Uma vez era um ninho de amor e vida;
outro tempo, a noite chegou, escondida,
os homens desertaram, as aves fugiram;
dia a dia, as paredes murcharam e caíram
como folhas mortas num outono triste;
em cada pedra seca, o velho umbral,
à entrada da antiga porta, resiste;
o céu acomodou-se a esta moldura
improvisada, terna e intemporal;
passaram tempos e marés,
veio o império soberbo do betão,
arrancou árvores, tapou o sol,
escondeu o azul, cortou o coração:
e, agora, ao passar o umbral pasmado
daquela antiga porta, a parede crua
roubou a alma do lugar e do passado;
descubro, ainda alta, no azul-noite, a lua!
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