Friday, March 29, 2013

A minha Mãe

Chove.

A minha Mãe branca, fria, silenciosa, coberta de flores.

Chove.

O meu Pai arranca do coração gritos de pedra.

Chove.

Nós emudecemos de espanto da ausência

que entra pelos olhos dentro e nos cega.

O meu Pai recorre os passos da vida dele.

                                                da vida dela.

                                                da nossa vida.
Como uma via sacra.

Chove.

Chove. Ou não chove.

Quem passa, deixa palavras que mal se ouvem.

O meu Pai em solilóquios de dor não acredita.

Sabe que as pessoas chegam e partem

partilham o seu sofrimento

e ele percebe isso e fica incrédulo.

Parou de chover.

A minha Mãe esconde-se num buraco escavado no chão.

Cobriram-na de rosas vermelhas. Nós temos os olhos vermelhos.

Já não temos lágrimas.

Andamos por ali como sonâmbulos enlouquecidos.

A falar baixinho. Sem falar. A trocar tudo.

Aos abraços. A alma aos tropeções.

Chove.

A minha Mãe, branca, fria, coberta de flores.

Sempre que voltarmos de longe ou de perto,

se demorarmos muito ou pouco,

quando abrirmos a porta,

Ela já não vai estar lá, como sempre esteve, à nossa espera.

Chove. Outra vez.

3 comments:

Duarte said...

Que desgarro...
Mas belo!

Abraços de amigo

irene alves said...

É triste....
Que sucedeu?
Faleceu sua mãe?
Bj.
Irene Alves

Duarte said...

Li, mas tive que ir-me embora, cada verso teu era um desgarro meu. Sim, a mim passou-me algo assim...

ÉS TU, FILHO?

Sentia-me inquieto
e fui para casa!....
Mas porque fui embora
Se ainda era tão cedo?
Um desgarro profundo
Fez-me estremecer.
Uma profunda melancolia
invadiu todo o meu ser.
Ao chegar a casa
A noticia esperava-me.
Aquele pressentimento
Era a crua realidade.
Não podia aceitar
Uma noticia assim
Partia sorrateiramente
Sem dizer-me adeus,
onde está esse beijo?
E aquela frase comovente
És tu, filho?

Um grande abraço