Tuesday, November 28, 2006

Virtual

Meto-me aqui no cantinho do computador, bem acomodada e entro no mundo virtual. Abro a caixa do correio ( as caixas do correio) e irrito-me quando a encontro cheia de publicidade e fico contente com muitas mensagens, tal e qual como quando abro a caixa de correio normal verde antes de subir as escadas. Sigo para a Biblioteca, para o Arquivo ou passo pelo quiosque dos jornais para ler, pelo menos, os títulos da primeira página. Visito as palavras e as músicas deixadas por umas tantas pessoas nos seus blogues. Assim como quem entra no café a fazer uma saudação, sem sair de casa. Vejo as montras e vou às compras. Mas do que eu gosto mesmo muito é de estar aqui neste sossego e ver chegar pelo canto do olho um quadradinho que sobe pelo ecrã do computador , aqui mesmo do meu lado direito, um quadradinho com uma figurinha que pode ser um cão, um grito ( o do Munch) , um vaso de girassóis, uma mãozinha cheiinha de pulseiras, uma foto… Por vezes, entra-me em casa uma pessoa feliz por me encontrar, outras vezes, chamam-me aos berros para eu as ver, outras vezes, chegam de mansinho, pé ante pé para me pregarem um susto… e pomos a conversa em dia, fácil e rapidamente. Rimos e enervamo-nos e protestamos, escrevemos e , sobretudo, rimos muito. Espantamos as pessoas ao nosso lado, no sofá, a ver televisão que, antes de perceber os motivos das gargalhadas, achavam que estávamos mesmo a endoidar. O caso não era para menos, com tantas novidades de pôr os cabelos em pé, em particular na nossa vida profissional. Mas agora já esclarecidas, sabem que nos entrou pela casa dentro alguém que não está visível. Presente e invisível. Quem haveria de dizer?!!!
Claro que nada disto substitui as viagens reais aos lugares verdadeiros com pessoas de carne e osso. Mas aconchega o coração.

Monday, November 27, 2006

807º aniversário ...




807º aniversário da atribuição do Foral à cidade da Guarda... por D. Sancho I.

Eu prefiro lembrar o Rei Poeta:


Ay eu coitada! – Como vivo,

en gran cuidado por meu amigo

que ei alongado. Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!


Ay eu coitada! Como vivo

En gran desejo por meu amigo

que tarda, e non vejo! – Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!

Tuesday, November 21, 2006

Fantasmas

Foto: Ciudad Rodrigo ( Espanha) , domingo, 19/11/2006, Plaza Mayor, onde acontece Teatro Medieval todos os sábados e domingos.


Acabrunhada sob uma carapaça de nevoeiro passa a manhã, de lado para lado, sem poiso nem destino.

Descendo, subindo escadas, entrando, saindo portas, conversas destoam, repetidas, massacrantes, entediantes.

Numa feira de gentes insatisfeitas, mas acomodadas, obedientes, fechadas atrás de fachadas, quietas, olhos encolhem-se, atrás de cortinas imaginárias, opacas, medrosas.

Vozes rasteirinhas, melífluas, envenenam o ar fumarento empurrado pelo vento frio.

Branco-sombra, o nevoeiro entranha-se nos ossos das pessoas pequeninas, minúsculas, envoltas num halo de fantasmas.

Marca o tempo uma canção velha, dentro da cabeça, para cá e para lá, a (des)compasso sem ritmo nem letra, numa cadeira de baloiço despropositada.

Janelas de bocas abertas, escancaradas, portas desgarradas, sem trancas, abrem-se no caminho dos céus, numa vertigem de vidas antigas, engolidas na voragem passageira dos séculos.

Arrastam-se os pés no lajedo escorregadio, acorrentados aos passos.

As luzes, embaciadas de chuvinha lacrimosa, afastam-se até ao invisível.

Na varanda-marquise, cora de vergonha uma flor despudorada de uma sardinheira.

