Sunday, January 31, 2010
Sol de Inverno
não fui à missa das onze
nem a outra qualquer
recolhi-me no meu santuário
imaginário
e rezei ou nem sequer
isso, não é rezar
andar
pelo jardim
olhar
assim
espantada
cada árvore estilizada
sem folhas sem nada
só os galhos secos mirrados
aprumados
num céu de sol
azul de inverno.
onde se recolherão os pássaros
em árvores assim pasmadas?
Sunday, January 24, 2010
Baloiço
a miúda ri ao ritmo do baloiço
para cá e para lá
houve um baloiço à beira-mar
num tempo de verão e éramos pequenas
tão pequenas que quase me esqueci
dávamos-lhe balanço com força
esticávamos as pernas os pés
atirávamos a cabeça
e os ombros para trás
e baloiça que baloiça
o baloiço subia no ar
cada vez mais alto
dávamos-lhe balanço
parecia voar
os risos erguiam-se nas gargantas
batiam-se palmas
dávamos-lhe balanço
sem descanso
pernas esticadas
cabeça para trás
e muitos risos
subíamos alto
mais alto
do outro lado da barra
víamos o mar.
o pai empurra o baloiço
da miúda dá-lhe balanço
talvez um dia procure
sozinha alcançar lá do alto
o mar...
Sunday, January 17, 2010
Lar, doce lar
velhas e velhos
numa casa
arrumados
em frente
à televisão
chamam-lhes lares
a essas casas
onde as velhas e os velhos
inquinado o tempo
numa volta da vida
se arrumam
encurralados
à espera de vez
há uma lista
de nomes escritos
nuns papéis amarrotados
na (des)esperança de ocupar
o lugar
do passageiro que partir
primeiro
é uma sala de espera
onde aguardam
muito arrumados
a chamada
para o último comboio.
Wednesday, January 13, 2010
Caminhos
Saturday, January 02, 2010
Douro
choravam as lajes de xisto,
tristejavam cinzento as videiras
ajoujadas nas terras
roubadas à pedra,
o douro desatinava
em sangue de barro
entre as penedias,
verdes, as oliveiras
orlavam os socalcos,
a água descia nas levadas,
escorria dos montes
numa invernia sem nome,
um copo de vinho
sobre a toalha branca de linho
descobria sabores antigos
arrancados à profundeza
da história dos homens.
tristejavam cinzento as videiras
ajoujadas nas terras
roubadas à pedra,
o douro desatinava
em sangue de barro
entre as penedias,
verdes, as oliveiras
orlavam os socalcos,
a água descia nas levadas,
escorria dos montes
numa invernia sem nome,
um copo de vinho
sobre a toalha branca de linho
descobria sabores antigos
arrancados à profundeza
da história dos homens.
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