Thursday, April 24, 2008

Com sabor a chuva

Pus-me a contar os riscos da chuva
a bater nos vidros da janela
até formar uma corrente
descendente…

olhei para lá do verde e do longe
e dei comigo na terra da infância
qual proust a provar a madalena
recupero o sabor desafiante
do pão centeio com travo escuro
numa terra de arribas de um belo horrível
onde nas escarpas ainda vivem águias
e onde no remanso do rio cresciam laranjeiras
e as laranjas sabiam a mel e a sossego
e fazia frio um frio tão nítido
que ainda hoje se instala em mim
a cada Inverno que passa
numa terra em que o frio era tão branco
que nunca mais vi um branco igual
à brancura daquela neve intacta…


e quando o sol voltar a terra vai mudar
e chega-me um mar de recordações
com cheiro a maresia que entra na barra
e percorre a baía –concha
e sobe dos canteiros o perfume
a ervilhas de cheiro coloridas
e eu tenho tranças…

Parou de chover!

Wednesday, April 16, 2008

Desencontros















..............................................
................................................

Um galo desatinado

sem desafio

canta a horas extemporâneas

e os pardalitos pequenos


riem aos saltinhos

dos amores desperfeitos

pela paixão da chuva!



Thursday, April 10, 2008

Antes da chuva


Antes da chuva

a árvore

vestiu-se de noiva

com saudades

da neve!

Saturday, April 05, 2008

Um ninho


uma árvore
aninha nos seus braços fortes
uns rebentos frágilmente verdes
e vela por eles
como se fossem pássaros...

Thursday, April 03, 2008

manhã

manhã ensolarada subindo as escadas des-coor-de-na-das ninguém nas vielas sozinhas o chão granitado em lajes frias jovens esboçam janelas sentados nas escadinhas da Sé o caminho vazio no café dois dedos de conversa o mundo parece parado e o sol tão macio...