Sunday, November 19, 2006

Às voltas nas voltas da vida




Fazia-se uma viagem de comboio para fins de semana familiares e levava-se uma amiga. Desta vez, a Isabel H. Passeámos por Ciudad Rodrigo de máquina fotográfica em punho e, com o folheto turístico na mão, tardámos em compreender, depois de cirandarmos à volta da Catedral voltas sem conta, que uma porta importante a observar se encontrava pelo lado de dentro de uma entrada. Por essa altura, já o cansaço e a sede se tinha apoderado de nós. Nenhuma se lembra já do pórtico, mas eu não esqueci essa tarde de Verão, as gargalhadas fáceis e a camaradagem.

"Cortaram o Outono aos pedaços"


Eram jovens, tinham sonhos.
Estavam apaixonados e o coração expandia-se em ilusões, solidariedades várias.
Eram jovens e estavam apaixonados. Por seus amores, pelos amigos, pelas ideias, pelo sol e pelo céu. Era possível alcançar a Lua. Marte e Vénus planetas atingíveis.
Tinham sonhos. Todos possíveis. Urgentes.
Estavam apaixonados. Por risos, pela juventude, pelas crianças, pelos velhos.
Era Coimbra dos amores de Pedro e Inês.
O André, também apaixonado, escreveu um dia: “ Esta tarde cortaram o Outono aos pedaços”.

Saturday, November 18, 2006

Ainda "o monstro" leia-se TLBES leia-se Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário leia-se terminologia de uma experiência linguística

Ler com atenção:

1. " Ainda o monstro" , da autoria de Helena Matos in " Público" de 18/11/2006

2. http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDMateriaisDidacticos/trabalhos/90_Lusiadas_3C.ppt

- ver para crer -

indicação esta que me chegou via a minha amiga Soledade http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/ , este blogue digno de se ler pela sensibilidade e alma de poetisa ( eu uso o feminino de poeta sem lhe retirar competência) e pelo belo poema e música do post de 15/11/2006, LELIADOURA. (Parafraseando um outro poema cantado "onde andarão os poetas galegos e portugueses de agora"?)

Nota: esta pista - poema e música - poderá servir de inspiração a um músico professor português ( e de Português) que fala espanhol e francês , homem sem fronteiras e sábio como poucos ...

e a uma "vareira" musical de Espinho, de nome "é do nosso mar " sita em http://vareira.blogspot.com/ com cheirinho a maresia, a poemas e música...

... e ainda à mana do meio , se ainda puder dar nas suas aulas um sopro da poesia trovadoresca, com o dinamismo e o sentimento que lhe conheço. .. a não ser que tenha que se (des)gastar com a TLEBS!!!

