Sunday, November 30, 2008

Saturday, November 29, 2008

Neve...

A noite ficou queda, muito quieta ,
em espera, sonolenta e alerta,
para lá das janelas fechadas,
as ruas secas, geladas,
um instante, uma brisa
da serra, uma estrela breve,
devagarinho desliza
sobre a terra, cai a neve
sem talvez!...



Friday, November 28, 2008

Talvez a neve...

Um bando de pardais
perfiladitos no muro...
veio o vento frio e duro
e todos partiram sem mais
endiabrados em gritaria absurda...
as pombas desorientadas
procuram migalhas espalhadas
às voltas no chão cinzento
de pedra, o céu pardacento
anunciando neve ...
talvez...

Tuesday, November 11, 2008

Eu decido - parte II




Quero escolher a hora
de partir numa manhã
com cheiro a tílias,
não quero trazer pó
nas solas dos sapatos,
bato com força os pés,
a desfazer o triste nó
que trazia em mim
nesta cena de fim,
levanto a cabeça,
como sempre,
insubmissa, decidida
para seguir a vida
sem olhar
nem uma vez
para trás…

… as tílias seguirão
junto ao portão
como é habitual,
do lado de fora…
… como eu,
e, contudo…
… apesar de tudo,
sempre vivas
e verticais …
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Estes três mais recentes posts eu dedico:
Aos colegas que na minha Escola e noutras se têm aposentado, muitas vezes, antecipadamente nestes últimos anos;
em particular, às colegas do Departamento de Línguas da Escola Básica dos 2º e 3º ciclos de Santa Clara da Guarda;
e ainda, mais particularmente, aos que foram professores/as da minha filha ( uma delas recebeu o "recado" da aposentação hoje e estava de lágrimas nos olhos ... ) .
Aos meus alunos de 36 anos - da Escola Preparatória Silva Gaio, Coimbra; Escola Preparatória de Anadia; Escola Preparatória General João de Almeida, posteriormente, Escola Preparatória da Guarda, actualmente, Escola Básica dos 2º e 3º ciclos de Santa Clara da Guarda

Intermezzo

( a Biblioteca
mudou de lugar
alguém descobriu
que os livros
da última estante
- principalmente!-
paravam um instante
de contar histórias
e dizer palavras
para namorar
as tílias paradas
ao fundo do portão…
agora as últimas folhas
rumorejam cem cessar
segredos de amores
e saudades..)

Eu decido - parte I


pois quero ser eu
a escolher a hora
da partida,

quero uma manhã serena
com vontade imensa
um desejo intenso
de fazer gazeta,
ir até ao parque
declamar por inteiro
a Nau Catrineta:
o afoito marinheiro
sobe ao tope real
num banco de pedra,
afirma-se bem:
vê terras de Espanha
e areias de Portugal,

imagina-se uma Infanta
com três filhas à espera
debaixo de plátanos
de um fingido laranjal,

e, Garrinchas, pelo Natal,
inventa uma consoada
pueril e abençoada,
no cimo da colina nevada,
junto à ermida solitária,
não se abre a montanha
à voz de “abre-te, Sésamo”,
mas a imaginação pode tudo
e os montes, num murmúrio,
desvendam lendas e fábulas,
e, nos vinhedos, uma mãe
faz a trança à filha,
muitas lembranças boas
( lembranças más,
quem as quer agitar
neste momento?)
dispersas pelas paredes
que atravessam as portas
e partem soltas, livres, à toa
pelas encostas perto da torre
num castelo de antigamente,
nem Ítaca, nem Tróia,
nem descida ao Inferno,
nem impiedoso Inverno,
apenas outro caminho,
apenas outras viagens,
novas encruzilhadas…