Wednesday, May 25, 2016

Viciei-me



Viciei-me em ti
Os teus pensamentos
Adivinho
As tuas frases
Termino
Os teus desejos
Prevejo
Antevejo
Cada beijo
As tuas mãos
No meu rosto
O calor no corpo
O sol de Agosto
As tuas memórias
Por instinto
Pressinto
Os teus abraços
A ansiedade
Da tua face os traços
As rugas da idade
Conheço
As tuas insónias
E contradições
As divagações
Nocturnas
Adormeço
As inquietações
Soturnas
Esqueces-te de ti
Esqueço-me de mim
Entrego-me
Acolhes-me
Afastas
De mim cada sombra
Que assoma
Acalmas
As minhas dores
Os anjos vingadores
Suavizas os meus delírios
Com rosas e lírios.
É o arco-íris, a promessa
Da paixão que começa,
É a cerejeira em flor,
Da laranja o sabor,
É talvez o amor!

in
Jardim de Palavras, 2ª Antologia Poética, Orquídea Edições

Wednesday, May 04, 2016

Não te conheci quando te vi a primeira vez



Não te conheci quando te vi a primeira vez:
O destino desatinado lançava os dados
e jogava  descaradamente à cabra-cega.
Sempre que te via não me apercebia
Dos fios do novelo, trocados, enredados
 Em cada dia como uma cegarrega.
O tempo seguia marcado nos ponteiros
De um relógio desatinado numa altivez
Desconcertante, os nossos encontros adiados.
Aquela noite, abraçámo-nos, numa dança inesperada,
A música louca enchia o espaço, mas não se ouvia
Nem se via o mundo, só sabia de ti, sem saber nada.
Não podia deixar-te, não respirava sem a tua presença,
Sem os teus abraços, afogava-me em mim.
Escrevias bilhetinhos com as flores e os beijos feiticeiros
Murmuravas cenários de utopia e crescia a crença
De um abismo salvador, a minha boca na tua enfim
A tua pele na minha pele sem fundo sem fim
Uma procura que terminava ali começava ali
As voltas, reviravoltas, espero por ti, vou fugir,
Tu vens, tu partes, voltas e não sabes, não sei se ir
Se ficar, sem mim, nada sabes, não sei nada, sem ti.
Tentámos os demónios, caímos em tentações,
Aliciámos os anjos, pecámos, unimos os corações
Tardámos séculos até encontrar o momento certo
Perdemos tempo, chegámos a tempo, tão perto.
Ainda dói a espera; apodera-se de mim, ao acordar,
 Junto a ti, um sereno sobressalto: deixa essa música tocar!

 in
PERDIDAMENTE
Antologia Poetas Lusófonos Contemporâneos
Colectânea de vários autores
Editora Pastelaria Studios