Thursday, November 16, 2006

Manias


Tinha uma mania . Sempre tive esta mania. Agora menos, mas, de vez em quando , descuido-me e trás! ponho-a em prática. Quase nunca dá bom resultado. Mas que eu fico bem comigo mesma, isso fico. Tinha uma mania: dizia tudo o que me vinha à cabeça. Com o coração ao pé da boca. Era um aborrecimento. Não para mim, para quem ouvia, ninguém gostava, acho que ainda ninguém gosta de ouvir as opiniões francas e abertas. Quanto mais à vontade me sentia, mais sinceridades me saíam, muitas vezes, em forma de ironia, que ninguém percebia. E o que podia ser uma amena cavaqueira transformava-se num digladiar de argumentos que me esgotava, porque nem sequer davam às minhas palavras o sentido que eu lhes atribuía, inventavam segundos, terceiros, quartos, quintos e sextos sentidos que eu até ficava siderada. pensava eu, com uma ingenuidade impressionante que, se explicasse tudo tim-tim por tim-tim muito bem explicadinho ( deformação profissional) , tanto malentendido se esclarecia. Puro engano. Arranjava um sarilho ainda maior. Então, com o tempo passante, fui-me vigiando, fui vigiando as palavras, escondendo opiniões, remetendo-me ao silêncio, no meu canto, observando, pensando mil vezes antes de falar. Puxava-me a minha filha o braço, como se faz às crianças pequenas ou dá uma entoação à voz de doce raspanete, a dizer-me que não ganho juízo. Às vezes, baixo a guarda e, antes de contar até mil, lá pela octingentésima septuagésima quinta vez, falo. Rápida. Contundente. Rotunda. Detestam-me, mas calo logo as pessoas. Da surpresa. Depois , rio-me comigo própria. Por não ter juízo nenhum, meto-me nisto como uma brincadeira de crianças. Remeto-me outra vez ao silêncio. Durante muito tempo. Exercito as minhas piadas com a minha filha, com a minha irmã do meio... com algumas pessoas perspicazes. Muito de vez em quando, volto à carga, esqueço-me. Falo. Rotunda ( palavra que, além de significar, por exemplo, sendo substantivo feminino, construção de forma circular, também significa decisivo, categórico, empregado como adjectivo... explico, por via das dúvidas... não sei é se o nome " rotunda" é animado ou não animado...porque os carros à sua volta circulam sem cessar que é uma animação pegada, sobretudo em horas de ponta!!!). Irónica. Mas acrescento a correr, ao ver as caras de espanto: "estou a brincar" e sorrio , um sorriso pateta, por ter que explicar uma frase irónica , tão evidente para mim. E dou comigo a pensar que afinal , ultimamente, tenho repetido vezes sem conta que "estou a brincar". Ando a repetir-me muitas vezes. Não sei se me cale de vez, se me deixe de ironias. Mas a ironia é estética e usada por pessoas inteligentes. Então, talvez, digo talvez, continue a falar. Devagarinho. Baixinho. De vez em quando. Com ironia. E , se ninguém entender, falo para as pedras. O outro não falava para os peixinhos?

Saturday, November 11, 2006

Assim vão as obras do "Pólis" (Rio Diz - S. Miguel, Guarda)







Este é o painel/relógio famoso e estético , a marcar 80 segundos para o final da obra. ( Já nem se pode viver sem ele.)
Estas são algumas das obras que vão demorar 80 segundos a terminar... desde há não sei quantos meses, mais de um ano seguramente.
Este é o arco-suporte muito elegante e fantástico de uma ponte pedonal que há-de ficar encarrapitada sobre aquele. Não se sabe quando . Logo que acabem as obras, eu aviso.
Atenção: os adjectivos a qualificar o relógio e o arco são ironia pura... Esclareço, não vá alguém menos avisado achar que eu estava a usá-los no seu sentido literal. É que há gente para tudo!!!

Não fui eu que disse... "o monstro chama-se TLEBS." Mas tenho pena de não me ter lembrado disso.

« O monstro chama-se TLEBS. Para memória futura convém defini-lo desde já como o maior contributo dado por Portugal para a iliteracia das gerações futuras.»
Helena Matos, in "Público" de 11 /11/2006

Friday, November 10, 2006

A Primavera está a chegar???


Outono com cara de primavera.
Céu azul com nuvens esfarrapadas e formas bizarras.
Nem o cheirinho apetitoso das castanhas,
nem uma aragenzinha fresca no rosto,
só greves a desgosto...

