Sunday, April 12, 2015

Memórias

Uma palavra, uma imagem
corre voraz o mundo
à velocidade da luz
traz paz ou amor profundo
agora anjo de asas puras
logo obra do diabo
de origens obscuras
chega-nos sem contar
com a brusquidão
de uma bofetada
de um azarado trovão
o cérebro confuso
as sinapses em paragem
sem saberem que pensar
um baque no coração
no estômago uma azia
assalta-nos sem parar
um vómito, uma agonia.

Há tanto tempo não te via
vi-te depois da passadeira
quase ao virar da esquina
atitude sempre sossegada;
foste embora de sorriso triste
como quem se despedia.
Quando voltei a ver-te
Tinhas o rosto parado
Pespegado num folheto
Banal de uma  funerária
Soltei um grito de espanto
Ali estavas quieta, apagada
na lista arbitrária
a que ninguém escapa.

Vai uma pessoa pelo caminho
um bocado à toa
cruza-se com uma pessoa
que não vê há tempos
ou vê todos os dias
e sem mais nem quê
a pessoa apaga-se.

Abrigo-me no sono
cortado a meio
no meio da noite;
pesadelos aberrantes,
estridentes sobressaltos
espezinham os sonhos,
arranham o pensamento
até que a luz da madrugada
espante os espíritos errantes,
os fantasmas desconcertados,
abram essas janelas devagar
de par em par, deixem lá
a música namorar as palavras
dos poemas vagabundos,
deixem lá a memória resistir
ao esquecimento.







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