Sunday, July 21, 2013

Saudades




O calor intenso a canícula o cérebro parado o pensamento quieto o corpo inquieto revivem os espíritos dos meus mortos
sento-me nas escadas gastas em frente ao velho portão e espero a levada que há-de chegar em cachão terroso antes do meu avô que surge quase ao mesmo tempo chapéu de palha na cabeça e sachola ao ombro 
límpida a água depois as garotas de vestido fresco a brincar no líquido refrescante ao fim da tarde a mãe a ralhar que ainda se constipam 
a avó de lenço a cobrir os cabelos a fingir que ralha sai lá da cozinha térrea a enxugar as mãos
o calor tem outro sabor
os corpos frescos os pés nus os degraus gastos em frente ao portão antigo e as lágrimas a doerem das saudades