

Voltou o sol, a terra mudou, no mar de recordações que o teu poema evoca.
Um beijo.

Anonymous said...

Este espaço encanta-me pelas palavras que tem e por tudo o que elas me fazem sentir.É um espaço de encanto e de encantamento.Costumo vir aqui para me sentir tranquila e conviver com as minhas próprias recordações.
Obrigada
Um abraço
Esperança

rendadebilros said...

Bom domingo para todos, em especial para a Esperança, a única que não posso visitar no seu blogue por desconhecimento.

o escriba said...

as minhas desculpas, o meu cantinho é
http://somadeletras.blogspot.com

um abraço
esperança

Carminda Pinho said...

Amiga,
com sabor a sol, venho desejar-te uma óptima semana.:)

Beijos

o escriba said...

Amiga rendadebilros

obrigada por me ter visitado e me ter linkado no seu espaço.
Pelas palavras que recolhi dos seus post creio que somos colegas de profissão e de vocação.
Continuação de boa semana de trabalho.
um abraço
Esperança

Alda Serras said...

Agora reparo, tens tranças na foto. Choveu mais do que água nesse dia... e, ao contrário da Ana, julgo que quando parou a chuva, também cessaram as recordações. É uma interpretação.


Deixei-te um desafio no meu blogue. Espero que aceites.

Carminda Pinho said...

Renda! Por onde andas amiga?
Venho desejar-te um bom dia do Trabalhador.

Tens um prémio lá em casa.:)))

Beijos

Isamar said...

É tão bom recordar, Renda! Faço-o inúmeras vezes talvez por necessidade, talvez para me reencontrar com as serranias rudes que me viram nascer às quais tanto devo.
Beijinhosss

Bom 1º de Maio.