Thursday, November 09, 2006

Wednesday, November 08, 2006

Telepatia

Fomos numa viagem-relâmpago ao Porto ver a Mãe. No caminho, disponível de espírito e do olhar, entremeadas as conversas e os pensamentos, pensei enviar uma mensagem. Nos segundos seguintes, toca o telemóvel. O nome no visor surgiu telepático e intermitente. Atendi , ouvi a voz e fiquei tão pasmada que a minha própria voz saía arrastada de incredulidade. Já me aconteceu, várias vezes, um pensamento assim, que se concretiza a seguir, sem que eu faça nada... mas reajo sempre da mesma maneira. Pasmada. Já nos encontramos no "messenger" em vez de trocarmos telefonemas, cartas ou irmos até ao café, mas estas experiências, embora me tragam quase sempre alegrias, mexem comigo, e ainda estremeço de certas coincidências escritas sabe-se lá em que patamar das nossas vidas. Ainda por cima, sem bateria, ficámos a meio da gargalhada e da ocorrência do dia, do reconhecimento de que a internet é mesmo uma grande estrada, é imparável e é incontrolável. Para o bem e para o mal, como todo e qualquer invento, funciona.
A Mãe lá estava, débil e queixosa, no cantinho do seu sofá, estremeceu-lhe a voz, quando nos viu. Animou-se e conversou. Destes dias. Doutros dias. De dias de há muito. O Pai enlaça as peripécias da sua vida construindo redes de estórias e episódios infindáveis, como se nunca tivéssemos saído de junto dele, na mesma cadência entusiasmada com que as viveu. Agora pensa que precisava de ter dinheiro para contratar uma secretária e conseguir escrever tanta vida.
Rumo à auto-estrada, erguia-se lá para os lados de Espinho, para as bandas do mar, um sol vermelho-cereja, enorme sol-poente redondo impressionante riscado de umas nuvens cinza-escuras. Sem hipótese de o fotografar, abandonei-me ao deslumbramento do fim de tarde naquele quadro impressionante, afastando-me na velocidade dos 120. A noite ainda nos apanhou no caminho.

Tuesday, November 07, 2006

Portugal


Portugal
à luz da TLEBS ( "nova"??? Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário)
nome próprio
não animado
não humano


Eis a verdade na Gramática!!!

