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talvez seja isto a paz!
estes momentos:
o vento vagaroso
empurrando
as nuvens cinzentas,
a chuva caindo cantando
sobre folhas, trevos,
rosmaninhos e rosas,
as almas dos poetas
pairam sobre a terra.


tardes de maio
com sabor a trigo verde
ondulante
ao vento.
tardes de maio
com sabor a mar
a barca entra na vaga
um abraço de amantes...

Cortem-me estas amarras
que me pesam
me prendem
a pesadelos e demónios
a vaguear na escuridão
das noites negras:
nem as cigarras
posso ouvir
nem sei colher
o pequeno malmequer
do outro lado
do arame farpado
com este aperto
no peito que me tolhe;
enquanto caminho
a destropeçar de pedra
em pedra,
sinto uns passos,
volto-me de repente,
vejo-me sombra
da minha sombra,
um restolhar de folhas
mais nada nem ninguém...

Chego de manhã
à varanda
espreito a terra
a planta a rasgar
o torrão escuro
sobe devagarzinho
em direcção ao céu
ao sol às estrelas
cada dia cresce
mais um bocadinho
agora desvenda
a cor da flor
mantém-se ainda
escondida num véu
amanhã talvez
talvez o milagre
e a flor rasga
lentamente
o fino tecido
sai uma pétala
do invólucro
como uma pena
de pintainho amarelo
como uma asa
de borboleta
amanhã talvez...
à noite voltei atrás
antes de me ir deitar
fui espiar
a flor à varanda:
às escondidas
nas hastes compridas
surgira
esbelta e vaidosa
uma flor esplendorosa
sob as estrelas...
abro o coração
recolho o milagre
e a voz da cotovia
e, com a alegria
na alma, sonho!