Saturday, November 04, 2006

A Minha Mãe


Penso muitas vezes na minha Mãe, em particular, quando ela está doente. Não penso nela velhinha, sentada no seu sofá ao cantinho da sala ou à porta à espreita de quem parte e de quem chega. Penso na mulher de vinte anos da foto, provavelmente a primeira foto que ela tirou. Vinte anos de uma beleza entre serena e altiva, como uma princesa, rosto de uma beleza sã e escorreita. Apenas lavado com água da fonte. Cabelo penteado para trás, com umas ondinhas e apanhado, na nuca, com uma rede. E uns brincos-lágrima nas orelhas.
Penso na mulher da foto. Saiu da casa na aldeia perdida no Douro e andou por terras que ela nem imaginaria que existiam. Nasci eu e assim ficámos ligadas para toda a vida.
Penso na mulher da foto. Na severidade e distância que a separavam de nós. Fruto da responsabilidade. Vejo agora que esse rigor derivava da juventude e da educação. Às vezes, andava bem disposta, outras vezes pesava-lhe, com certeza, o aborrecimento e a solidão. As tarefas repetidas todos e cada dia. As refeições, a roupa, a casa. Andar de terra em terra. Fazia amigos hoje e amanhã tinha que se despedir deles… E a casa, a roupa , as refeições. O marido e as filhas, a partir de certa altura, iam e vinham ao sabor dos horários do trabalho e da Escola para almoçar e para se meterem nos quartos a estudar e a ter conversas de meninas, risadas de jovens e para voltarem a sentar-se à mesa à hora do jantar. Quando a queriam meter nas conversas, já ela se tinha ensimesmado, farta de cumprir os horários dos outros. Estava sempre ali. A qualquer hora, quando saíamos e quando entrávamos em casa. Ria , às vezes, outras vezes, receava o eco das gargalhadas. Proibia a felicidade, sem mais nem menos. Se calhar, quando as circunstâncias afastaram o marido de casa, culpou-nos por não ter consigo o seu companheiro. Outras vezes, esses afastamentos temporários, davam-lhe outro ânimo, outro poder de decisão e tudo corria às mil maravilhas.
Penso na mulher da foto. Eu nunca quis aprender com ela a costura, os bordados e o croché. Escapava-me sempre, porque não me sentia com grande habilidade e não queria zangar-me com ela, sempre a corrigir qualquer veleidade em qualquer andança. A minha mana do meio sentava-se com ela no quartinho de costura e passavam horas naquilo de coser e fazer roupa e ainda hoje esta mantém essas inclinações manuais, que executa, se se dispuser a isso.
Penso na mulher da foto. Era aquela a vida que ela quis viver? Que mistérios guardarão os seus pensamentos? As suas memórias? Que pensará de nós? Guardará alguma boa lembrança? Ou continua a julgar-nos com rigor e altivez? Saberá que me lembro daquele dia de rigoroso Inverno em Lagoaça? Tinha eu nove anos, fui levar o almoço ao meu pai, que andava com uns amigos a cortar um castanheiro para lenha. A neve cobria os caminhos. Já a ida me custara imenso, parecera-me longe, muito longe. À vinda , o frio atrofiara-me o pensamento. Só queria chegar a casa. O caminho alongava-se, interminável. Já não sentia as mãos. Os pés moviam-se maquinalmente. Apetecia-me chorar. A porta de casa não se aproximava nem por nada. Quando a minha Mãe me abriu a porta, chorei que nem uma desalmada. A minha mãe levou-me para junto da lareira. Pegou numa fralda da minha irmã pequenina, aqueceu-a e colocou-a sobre as minhas mãos, repetidamente até que o sangue começou a afluir de novo àqueles dedos pequeninos. Isso aconteceu porque ela estava sempre lá.
Muitos anos mais tarde, era Verão e eu acabara de saber o resultado do último exame da Faculdade. Estávamos as duas com a minha irmã mais nova, à porta do Liceu Infanta D. Maria. A minha irmã chegou radiante do último exame do Liceu. Guardei esse momento de sol e comunhão. Será que ela o viveu como eu? Mas vivemo-lo juntas porque ela estava sempre lá.
Penso na mulher da foto. Olho para as mãos da minha Mãe, com os ossos todos torcidos. E lembro-me dela agarrada àquele tanque a lavar a roupa. De Verão e de Inverno.
Assalta-me uma sensação estranha, quando penso que ela bem nos poderia ter dito que gostava de nós. As pessoas precisam de ouvir as palavras. Se calhar , a ela também nunca ninguém lhe tinha falado dessa necessidade. Pensaria que só era importante ter a comida na mesa, a casa limpa e a roupa lavada.
Se calhar, bastou-nos que ela estivesse sempre lá, como ainda hoje, quando chegamos a casa. Se calhar…
Um dia , houve o acidente de comboio. Quebrou-se-lhe o brilho e a postura de princesa. Nunca mais foi a mesma. Mas essa época , já a vivi de longe, escapou-se-me entre as pregas da vida.
Tocamos à campainha e ela está sempre lá.
Penso na mulher da foto. Parece mentira, mas é a minha Mãe.
Que pensará de mim a minha filha , se eu chegar a ser velhinha?

Wednesday, November 01, 2006

150 anos dos Caminhos de Ferro






















Os 150 anos dos Caminhos de Ferro em Portugal trouxeram-me à memória as minhas viagens de comboio. A automotora vermelha e branca de S. Martinho do Porto, as deslocações das férias grandes de qualquer sítio onde nos encontrávamos até Aregos ou Mirão ou Ermida, e regresso, com o ritual da contagem dos volumes todos não sei quantas vezes pelos meus pais. As viagens de um lado para o outro, traçado no nosso itinerário de vida. Os volumes eram as seiras, as cestas, as malas e as crianças, nós próprias, primeiro duas e , depois, três. Os volumes tinham vida própria , além de serem contados e recontados como soldados nas estações e , posteriormente, já dentro das carruagens. A minha mãe entrava primeiro com as crianças e o meu pai, do cais, passava-lhe pela janela grande, larga, escancarada os volumes todos um a um. Agora não se podia ter feito isso, que são todas superfechadas. Só depois , entrava ele, numa confusão de vozes, gestos e gritos no meio da Estação, espectáculo digno de ser visto. E a viagem começava, continuava até ao destino envolta em mil e uma peripécias.

As crianças cresceram e andaram em outras viagens.
Onde estavam elas há cinco anos?